Capítulo 4: O Reflexo da Verdade

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A noite já havia se vestido de silêncio quando Clara Winterbourne decidiu que era hora de deixar o tabuleiro de xadrez social que havia dominado com tanta astúcia. As confissões, embora satisfatórias, não eram o fim de seu deleite, mas sim o início de um jogo muito mais perigoso. As sombras se agarravam às paredes do grande salão como se fossem segredos tentando escapar para a escuridão, e Clara sentia cada sussurro da noite pulsando em sintonia com seus próprios desejos ocultos.

A lua, um pálido espectador através das janelas altas, lançava um brilho prateado sobre seu rosto, iluminando seu semblante de boneca com olhos de vidro que nada revelavam. Edward a observava de longe, seu olhar uma mescla de admiração e receio. Clara sabia que ele era diferente, talvez o único ali que poderia ver além das camadas que ela usava como armadura.

"Você não deveria andar sozinha à noite," Edward disse, aproximando-se dela enquanto Clara se dirigia à saída.

Clara parou e virou-se para ele, um leve sorriso brincando em seus lábios. "O escuro não me assusta, Edward. Às vezes, é na escuridão que encontramos a verdadeira clareza."

Ele estudou seu rosto, procurando por algo além da máscara. "E o que você procura, Clara? Qual verdade é tão importante que você ousaria desvendar?"

"E se eu disser que é a verdade sobre nós mesmos, Edward? A mais difícil de enfrentar e a mais fácil de esconder?"

Edward deu um passo em direção a ela, diminuindo a distância entre seus mundos. "E você? Está pronta para enfrentar sua própria verdade?"

Ela não recuou, mantendo-se firme sob o escrutínio dele. "Eu vivo para isso," Clara retrucou, seus olhos não mostrando nada além de um abismo insondável. "Você deveria ter cuidado. Alguns de nós são verdadeiros mestres em esconder nossos monstros."

"Você acha que me assusta?" ele desafiou, o jogo entre eles tão palpável quanto o calor de suas respirações misturando-se no ar frio.

"Não," ela respondeu suavemente. "Mas talvez você deva."

O ar entre eles carregava a eletricidade de um céu prestes a desabar em tempestade, e Clara sabia que tinha mais em comum com Edward do que ele percebia. Eles eram dois lados da mesma moeda, girando no ar, esperando para ver qual face cairia voltada para cima quando tudo terminasse.

A carruagem a esperava, e ela entrou sem olhar para trás, a imagem de Edward refletida nos vidros como um fantasma de uma realidade que ela não estava certa se queria pertencer. Ela sussurrou para o motorista um endereço que era conhecido apenas por aqueles com os quais ela compartilhava uma certa afinidade no jogo de verdades e mentiras.

O veículo deslizou pela neblina, levando Clara para longe da opulência e da decadência do baile, mas não da teia intrincada que ela havia começado a tecer. No seu íntimo, Clara sorria para a noite, acolhendo o frio que era tão familiar para ela quanto o pulsar de seu próprio coração.

No fim das contas, a verdadeira pergunta permanecia: até onde Clara Winterbourne iria para ver o reflexo de sua verdade em outro? E até onde ela iria para esconder a própria verdade de si mesma?

O jogo estava apenas começando.

O som da carruagem cortava a quietude da noite como uma navalha, ritmada e intransigente. Dentro dela, Clara repassava os eventos da noite, cada confissão arrancada um fio a mais na tapeçaria de sua intricada trama. Sua mente, um vórtice de pensamentos e estratégias, não revelava nada através de sua expressão impassível. Ela tocava o vidro da janela frio com a ponta dos dedos, sentindo o frescor da noite se misturar com o calor de sua pele. Era um lembrete de que, não importa quão calorosa uma sala cheia de nobres pudesse se tornar com suas paixões e segredos, o mundo lá fora permanecia imutável em sua frieza.

O Reflexo de ClaraOnde histórias criam vida. Descubra agora