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O corredor estava em completo silêncio se não fosse pelo som de rodinhas se arrastando sob o chão. As garotas tinham acabado de chegar de viagem, ambas com duas malas, uma em cada mão. Elas abrem a porta de seu apartamento e o silêncio reina novamente sob o corredor.

Elas se conheciam desde seus 6 anos de idade. Eram consideradas irmãs, não se desgrudavam por nada. Já passava das 11:15 da noite, e elas estavam lá, jogadas em cima da enorme cama com as malas abertas em cima do colchão e seu conteúdo espalhado por todo lado.

Willa*

- não acredito que você conseguiu trazer todos esses livros nessa mala, Willa. - Kelly pega o primeiro livro que vê: "É assim que Acaba." E continua a vasculhar a mala até encontrar o primeiro livro da saga: Acotar. - olha só o que achei aqui... Mas porque comprou tudo isso se já temos na nossa estante?

- fiquei entediada de não termos levado nada para ler durante o voo de ida, e não pude deixar o mesmo erro se repetir no vôo de volta. - respondo deitada na cama, em um pulo me levanto e vou até a cozinha voltando com um vinho, duas taças e um sorriso malicioso. Entrego a taça para Kelly e volto a sentar na cama. - e o que você tem na sua mala?

- roupas, acessórios, celular e... Livros. - me engasgo em uma risada.

- você também? - pergunto e Kelly ri revirando os olhos.

- você não é a única que pode. Está com celular aí? Coloque uma música. - abro minha outra mala, a qual estava minhas roupas, meu computador, tablet e celular. Coloco a música e conforme a escutamos começamos a cantar juntas.

- eu queria estar em outro mundo agora, Willa - fala Kelly em um murmúrio.

- deixe-me adivinhar... - coloco a mão no queixo fingindo pensar - Acotar, não é mesmo?

- já imaginou? - ela deita sonhadora na cama - como seria se fossemos para lá?

- seria perigoso - falo me deitando ao seu lado - mas também incrível. Eu gostaria de ver a Quedas das estrelas um dia. - ficamos caladas imaginando, até que eu quebro o silêncio - apesar de não gostar muito do Grão-Senhor.

- há! Vai começar! - Kelly bufa e coloca os braços em baixo da cabeça.

- mas é verdade. - me defendo - ele é um péssimo Grão-Senhor! Ele não deveria deixar a Cidade Escavada e o Acampamento Illyriano daquela maneira!

- mas você gosta dele! - rebate Kelly.

- tá! Admito. Ele é bonito e carinhoso, mas só com a família e com os cidadãos de Valaris. - penso um pouco e continuo - eu gosto dele. Só não acho certo algumas de suas atitudes. Mas vem cá... Se fosse para você conhecer alguém deles... Qual você escolheria?

- o Beron! - faço uma careta tão horrível que Kelly se parte de dar risada - sua idiota! É claro que seria o Lucien ou o Azriel... Talvez o Tamlin também. - dou um tapa no braço dela e ela resmunga - tô brincando! Mas e você? Qual seria?

- o Eris, queria saber se ele é tão ruim assim, o Azriel, o Helior, Cassian, Nestha, Amren, Rysand...

- assim não vale! - ela me enterrompe - tem que ser apenas um!

- então esqueça. É impossível escolher apenas um.

E assim nós passamos o resto da noite conversando, lendo, escutando música, e bebendo vinho. Quando já eram 02: 12, arrumamos a bagunça da cama guardando tudo nas malas e dormimos.

*

Kelly*

Meus olhos estavam doendo com a claridade mesmo que eles estejam fechados. Me forço a abri-los. Pisco uma, duas... três vezes e grito. Estamos deitadas no chão, com árvores para todos os lados. Uma floresta. Dou um pulo e tento acordar Willa que resmunga comigo me mandando calar a boca.

- se levanta! Nós estamos ferradas! - eu estava estética, ao invés de falar eu gritava.

- qual é a sua!? Não precisamos acordar cedo hoje! Me deixa dormir! - ela senta no chão e sua espressão de raiva passa para choque ao se der conta de onde estamos. Ela se levanta meio cambaleando e eu a ajudo, mesmo não estando melhor que ela - mas que porra é essa!? A onde estamos?

- eu não sei! Eu acordei e já estamos aqui!

Ela olha ao redor e vê nossas malas, ela se agacha e as abre.

- está tudo aqui. Verifique a sua. - faço o que ela mandou e acinto. Estava tudo ali. Nada foi roubado. Com essa confirmação Willa ri. Ri alto que me deixa assustada.

- você está bem? - tenho até medo da resposta. E se o susto foi muito grande que a deixou com uns parafusos a menos? - por que está rindo?

- você não vê? - ela finalmente para de rir e me esclarece - fomos nós. Só pode. Não faz sentido termos sido sequestradas porque deixaram nossas coisas intactas. Não levaram nada. Então só sobra uma conclusão lógica: estamos tão bêbadas que saímos por aí e acabamos aqui. Na floresta. No meio de nada.

- acha que fomos nós? - falo exasperada.

- não é impossível. Nós mesmo sãs fazemos coisas questionáveis, imagine bêbadas. - até que faz sentido. E assim que ela vê que entendi sua lógica ela continua - agora só falta buscarmos um sinal no celular para ver nossa localização e irmos para cas...

Ela não consegue terminar a frase quando do nada pessoas aparecem na nossa frente. Arregalo os olhos e aponto para atrás de Willa. Ela se vira tendo a mesma visão que a minha e cambalea para trás, caindo sentada.

- mas o que... - ela murmura baixo e desmaia.

É impossível. São eles. São idênticos a eles. Acotar. E com esse pensamento desabo no chão.

*






Corte de duas Irmãs.Onde histórias criam vida. Descubra agora