Esther, uma garota de 16 anos mora com a sua irmã mais nova, Alice de 8 anos e a sua mãe, Fernanda.
Após sete anos da morte de seu pai, sua mãe decide mudar para uma cidadezinha para conseguir trabalhar um pouco menos e passar tempo com as filha...
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Arthur.
O desespero toma conta de mim, me obrigo a ser mais forte do que qualquer coisa que tente me jogar para trás, para longe dela.
Sinto uma dor angustiante, e tenho certeza de que se a situação fosse diferente, estaria me contorcendo de dor. Mas não tenho tempo para isso, preciso salvá-la, preciso saber que ela estará em meus braços, segura e longe de tudo isso.
Luto contra o sangue, tentando nadar enquanto respiro de vagar, ignorando a dor em meu corpo.
E então algo — que me parecem garras extremamente afiadas — corta todos os pontos em meu corpo. Eu grito apertando o corte aberto, sentindo a morte perto de mim.
Ela parece gostar de brincar. Será que é uma masoquista? Não é hora de piadas, Arthur. Respiro fundo e volto a minha atenção a ela, ignorando toda a dor e o sangue se saí de mim e o que se encontra alagando o chão.
A dor de perdê-la seria muito maior do que a de um corte qualquer.
Ao olhar para onde ela estava, não a vejo. Brado, com toda a minha força, o seu nome. Sem resposta, volto o meu olhar a sua procura.
E então sinto como se fosse atingido por uma flecha no meio do meu peito, sinto cacos de vidro se entrenharem em meu corpo todo e, principalmente, em minha garganta. As lágrimas correm em meu rosto como fogo, queimando minhas bochechas e deixando cicatrizes invisíveis aos olhos humanos, aos olhos de quem nunca entenderá a dor de não salvar o amor da sua vida, a dor de nunca lhe dizer o quanto você a ama e tudo o que você faria para tê-la por perto, que você daria a sua vida, só para vê-la feliz.
No meio do corredor, vejo as pontas de seus dedos e fios de seu lindo cabelo flutuando, enquanto o seu corpo está jogado para o fundo do sangue, sem... sem respirar.
Sem vida.
Não consigo acreditar, não quero acreditar! Grito, cada som saindo da minha alma, cada berro carregado dos fragmentos do meu coração despedaçado. Cada sentimento do meu corpo, alma, coração e seja lá o que mais podemos ter dentro de nós, morre junto com ela.
Mergulhando nas ondas de minhas lágrimas, nado até ela. Tudo o que vejo no caminho é o seu corpo imóvel.
Sinto uma dor aguda que insiste em tentar me derrubar, mas não vou desistir, mesmo sabendo que terei que nadar dois metros sangrando, provavelmente perdendo sangue demais para sobreviver. Mas não importa, a única coisa que me importa é salvá-la.
Corro, ofegando, ao ver que estou a poucos passos do seu corpo. Ao chegar até ela, mergulho, puxando o seu corpo para os meus braços.
Enxugo o rosto com as mãos, tentando evitar o cheiro e o gosto do sangue. — Vou te tirar daqui, minha rainha. Vou te trazer de volta, nem que eu tenha que colocar fogo no céu e fazer chover no inferno. — Sussurro, beijando sua testa ensanguentada.
Olho em volta e vejo que a última sala está com alguns níveis mais baixos de água.
Seguro o seu corpo com cuidado, evitando ao máximo deixar que seu rosto encoste na água. Caminho de vagar, tentando suportar a dor que se intensifica ao toque de seu corpo.
Ao chegar, arrombou a porta, o que é bastante difícil devido ao sangue. Coloco ela na mesa com muito cuidado, e por um momento me esqueço de tudo observando a leveza de seu rosto e o belo caimento de seus cabelos, mesmo embolados e ensanguentados.
Me posiciono ao lado dela, afasto seus cabelos do rosto e tampo o seu nariz, encosto minha boca na dela e sopro suavemente, mas não vejo o seu tórax voltar a posição normal. Desesperado, continuo até ficar sem ar. Paro para respirar e vejo o sangue ser elevado. A minha aflição aumenta e eu tento trazê-la de volta mais uma vez, sem sucesso.
— Por favor, Esther, não me deixe! Não me deixe minha rainha. Por favor... — Choro ao abraçá-la. — ALGUÉM ME AJUDA!!! DEUS, ME AJUDE! — Grito ao bater os punhos na mesa, a realidade agora mais assustadora do que nunca.
O sangue começa a aumentar junto ao meu desespero.
Meu mundo desabando na minha frente, o motivo de todos os meus sorrisos em tanto tempo de dor e sofrimento deitada em uma mesa, sem vida, levando consigo desse mundo não só a sua bondade e o seu carisma, mas o meu coração, minha alma, minha vida, meu mundo...
Me debruço em seu corpo e tento mais uma vez, até ficar tonto, esperando que algo aconteça.
Nada...
Grito, os berros rasgam minha garganta como cacos de vidro enquanto meu copo pega fogo por dentro e meu coração se congela de pouco a pouco.
E então Esther solta um grande suspiro e cospe o sangue com dificuldade. Me afasto, dando espaço a ela.
Ela está viva!
Sinto tudo reviver em mim enquanto ela respira por alguns segundos. O meu sorriso some rapidamente ao vê-la vomitar larvas.
— Esther? Está tudo bem? — Pergunto assustado.
Ela continua a tossir e a vomitâ-las, mas algo me impede de chegar até ela, é como se eu estivesse preso por correntes grossas e enferrujadas.
"Cuidado com o que você deseja, Arthur."
Olho em volta. O sangue para de subir.
— ESTHER?
Ela luta contra um líquido preto viscoso que tenta engasgá-la até a morte. Em suas mãos, surgem garras e o seu corpo muda de cor, ficando um tom de verde escuro e acinzentado.
Ela grita, se contorcendo de dor, ao olhar para mim, vejo seus olhos vermelhos.
A morte seria menos monstruosa.
Mas, por algum motivo, sou incapaz de sentir medo. Mesmo vendo aquele ser horripilante, sei que ela está ali dentro, sei que seu coração — o de verdade, aquele que bate por sua irmã, e não por mim — ainda está puro e cheio de bondade, ainda carrega aquela menininha que faz de tudo por quem ama.