Crisântemos.

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O badalar de sinos de uma catedral ínfima; cochichos que soam como pequenos grilos em uma noite cônvaca; um ar frígido e, apenas o ímpeto pueril de um sonho que já morrera.

Tudo isto, ainda fazia parte da rotina daquele homem que, levado por seus desejos mais íntimos, decidira sair mundo afora atrás de respostas para suas inverdades mais profundas.

"Os dias soam como o chiar de uma panela de pressão; é tão desconcertante que chega a me dar náuseas". Naquele instante, o homem pensou consigo mesmo sobre o ambiente que o rodeia. Estava sentado sobre uma calçada em uma rua de lares de baixa renda; o dia era quente. Aqui e acolá, este ouvia crianças brincando, pessoas passando com sacolas de comida e, barulho de panelas cozinhando.

Ele sentiu-se nostálgico. Lembrara que já teve momentos em que estes barulhos faziam parte de sua casa. Ainda pouco, uma moça parou em frente ao homem para dar-lhe uma esmola; "Mas não sou um mendingo, por que está distribuindo moedas em meu chapéu?", a moça constrangida, disse a ele o quão mal educado era por não agradecer por esta ajuda. O homem ainda pensava oque fazia sentado alí.

Naquele dia, havia acontecido algo díspar para o mesmo. Em uma de suas voltas pelo relvado plano e esverdeado daquela cidade, avistou uma senhora andando sem rumo. "Talvez ela queira chegar ao outro lado do desfiladeiro?"; se oferecera então a ajudar aquela senhora visivelmente a esmo. "Meu querido, por que viestes até aqui?" - disse com voz minimamente enrouquecida - "Achei que poderia ajudá-la. Este relvado insigne, tão vazio e ao mesmo tempo preenchido por estas pequenas ervas daninhas e este pequeno desfiladeiro, oque uma senhora de idade faria aqui? Não há saída que esteja perto desse lugar. Se quiseres atravessar o relvado, terá de passar ao todo, 4 dias e 4 noites para então chegar até o pequeno bosque que leva a Casta; não há por que rondar aqui. Se estiver perdida, venha comigo, levo-a de volta para a cidade." A senhora, cravou seus olhos naquele homem. - não muito velho, aparentava ter meia idade; tinha olhos caídos que estranhamente pareciam gentis. Seu cabelo dançava conforme o vento passava sobre ele, aquelas madeixas eram tão marrons quanto a casca de um carvalho; suas roupas aparentemente inacabadas, mas ele não parecia tão sujo. Certamente, ela teve motivos para olhar para ele. "Jovem moçoilo, é atencioso de sua parte vir até aqui e despojar-se a encontar para mim, um caminho de volta para lá; procuro algo que creio que seu conspecto não seria capaz de enxergar". Aquele homem, então, ainda não compreendia aquela senhora, estava a um triz de desistir e apenas deixar com que ela siga seu caminho sem mais interrupções do mesmo. Entretanto, seus pensamentos foram interrompidos com a fala daquela mulher decrépita. "Às vezes penso que talvez, só talvez, o mundo seja mais belo somente em minha perspectiva. Naqueles dias antanho, procurei procurei e não achei." - O homem vira e fixa seus olhos naquela idosa - "Oque procurou?". "Procurei desesperadamente pelo dia em que deixei de estar neste mundo com meu coração. Procurei todas as minhas lágrimas que deixei cair em vão em noites inexprimíveis; procuro minha dignidade que, por escárnio de minha alma, a perdi no meio de minha jornada cinzenta e isenta de essência em meu ser". Naquele momento, aquelas palavras ainda soavam confusas para o homem: "Isentas de mim?" Pensou ele. Não a entendo. "Ainda penso que há pluralidade em sua fala, acredito que posso compreender errado, para ser mais exato, a que a senhora se refere?". "Não encontra-te na mesma medida? Perdido neste mundo tão amplo e ausente de razão? Pessoas assim como eu, caindo aos pedaços, mas ainda com uma razão tão pueril... Isto por si só, não é motivo para sentir-te perdido?" . "Creio eu que, ainda é desnecessário coexistir em um mundo ainda sem sentido. Isto ainda não faz-me querer desistir dele; ainda acredito que através do amor e cooperação dos que estão próximos a nós conseguiremos seguir adiante levando a paz para às próximas gerações. Querer deixar de viver simplesmente porque o mundo não condiz com seus conceitos individuais é tão pueril quanto qualquer outra criança por aí ". A senhora ainda observando e digerindo aquelas palavras, vira-se em direção à cidade minúscula vista de cima naquela montanha. "Os sonhos juvenis ainda excedem a lógica. Se pudesses ver com meus olhos, a intensidade com que minha carne anseia por sentido em cada passo que dou, certamente entenderia meus pensamentos. Você ainda não procura uma razão para estar aqui. Vejo todos estes anos que já pude viver: o exterior pode ser tão sem rumo quanto eu.".Certamente, ele não compreendia o porquê de tanto niilismo; aquelas questões eram totalmente desordenadas. "Como alguém poderia dizer que não há esperança para nós? Como alguém poderia retrucar a ideia de paz e dizer com tanta convicção que não meço minhas palavras? Ela certamente está errada." - em seus pensamentos , retrucou - O jovem então, como último concílio com aquela mulher que aparentava não ter miolos em bom funcionamento, se distancia em uma curta medida. "Tenho fé em meus princípios de que posso conquistar esta paz. Irei até o outro lado do desfiladeiro, espero que encontre oque está procurando."

Naquele instante, a senhora viu aos poucos, o jovem caminhando em uma direção não tão reta; vendo cada vez mais ele ficar menor em sua vista.
"Sua silhueta brilhará ofuscando resplandecentemente, a caligem das auras perdidas."

Então, naquele mesmo instante, a senhora deitou-se sobre a grama verde cheia de ervas daninhas em sua superfície. O céu parecia ainda mais distante que quando ela tentou o alcançar, e retomou oque já tinha pensando outrora: "O céu ainda faz-se distante."

"Se, pagar com meus pecados significa deixar de amar
Prefiro eternamente perder-me em meu âmago.
Comprarei crisântemos para te dar.
Então, se for por ti, viverei ano após ano.

A convicção que dirige demasiadamente minha razão,
Lembra-me dia após dia que preciso suportar
Pois, danço sem ritmo e sem saber quando os dias acabarão.
Definitivamente, há coisas que não podemos alcançar."

O forasteiro de uma perna só Onde histórias criam vida. Descubra agora