"Não é como se eu imediatamente apelasse para a defesa de meus iguais. Sei que devido às atitudes dos mesmos, você nem pode reconhecer o lugar onde viveu toda sua vida." O homem retrucou.
O clima parecia indeciso. Às nuvens vinham e iam o tempo inteiro; o sol dava às caras e logo sumia quando bem entendia. A brisa não decidia-se: uma hora queria fazer com que surgisse Carmélias pelo recinto, e outrora, fazia de tudo para agradar uma Agave, que confusão!
"O que resta a mim, é apenas voltar a nutrir os olhos meus com o mesmo passatempo de quatro, cinco, sete anos atrás: observar tudo que há de mais belo ao meu redor." Com uma voz levemente descontente, o Ipê de copa canária, expressou sua vontade.
O homem pensou que talvez fosse hora de calar-se e apenas ver o lugar conforme os olhos do velho Ipê.
E de fato, parecia ter sido uma boa ideia.
Em sua mente, todos os lugares pareciam ter tonalidades bem mais desgastadas; seria um pecado não observar o lugar onde estava com olhos tão opacos. Era bom enxergar àquele recinto com outros olhos, cada silhueta era incontestavelmente singular e possuía uma característica própria. O contraste das cores alinhavam-se umas com às outras. Às nuvens davam formas escuras e pouco visíveis ao solo, estas formas assumiam a forma de tudo que havia de desconhecido aos nossos olhos. A grama alta, relativamente seca, mas com uma porcentagem viva e notória por seu verde-oliva. Papoulas vermelhas bordô em alguns cantos do relvado; montanhas a uma certa distância. Um toque suave da melodia harmoniosa de uma brisa que era capaz de juntar-se a quaisquer pensamentos profundos e perturbados. Árvores aqui e alí apenas cumprindo seu papel de fazer o lugar ainda mais esbelto com tonalidades abstratas. Ervas daninhas pertinazes; e cada passo minucioso das formigas carpinteiras trabalhando incessantemente.
Porventura, oque o Ipê sentia era verossímil.
Fazer parte de um lugar é reconfortante, logo, no fundo todos nós queremos fazer parte de algo.
"Posso ter entendido oque você disse." Assim o homem levantou do chão e, preparando-se para uma despedida, prossegue "Vejo que, analisar seu ambiente de outra forma, é revigorante e surpreendente. Dar uma outra perspectiva ao que apresenta-se costumaz. Assim como é um salto sair de seu próprio mundo para ver outros, também é fundamental entender em que mundo encontra-se. Quem sabe este seja o erro de muitas pessoas.
Tudo parece diferente agora.""Sempre pode-se mudar a perspectiva." O Ipê parecia satisfeito com a reflexão do homem.
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O forasteiro de uma perna só
Любовные романыEscrevo sobre o dia em que minha mente transformou-se em algo físico.