Lembranças

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O dia estava claramente radiante; para Brownie, era mais um em diversos cem dias que ele pretendia passar ao lado de seu amor. Não havia nada com que preocupar-se, certamente, ele acreditava nisto.

Em seu cansativo regresso para casa - em um fim de tarde -, vinha em uma velocidade considerável; era sua ansiedade em correr para os braços daquela pessoa? Ele achava que sim, sempre sentia às mesmas borboletas no estômago.

"Eu contei cada segundo do dia, para voltar para cá e dar-te aque-", interrompeu-se assim que avistou uma cena assombrosa... Ele não queria imaginar que o que estava diante de seus olhos, era realmente verídico.

Acontece que, Casta, nunca foi lá uma cidade tão pacífica como dizem; naquele período, passava por guerras, era usada como base aeronáutica do exército. A residência de Brownie era um tanto afastada do centro da pequena cidade, mas nem isso foi o suficiente para livrá-lo das consequências de estar no meio de um conflito como o tal.

Brownie então, avistou aquela cena; completamente perplexo, já era muito se um suspiro saísse de sua narina.
"Marina... Levante-se, por favor, levante-se." Assim ele prosseguia com suas falas desesperadas e ainda inconformado. "Por favor, levante. Levante-se e diga que é mentira..."
Mergulhado em lágrimas, nada poderia fazer. O sangue de Marina, percorria em seu peito; ele a pegara em seus braços, insistindo demasiadamente que era tudo um pesadelo. Sua teimosia o dominava, "Marina não está morta, ela não está." Ela estava.

Acontece que... Por ser uma cidade como coluna para as bases aeronáuticas - grandes campos rodeavam a cidade, era uma planície -, descarregaram pequenas bombas pelo local, talvez, por azar, uma dessas bombas caiu sobre a casa de Brownie.

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Havia passado 7 meses desde aquele dia; Brownie nunca o esqueceu. Carregaria aquele dia consigo para sempre.
Em todos estes dias, ele ainda derramava lágrimas pelo canto do olho, cada dia uma quantidade diferente. Ele ainda queria iludir-se com a presença de Marina; passou meses até enxergar os dias mais claramente.

Com todos estes dias passando, não havia motivo para continuar alí; as memórias o torturavam, era tenebroso lembrar que, alí onde vivera dias tão resplandecentes, agora eram opacos.

Afim de guardar uma última lembrança antes de partir, Brownie decidiu construir um resquício do que um dia foi o lugar mais importante de sua vida.

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"Então aqui é apenas uma representação fajuta do que um dia foi um lugar esplêndido para você?".

"Digo que sim." Brownie, ainda estava receoso sobre abrir-se com aquele homem. "De onde surgiu? Não tem medo deste lugar?", ele questionava-se.
De certa forma, Brownie retornou para aquele local, apenas para lembrar-se pela última vez do que este significava para o mesmo. Todos os dias com cheiro da terra molhada pelos chuviscos; o tagarelar dos sapos na calada da noite; a bela sintonia dos grilos ao cantarem; e, o doce som dos risos perfurantes e altos da graciosa Marina. Já era tempo de deixá-la descansar, e dar um descanso para si mesmo.

Era tempo de mudar.

"Ouça, há alguém que te espera em casa?" - Brownie sabia da resposta que o homem daria, mas curioso, ainda o questionou.

"Lembro-me de dizer que, por mais que eu desejasse do fundo da minha alma que esse alguém existisse, este por sua vez, ainda não existe; então não, não há alguém que espere por mim. Aliás, já seria incrível se houvesse um lugar fixo, onde eu pudesse deitar-me tranquilo sem preocupar-me se estaria inteiro amanhã."

"Está tudo bem, pode ficar aqui, este lugar não pertence mais a mim agora, apenas às minhas memórias. Ouça, esteja em um lugar que dará a você, um motivo para sempre querer retornar a ele. É apenas isto." - Brownie então, sai em direção à porta; caminhado até sumir do campo de visão do homem, simplesmente unindo-se ao escuro que reinava sobre o relvado plano e regado das lembranças que Brownie alí viveu.

O forasteiro de uma perna só Onde histórias criam vida. Descubra agora