O QUE É CIÊNCIA

CAPÍTULO 1 - últimas seções

A Chegada da Filosofia Física

A filosofia foi a forma de especulação posterior ao mito. Apesar de recolher alguns símbolos e alegorias do mito, seu jeito de colocar os problemas do mundo físico é diferente.

A palavra filosofia significa "amor ao saber". Foi introduzida possivelmente pelo líder cultural e religioso Pitágoras de Samos, para designar uma forma ampla de saber que abrangia tudo: natureza, vida social, ética, arte, etc. Na Idade Antiga ela continha o que hoje é ciência. Por sua vez, a filosofia perdeu seu poder sobre a ciência no século 16 e virou uma disciplina geral, ocupada de coisas diversas (a moral, o destino, a morte, etc.)

A diferença entre mito e filosofia pode, em alguns tópicos, ser pouco nítida. Com efeito, vários dos primeiros filósofos se utilizam de mitos para ilustrar suas teorias ou doutrinas. No entanto, há algumas diferenças importantes:

Diferenças entre Mito e Filosofia

Mitos e Mitologia Filosofia

Os seres sobrenaturais, como os deuses, são os protagonistas principais do mito. Entre os filósofos gregos, os deuses não entram na explicação de nenhum fenômeno. Alguns até se declaram abertamente ateus.

Está narrado (geralmente, de maneira oral) com base em fábulas, lendas, imagens e, sobretudo, seres animados, como deuses, heróis, etc. Está narrada em forma de "tratado", usando linguagem aparentemente objetiva, sem referência a personagens específicas.

Os assuntos são relatados em tempo passado e de maneira, geralmente, individual, descrevendo a ação das personagens. Por exemplo: "Zeus transformou-se em Cisne para seduzir Leda". Os assuntos são relatados com pretensão de serem objetivos e impessoais. Geralmente, usa-se o tempo presente e supõe-se a validade universal das afirmações. Por exemplo: "Todas as coisas estão feitas de água".

Os diversos temas estão vinculados por relações de aparente temporalidade ou pela proximidade entre as personagens, mas não a uma ordem sistemática, de ideias. Os temas estão vinculados por proximidade conceitual e lógica, porém nem sempre rigorosa. Exemplo: a explicação de Tales de Mileto sobre os terremotos.

Os autores dos relatos inventam situações absurdas como se fossem possíveis. Por exemplo: A deusa Gaia (Terra) gera um filho por partenogénese. Os filósofos tentam dar aparência de credibilidade (e, eventualmente, talvez agissem sinceramente), criando argumentações para sustentar suas teses. Exemplo: Platão diz que se uma pessoa compreende um fenômeno X, isso é porque ele "viu" a Ideia desse fenômeno.

O mito "inventa" novos episódios sobre um assunto de maneira geralmente aleatória ou desordenada. A continuidade das partes do mito tem numerosas lacunas. A filosofia cria novas teorias sobre um assunto (por exemplo, a queda dos corpos), que pretendem estar baseadas em argumentos. Os filósofos tentam manter uma continuidade entre as etapas.

Como a filosofia foi abrangendo cada vez mais assuntos, os filósofos posteriores deram nomes específicos para cada área. Havia filósofos que se ocupavam da moral, do "bem" e do "mal". Essa área foi chamada ética. Outros se dedicaram a problemas transcendentes, fora do alcance da experiência. Isso foi a metafísica. E assim as áreas foram crescendo: estética (do belo), psicologia (da alma), política (das leis), etc. Entre essas especialidades estava a da filosofia da natureza, ou seja, céus, terra, planetas, forças, e áreas que se aproximavam da mística, como a cosmogonia, que se ocupava da origem do universo.

O estudo da origem das "coisas naturais" foi chamada física, e seus cultores receberam o nome de físicos, em sentido filosófico. Tenham em conta que essa física não é (salvo em sentido motivacional) uma predecessora da física atual. Então, não deve considerar-se a física filosófica uma forma primitiva e simples do que depois será a ciência física. Em realidade, os antigos físicos são mais parecidos aos atuais poetas e aos criadores de lendas.