Ser jornalista nunca foi meu sonho, o plano era ser policial ou detetive. De qualquer forma, nessa profissão, sempre estou investigando as notícias e por só ter 23 anos acho que estou caminhando bem nessa carreira.
Atualmente, fui trabalhar em uma área remota para pesquisar sobre um assassino que atuava ali e em cidades vizinhas, ele já havia matado quatro pessoas. Mesmo com os cidadãos não cooperando muito, conseguiram prender o culpado.
Eu deveria ter ido embora assim que tudo acabou; porém, o lugar era ermo, perto de uma floresta e muito calmo. Comprei uma casa pequena e fiquei na cidade. Fui muito bem recebida à princípio, como mulher solteira e sem filhos, ali parecia um lugar perfeito para viver, considerando que adoro ficar só.
A cidade, entretanto, era estranha: algumas casas eram marcadas com símbolos ou pintadas inteiramente de preto e as pessoas usavam vestes peculiares. Atribui toda estranheza ao lugar que era isolado.
Chegou o dia dos namorados e teria uma festa na praça, antes do anoitecer me arrumei e fui nela. Todos os moradores pareciam estar lá. Me sentei em um banco e fiquei admirando a forma como o vento suave levava o lençol que cobria a tenda, até que uma voz masculina disse-me: "Aqui é realmente um belo lugar".
O homem era tão bonito que meus olhos não sabiam disfarçar, sua conversa abordava tantos temas interessantes que foi fácil se envolver e perder a noção do tempo, quando me dei conta a escuridão caiu por completo e o vento frio arrepiava meu corpo. Ele me ofereceu sua jaqueta e a conversa foi pra um lado mais particular.
— Como veio parar aqui? — Perguntei.
— Fui expulso de casa pelo meu pai há muito tempo, morei em muitos lugares, mas quando cheguei aqui resolvi ficar. Tudo nesse lugar me chamou e fui bem acolhido, aqui é mais que uma vizinhança, eu sou família para eles tanto quanto eles para mim.
A festa estava acabando e todos se recolhiam para suas casas. Eu levantei e me despedi de James, que se ofereceu para ir comigo. Como já estava muito tarde, eu aceitei sem pensar muito na proposta e fomos andando lentamente enquanto conversávamos.
Quando paramos em frente a minha casa, sabia que não seria o final da conversa, muito menos da noite e o convidei para entrar. Ele aceitou e conversamos até o início da madrugada, mas uma hora o assunto acabou e só existia nossa presença e um silêncio na sala. Aquela atração que senti assim que o olhei foi recíproca e arrebatou nós dois, ficamos juntos naquela noite dos namorados.
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Depois não o vi mais e passei a me sentir estranha, como se não estivesse mais sozinha. Desmaiei passando na frente de uma igreja inativa e me socorreram. Acordei no hospital e a resposta do médico para o ocorrido foi: "Meus parabéns, você está grávida".
Não estava nos meus planos ser mãe e nunca mais vi o pai do meu filho nos dias que se sucederam. Todos na cidade me olhavam estupefatos, outros admirados e alguns amedrontados. O fato é que começaram a me tratar como uma rainha, às vezes acordava com comidas na minha porta, cestos de frutas, presentes e outras coisas.
Pedi uma licença do trabalho, eu me sentia solitária e raramente saia. Os meses passaram rápido, mas em cada um deles minha situação piorava: pesadelos e alucinações. A casa parecia estar sendo corroída por uma bruma que se alimentava de mim.
No 5° mês não aguentava mais a luz do dia, a qual queimava minha pele e parecia tocar meus ossos. Às vezes via símbolos saindo da minha barriga, risadas de bebê, alguém sentado na escuridão me observando dormir. Joguei fora minha Bíblia e qualquer coisa que envolvia religião porque não suportava escutar nada sobre o assunto.
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A cama estava cheia de sangue, a dor era insuportável... Aquele parto não estava normal, mesmo sendo meu primeiro filho sabia disso. Tinha certeza que iria morrer, já que não conseguia mais fazer força para a criança sair.
Lá fora tinham várias mulheres cantando um som distorcido e perturbador enquanto dançavam em roda pelo perímetro da casa.
Me sentei, reuni todas as forças que me restavam, segurei em alguma coisa dura e puxei. O alívio foi enorme quando o corpo do bebê saiu por completo...
A música cessou assim que a criança nasceu.
Tirei o bebê debaixo da minha camisola encharcada de sangue, soltei um grito quando vi que segurava os chifres dele e me perdi no desespero quando olhei fundo nos seus olhos inteiramente negros.
Ouvi uma risada no canto do quarto, uma mão negra com unhas afiadas se revelou na escuridão. Uma voz perturbadora e desfigurada disse: "Ele nasceu com os meus olhos".
Foi a última coisa que escutei antes de falecer. Minhas últimas palavras foram: "Maldito seja o dia dos namorados".
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Contos de Terror, Suspense e Mistério
Mystery / ThrillerUma coleção de contos de minha autoria e que dá para matar o tédio. Contém algumas curtas caso não tenha paciência de ler textos muito grandes e podem deixar críticas nos comentários. Espero que se divirtam ☠ ≪━─━─━─━─◈─━─━─━─━≫ Deixei-os salvos aqu...