A escuridão habitava meu quarto na hora que fui dormir, de modo que não fazia diferença fechar ou abrir os olhos, pois o breu seria o mesmo. Isso era uma boa tática para me ajudar a adormecer.Eu abri os olhos assim que acordei e fiquei sem me mexer por alguns minutos, apenas me entreguei aos devaneios que surgiram em minha mente e deixei as trevas que pairavam no cômodo invadi-la aos poucos até se encontrar vazia.
Percebi que nenhuma luz atravessava as cortinas e deduzi que despertei em plena madrugada por conta do silêncio singular. O frio estava mais intenso também e não queria olhar no meu celular porque iria tirar a vibe dos meus pensamentos e da esperança do retorno de um novo sono que me levasse até o amanhecer, momento que deveria acordar.
Sabendo que não voltaria a dormir, achei melhor despertar completamente e me virei na cama à procura do celular. 00:22 estampado na tela de bloqueio, nenhuma notificação. Fiquei um tempo mexendo e girando a tela sem entrar em aplicativo nenhum, até que percebi algo estranho: ainda era 00:22.
O fato dos minutos não correrem me deixou angustiado conforme encarava o tempo parado no relógio, então decidi levantar. Sabia me locomover até o interruptor e acender a luz, foi o que fiz, mas a luz não acendeu. "Apagão?", perguntei a mim mesmo. Era a pergunta mais óbvia para aquela situação.
Algo estranho seguido de outro, porém deve ser alguma coincidência. Liguei a lanterna do celular e olhei para frente, estava de costas para cama quando senti um arrepio subindo meu pescoço e escorrendo meus braços.
Como já disse antes, estava frio na hora que fui dormir e por isso me agasalhei bem. Não era o frio, era uma sensação diferente, como se fosse de dentro para fora. Segurei o celular mais firme na mão e iluminei a cama atrás de mim.
Eu me vi dormindo. Minha boca secou rápido e por um instante senti que iria vomitar meu coração. Tentei recobrar o ar para os pulmões quando o impacto do susto passou.
Fiquei um tempo cogitando e me olhando. Deve ser apenas outro pesadelo bizarro, de qualquer forma não seria agradável continuar ali me encarando dormir. Minha boca ainda estava seca, então fui beber água.
O restante da casa estava submersa nas trevas e no frio, porém o frio não era o mesmo que senti segundos antes de me ver dormindo. A lanterna do celular afastava um pouco da escuridão enquanto caminhava até a pia da cozinha e na tela de bloqueio permanecia 00:22.
Segurei o copo sob a torneira e esperei a água preenchê-lo. Desde que "acordei" sinto meu instinto ativado, como se não estivesse seguro dentro da minha casa. O frio começou a tomar conta de mim novamente e fiquei com medo de me assustar com algo inesperado outra vez.
A água já transbordava do copo e eu permanecia paralisado, pois sabia que isso só podia significar uma coisa muito ruim à espreita. Fechei a torneira. Não foi o suficiente para hidratar meu pulmão e minha boca continuava seca, mas a sensação de perigo me fez querer voltar correndo para o quarto.
Peguei o celular que havia deixado de lado e virei a lanterna. Algo saiu do quarto dos meus pais. Não sabia o que era aquilo porque só vi o vulto passando, também não pensei muito no que fazer e já fui entrando no quarto.
Me aproximei da cama para enxergar melhor. Os dois estavam abraçados e o cobertor encharcado de sangue, ambos com a pele rasgada de várias formas diferentes. A cena era horrível e desumana.
Corri pelo corredor, entrei no meu quarto e tranquei a porta. Fiquei uns segundos com a cabeça encostada na parede enquanto tentava controlar as lágrimas. "Eu só quero acordar, eu preciso acordar", implorava para mim mesmo.
Virei-me para cama e lá estava eu, infelizmente ainda trancado no mesmo sono profundo. Arrepio. Não estou sozinho. É... não estou, ele está parado na aresta do cômodo me observando dormir.
Aquilo só podia ser alguma criatura fugida do inferno para matar minha família. Era alto demais, pálido, cheio de pelos e apenas lembrava a forma humana. As mãos eram inquietas e cheias de sangue nas enormes unhas pontudas.
Eu fiquei parado vendo-o se aproximar e subir em cima de mim, antes das suas garras começarem a me rasgar. O sangue abandonava meu corpo e naquela altura já estava morto.
Senti meu coração parando de bater lentamente e foi então que acordei com o susto. Pulei da cama suando e gritando, peguei meu celular e olhei a tela de bloqueio, era 00:21.
Liguei o abajur do lado da cama, mas ele sozinho não foi capaz de iluminar todo quarto. Havia uma respiração pesada além da minha. Na aresta escura do quarto um par de olhos brilhantes surgiram, olhei para o celular que acabara de marcar a chegada da 00:22.
A criatura saiu da escuridão e pulou em cima de mim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Contos de Terror, Suspense e Mistério
Misteri / ThrillerUma coleção de contos de minha autoria e que dá para matar o tédio. Contém algumas curtas caso não tenha paciência de ler textos muito grandes e podem deixar críticas nos comentários. Espero que se divirtam ☠ ≪━─━─━─━─◈─━─━─━─━≫ Deixei-os salvos aqu...