Confesso que não estava pronta para ser mãe quando descobri minha primeira gravidez. Não soube como reagir até me acostumar com a ideia de haver um bebê crescendo em mim. Porém, junto com minha barriga, o amor pelo meu filho foi crescendo. Dei a ele o nome Simon.
Acompanhar cada fase dele crescendo foi a melhor parte da minha vida, sendo uma delas seus primeiros dias de aula, aos 6 anos de idade. Nesse ano, fiquei grávida pela segunda vez e Simon quase teve um surto de alegria ao saber que teria um irmão para brincar (sim, era um menino).
Aos 10 anos, meu filho fez amizade com uma garota e, mesmo tendo muitos colegas, ele estava encantado com ela. Falava da tal Ana toda hora, e sua mente voava pensando nela. Percebi que meu menino vivia sua primeira paixão.
Claro que nenhum dos dois sabia que estavam apaixonados e cresceram sendo melhores amigos, mas eu sabia que um dia ela deixaria de me chamar pelo nome e passaria a me chamar de "sogra". Ana era realmente uma garota incrível que todos gostavam de ter por perto, e a paixão de Simon só cresceu com o tempo.
Aos 16 anos, o tempo passou veloz, contudo tivemos mais momentos felizes do que tristes, e em todos eles Ana estava lá. Ela já fazia parte da família praticamente. Meu bebê cresceu rápido, mas pelo menos o Ethan (meu segundo filho) ainda era uma criança.
Eu estava preocupada com a idade de Simon, ele já era quase um homem feito, e eu precisava conversar com ele sobre isso e outras coisas, principalmente sobre Ana, que ainda tinha 15 anos. Os dois estavam mais unidos do que nunca, porém era bem notável que Ana acreditava na amizade de Simon, e ele só ficava mais apaixonado por ela.
Naquele dia, Ethan estava na escola e eu trabalhando na minha loja, que fica bem em frente de casa. Sou dona de uma perfumaria. Simon estava em casa com Ana, fazendo lição na cozinha, como sempre faziam desde os 12 anos. Eu formulava a conversa que teria com ele mais tarde, quando fui tomada por uma agonia repentina.
Escutei um barulho de choro abafado atrás de mim e, pela visão periférica, vi uma garota chorando no canto da loja. Pulei com o susto, peguei minha garrafa de água e bebi enquanto resgatava o ar que fugiu de mim ao levar o susto. Foi muito real, e fui direto para casa, não importei nem com a loja exposta.
Assim que entrei, não encontrei os dois na cozinha, e quando fui subir as escadas, esbarrei com Ana: seu cabelo estava solto e bagunçado, sua roupa parecia rasgada, vi hematomas em algumas partes do seu pescoço e braço, seus olhos estavam fundos e inchados. Ela chorava muito, pediu desculpa e correu de mim. Simon apareceu correndo em seguida, como se estivesse indo atrás dela.
Eu entendi o que aconteceu assim que olhei para ele.
Pela primeira vez, eu bati nele ao ponto dele gritar. Eu o desconheci como filho e o segurei pelo pescoço enquanto perguntava gritando:
— O que você fez? O que você fez?
Deixei Simon no quarto sem acreditar em tudo aquilo e fui atrás de Ana, passei em todos os lugares que ela gostava e não a encontrei. O último lugar foi um lago onde a gente sempre brincava, e ela estava lá, deixei a luz do carro acesa por causa da noite se aproximando.
Ela estava com os pés na água e toda molhada, sentei ao seu lado e ficamos quietas, até eu desenvolver coragem e pedir perdão. Foi a única vez que ela se moveu em minha direção e se deitou no meu colo.
— Me perdoa. Eu não devia ter entrado no quarto, eu não sabia que ele iria me machucar...
Deu para ver melhor seus hematomas quando ela estava em meus braços.
— Por que você entrou no lago? Está frio — ela tremia e o vestido molhado colava em seu corpo.
— Porque eu estava suja.
Eu não aguentei segurar o choro ao escutar aquilo e só soube repetir várias vezes "me perdoa, me perdoa" enquanto mexia em seus cabelos.
— Mãe? — A voz do meu filho surgiu atrás de mim.
Eu me virei, e ele olhava confuso para mim. Ao retornar, Ana não estava mais em meus braços e sim flutuando ao longe no lago. Ela se matou...
Mas ela estava no meu colo, como assim? Quem estava comigo? Não tive tempo para encontrar a resposta, uma força me chutou para longe e bati em uma árvore. Quando levantei a cabeça, vi Ana arrastando Simon para o lago. Reuni todas as forças para chegar até eles e gritei para ela não matá-lo afogado.
Simon se debateu muito até morrer, eu não consegui salvar meu filho. A polícia removeu os dois corpos da água, e eu contei as coisas de uma forma que a polícia acreditasse em mim.
Agora, toda vez que vou lá, vejo algum dos dois no lago.
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Contos de Terror, Suspense e Mistério
Mistério / SuspenseUma coleção de contos de minha autoria e que dá para matar o tédio. Contém algumas curtas caso não tenha paciência de ler textos muito grandes e podem deixar críticas nos comentários. Espero que se divirtam ☠ ≪━─━─━─━─◈─━─━─━─━≫ Deixei-os salvos aqu...