02. Ameaçada

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Durante a minha infância no interior de São Paulo, eu costumava brincar com meus primos na rua, amava brincar de polícia e ladrão, jogar bola até tarde, me lembro que com frequência eu estava com os joelhos ralados ou arrancava o tampão do dedo, isso só me dava mais vontade de me divertir no dia seguinte.

Quando completei 15 anos estava determinada a sair da minha cidade e ir morar numa cidade grande, inicialmente a capital paulistana me enchia os olhos até que em uma viagem ao Rio de Janeiro me fez mudar de ideia, era ali que eu queria morar, com muito esforço passei no vestibular e decidi mudar de estado mesmo sob os protesto dos meus pais, no início a separação foi difícil, mas eles foram aceitando com o tempo.

Quando conheci Ricardo, eu estava no primeiro ano da faculdade e nos tornamos amigos, até que em uma festa ele se declarou e desde então não nos separamos mais, Rayssa veio quando ainda estava na faculdade e éramos tão jovens que achei que não daríamos conta, foi o momento mais difícil que havia enfrentado desde que havia saído da casa dos meus pais, mas Ricardo, meus pais e os pais dele sempre esteve do meu lado.

Rayssa nasceu na semana de prova da faculdade, enquanto todos estavam preocupados com as notas finais, minha única preocupação era com a recém-nascida que agora dependia totalmente de mim, com a ajuda da faculdade e de alguns professores eu consegui concluir o semestre daquele ano com notas satisfatórias, hoje em dia sempre que vejo ela tão grande e esperta eu tenho a certeza que foi a melhor escolha da minha vida.

[...]

— O que faz fora da sua cela, detenta? — Meu rosto que antes estava leve e sereno havia mudado totalmente.

— Não vai me convidar para entrar? — Perguntou, mal terminou a frase e já havia entrado totalmente na minha sala. — Esse lugar fica bem melhor sem a presença daquele verme. — Falou andando pela sala como se estivesse analisando o local

— Responde a pergunta.

— Calma diretora, até parece que eu mordo. Só às vezes — Yasin falou com um sorriso de lado e sentou na minha cadeira.

— Se não sair agora, sua próxima semana será na solitária — Falei entredentes e senti minha respiração mudando de ritmo enquanto a adrenalina tomava conta de mim.

Um sorriso de escárnio surgiu no rosto dela, enquanto ignorava totalmente a minha fala e se acomodava na cadeira, me aproximei até ficar em frente a mesa enquanto Yasin continuava com o maldito sorriso na cara.

De todas as coisas que imaginei para esse dia, nenhuma delas incluía uma das detentas mais perigosas na minha sala como se estivesse na sala de estar da sua própria casa.

— Vamos diretora, sente-se. Já disse que não vou lhe morder — Apontou para a cadeira vazia que estava na frente.

— Eu não tenho nada para falar com você, principalmente pelo horário que pelo que eu sei já deveria estar na sua cela.

— Logo você vai perceber que eu não sou igual as outras presas dessa pocilga. — Falou enquanto tateava o bolso da calça me deixando em total alerta, mas tirou de lá um cigarro e isqueiro e acendeu.

— Para mim você é igual a qualquer outra detenta aqui, e vai seguir as regras de um jeito ou de outro — Falei elevando meu tom de voz.

— Você vai me obrigar?

— Pode contar com isso.

— Não acredito que aquele velho babão não tenha falado de mim para você, achei que ele fosse mais eficiente. — Falou se referindo ao Marco Aurélio, enquanto tragava o cigarro

— Eu sei o bastante, agora sai da minha sala.

Apesar do nervosismo controlando meu corpo, eu me esforcei ao máximo para não deixar transparecer e parecer que estava com medo dela.

Nas Prisões Do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora