08. Acordei

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Pois morrer é uma destas duas coisas: ou é como um nada e o morto não tem nenhuma sensação de nada, ou (conforme se diz por aí) ocorre de ser uma transmigração e uma transferência da alma aqui deste lugar para um outro lugar. - Sócrates

Quando eu liguei para a minha mãe contando que estava grávida, primeiro ela brigou comigo, me chamou de irresponsável em seguida pegou o primeiro voo para o Rio de Janeiro, mesmo avisando que não precisava, quando foi de noite no mesmo dia eu já havia vomitado pela terceira vez, e escutei a campainha sendo tocada, abri a porta enxugando as lágrimas devido o esforço para colocar tudo que havia comido para fora, assim que colocou seus olhos em mim ela me puxou para um abraço, eu havia acabado de completar 19 anos e estava no segundo ano da faculdade de direito, ainda não sabia o que ia fazer, e o único feliz com a notícia era Ricardo, que já havia contado para seus pais, amigos e comprado um bolo para comemorar.

— Vai ficar tudo bem, filha — Minha mãe falou enquanto eu desabava no seu colo.

E ela não mentiu, continuei com os estudos e recebi todo o apoio dos meus pais e dos pais de Ricardo, conclui a faculdade e passei para a academia de polícia logo após prestar concurso público, eu estava realizada, havia conquistado minha casa, meu emprego dos sonhos, e tinha a família que muita gente por aí adoraria ter.

Mas dizem que tudo que é bom dura pouco, anos depois eu recebi o convite para ser diretora de um presídio feminino, de início fiquei receosa em aceitar mas recebi o apoio do meu chefe e colegas de trabalho, decidi aceitar o cargo, e foi aí que minha vida virou de ponta cabeça e tudo que eu conquistei havia escorrido por meus dedos.

— Você acha que ela vai acordar hoje? — Uma voz feminina perguntou de repente.

— Não sei, todo dia você pergunta isso. — Uma segunda voz feminina respondeu.

Tudo ficou em silêncio, eu não conhecia essas vozes, espera eu estou morta? Será que aqui é o céu, ou então uma variação disso? Algum tipo de pegadinha como em The Good Place?

Tentei abrir meus olhos, emitir algum som, mexer meus pés ou braços, mas nada acontecia. eu me sentia cansada mas não queria dormir, e se eu morresse de verdade, acorda Heloisa, abre os olhos, fala alguma coisa... Meu corpo não respondeu, em algum momento eu morri ou dormir, já não sei mais.

[...]

— ''... Mas eu não quero me encontrar com gente louca, observou Alice.'' ''Você não pode evitar isso, replicou o gato. Todos nós aqui somos loucos. Eu sou louco, você é louca.'' ''Como você sabe que eu sou louca? indagou Alice.'' ''Deve ser, disse o gato, ou não estaria aqui...''

— O que está fazendo, Samira? — E tinha que ser ela, essa voz para interromper a leitura agora

— Lendo, não está vendo? — A menina que sempre está aqui rebateu, ela é a única companhia agradável que eu tenho.

— Fala direito pirralha, está na hora de ir, Sadir está te esperando. — Escutei ela bufar.

— Não posso ir com Samir? — Perguntou.

— Pergunte a ele lá embaixo. — A voz da mulher soou indiferente

— Tchau, Heloisa — Escutei sussurrando no meu ouvido.

Tudo ficou em silêncio e novamente estava sozinha, as únicas vozes que eu escutava eram essas femininas, que eu nunca ouvi antes, elas mencionavam o nome de outras pessoas que eu não fazia ideia quem seja e o de Sophia poucas vezes, a garota por quem eu tinha me afeiçoado era Samira, ela sempre dava um jeito de vir ler algum livro, já foi O mágico de OZ, a Menina Que Roubava Livros e hoje, Alice no País Das Maravilhas, não sei se outros livros foram lidos além desses, geralmente sempre que eu acordava e ela já estava lendo, era inevitável não lembrar da minha Rayssa, ela amava livros e quando era pequena toda noite eu lia algum para ela, como eu sinto falta disso.

Nas Prisões Do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora