Wednesday
Encarei a entrada da sala, percebendo a figura esbelta parada na porta. Seus cabelos levemente ondulados, no mesmo tom de louro, agora em um corte chanel. Seus olhos azuis se assemelhavam com os da garota ao seu lado, que parecia encabulada. Usava uma camisa azul marinho, combinando com a calça da mesma cor. A encarei de cima a baixo, parando no crachá que dizia "Enid Sinclair". Por algum motivo, congelei ao encarar seus olhos confusos.
— Enid?... — Murmurei, sentindo lágrimas teimosas escorrerem pelos meus olhos.
Sua expressão, que parecia confusa, ficou perplexa. Me analisou de cima a baixo, assim como fiz com ela há alguns minutos. Pôs suas duas mãos sobre a boca e seus olhos azuis foram tampados em lágrimas.
— Você conhece ela, Nid? — A garota ao seu lado indagou, completamente perdida. Enid imediatamente correu até mim.
— Wednesday?!... — Exclamou boquiaberta, parando na minha frente e levantando o meu queixo com uma força absurda. Comprimiu os lábios e checou cada centímetro do meu rosto.
— Mas como?... Você... É você?... — Murmurou com a voz embaralhada. Sorri levemente. Vi sua expressão logo se fechar. Não tive tempo de me pronunciar antes de receber um tapa estalado no rosto. Resmunguei, a encarando incrédula.
— Sua idiota! O que te deu na cabeça? Poderia ter morrido!... Você... Por que você está em uma cadeira de rodas? Não me diga que...
— Não estou paraplégica. — Enid me encarou confusa. — Só... Estou fraca para andar ainda. — Assentiu, não sabendo como se comportar perante a minha frente. Parecia lutar entre chorar, sorrir, ou se irritar. Todos talvez. Meus olhos brilhavam sem eu nem saber o porquê. A loira se ajoelhou na minha frente, me abraçando aos prantos, ato que me pegou completamente desprevenida.
— Wednesday... Muito obrigada... E-eu... Obrigada... Pensei que eu nunca mais ia te ver de novo... Pensei que... — Neguei e a abracei de volta, sorrindo de forma acolhedora. Por que ela estava me agradecendo? O que eu fiz pra ela?
— Me disseram que você se quase se afogou... no inverno. Quando os lagos estão congelados. Não me diga que você foi dar uma de Aquaman? Você queria ser super heroína, não é?... — Enid indagou, uma pitada de humor em seu tom de voz. Se levantou e esfregou os seus olhos, me encarando com uma expressão séria novamente. A encarei em choque.
— O que foi?... — Enid questionou. Neguei.
— Nada...
[...]
— Sua prima? — Franzi o cenho, encarando a jovem, que agora voltara a derrubar os pinos de boliche. — Eu não sabia que você tinha prima.
— Eu tenho. Filha da irmã do meu pai. Ela mora comigo. — Enid alegou.
— E os pais dela?
— Bom... O pai dela morreu. A mãe está internada no centro de reabilitação. — Enid disse em um tom penoso, olhando para a garota.
— O pai dela morreu?!... De quê?...
— Foi baleado. Encontraram uma barra de chocolate no bolso dele. A polícia foi confrontá-lo e ele surtou. É uma pena que ele tenha agido dessa forma... Tudo ficaria bem se eles resolvessem isso em uma conversa civilizada. — Enid murmurou. Segui o seu olhar para a jovem de cabelos castanhos. Parecia uma criança feliz, apesar disso, não parecia certa. Não sei como explicar.
— Disse que perdeu a memória, não disse? — Raciocinei, antes de assentir. — Preciso conversar com você sobre algo importante... Estou saindo pro meu horário de almoço, então passo no seu quarto depois do expediente. Qual o número do seu quarto?
— Você trabalha aqui? — Perguntei confusa. Enid olhou pra mim como se eu estivesse fazendo uma pergunta óbvia. E talvez eu estivesse.
— Eu estou com o uniforme do hospital, Wednesday.
— Oh. É claro. — Sorri amarelo. — Quarto 201, eu acho...
— Ótimo. Passo lá às dez em ponto.
— Dez da noite?!... Isso não é muito tarde?
— Preciso ir, Wednesday. Conversamos melhor depois. — Enid disse, saindo pelo corredor e chamando por Emma, que logo a seguiu. Sinto que ela está escondendo algo.
— Wednesday!... — Ouvi chamarem. Me virei para encarar a porta. Minha mãe parou de braços cruzados. — Acho que você está bem grandinha pra ficar na brinquedoteca. Te procurei pelo hospital todo! Você precisa comer e tomar seus comprimidos. — Bufo.
— Comprimidos para que?... Essa comida do hospital é muito insossa.
— Já está com os músculos fracos, quer morrer de pressão baixa? — Perguntou e foi até mim, me guiando pelos corredores. Revirei os olhos. Ela sempre se preocupou assim? Ou será que ficou assim porque fiquei em coma por oito anos?
— Por que não me falou que Enid trabalhava aqui? — Ela deu de ombros.
— Eu sabia que você se lembraria dela. Não foi necessário. Aliás, ouvi falar que ela se formou em fisioterapia. Quem sabe ela não ajuda você?
— Mãe! Isso lá é coisa que se pede?!... Tenho certeza que Enid é uma pessoa muito ocupada pra cuidar de mim por caridade.
— Quem disse que é por caridade?
— Não importa.
[...]
O céu já estava escuro, devia ser por volta das dez e meia. Eu já estava deitada, meus olhos quase se reviravam de sono. Acho que Enid não vem. Fechei os olhos e deixei o sono tomar conta de mim. Comecei a sentir uma respiração perto do meu rosto. Abri os olhos lentamente e gritei de susto, me sentando na cama rapidamente. Era Enid. Se afastou gradualmente e se sentou ao lado da maca.
— Mas que diabos, Enid?!... Quer me matar?
— Desculpe pela demora. Emma capotou e resolvi deixá-la na casa de Divina. — Suspirei, encarando ela, não conseguindo ler a sua expressão, já que ela estava séria.
— Você ainda fala com Divina?
— Sim... Ela me ajuda bastante. — Enid murmura inquieta.
— E então, Enid?... Sobre o que queria falar?
— Sabe, Wednesday, quando estávamos no ensino médio, você cismava em ficar do meu lado o tempo todo, lembra? — Perguntou. Permaneci calada. — Falava sobre brincar de detetive. Nós achamos materiais estranhos naquele ônibus, mas eu nunca entendi do que se tratava. Pra mim era apenas um jogo que você inventou pra me manter longe da minha mãe, mas descobri que pode ter algo a mais. Alguém que queria me machucar. Nos machucar. Não sei quem é... Não sei o que quer...
— Por que acha isso? — Indaguei.
— Um tempo depois de ter ido morar com a minha avó, eu voltei pra casa para buscar algo que eu tinha esquecido. Não me lembro o que era. Foi quando eu descobri que você havia ficado em coma. Fiquei incrédula. Fui até sua casa para te fazer uma visita. Fiquei com você por um tempo e percebi um bilhete em sua roupa. Estava recém seco, todo amassado, quase ilegível. Mas pude ler claramente "Não foi dessa vez, Wednesday". Acho que alguém quer te machucar, Wed... — Enid murmurou, parecia perturbada. Coloquei minha mão sobre o ombro dela.
— Você não tem que se preocupar com isso. Eu...
— Tenho sim. Desde aquele dia, não consegui dormir sem antes pensar nisso. E se ainda estiver alguém te perseguindo?...
— Enid, eu não acho que...
— Não se preocupe, Wed. Tem alguém que está me ajudando a tentar descobrir quem é que fez isso com você. Nós vamos descobrir. — Pendi a cabeça para o lado, curiosa.
— Quem?
— Nosso antigo professor. É... Lucius Houston, eu acho.
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N/A: Eu sei, eu sei, eu demorei. Será que ainda tenho leitores por aqui?... Queria dar minhas sinceras desculpas, não vou dizer que estou COMPLETAMENTE sem tempo, na verdade eu tava bem desmotivada também, vou deixar essa tensão de fim de fim das aulas passar e tentar ficar mais ativa. Saudades do tempo que eu postava todo dia e os capítulos quase chegavam a 2000 palavras... Até parece que foi ontem.😖
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Chains • Wenclair [!HIATUS!]
Misterio / SuspensoWednesday Addams, vê seu sonho de se tornar uma escritora se despedaçar quando não obtém sucesso na área. Não tem costume de se socializar com outras pessoas, é muito introvertida e nunca foi boa em compreender as emoções das pessoas que a rodeavam...