Sozinha

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Me acolho. Debaixo das trincheiras pavorosas, escondendo-me de tudo o que há de ferir-me. Mas é claro que nem de todas as coisas. Eu não tenho superpoderes. Nem sou especial. Então há uma pequena brecha que consegue me alcançar. Quando ela se escancara, revelando tristezas, deixo-me consumir por elas. Isso sei que não posso evitar; porque o que está dentro de mim não é algo que eu possa fugir. Tenho a mania de sempre fazer isso, mesmo assim. Correr para longe de mim; mesmo que eu seja pra sempre minha própria companhia.
São muitas as coisas, que as chamo assim por puro desconhecer, que me apavoram. Não sei dar nome a todas elas; entretanto são velhas amigas minhas.

Em claro, sob as luzes quentes que brilham em intervalos, voltei-me por entre as versões de mim e, por um instante, não quis mais nada relembrar. É impossível esquecer-me de mim. De que existi, de que existo e de que terei que lutar para continuar a existir. Muitas vezes me nego; não quero mais. Nessas vezes a melancolia me abraçou tão forte que não senti o pulso de minha pressão sanguínea que cientificamente deveria ser forte a bombear. Desapareci dos espelhos; mal conseguia me encarar. De ódios certeiros conheci todas as vidas minhas que em uma, fizeram-me desprezar o que continuo sendo. E de medos me reconstruo. Cada vez um novo para a coleção que só aumenta. Eu mal quero olhar para o calendário. Relembrar que o ano termina mais uma vez; e cá estou eu; onde me deixaram. Eu nunca tomei as rédeas de minha própria vida. Nunca me deixaram. E eu não apreciava nada; quem diria liderar as águas que sempre estiveram contra mim.

Eu temo pelo o que não ainda se vê, mas que se sente imensamente por dentre os melindres meus.

Venho acabando com minha saúde. Consumo tanta coisa ao mesmo tempo; e tudo me consome. Durmo pouco, afeta minha memória. Por um segundo esqueço do café que logo esfriou. Enxergo névoas dentro de casa. E as vezes bichos peçonhentos sobem pelas paredes do meu quarto.

O fim da minha eterna adolescênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora