na vivida impaciência de salvar minha pele das distorções da vida
acabo-me por esperar demais, numa beirada de estação, por entre as viradas dos anos.tamanha espera cabe dentro de um pensamento, que voa com o ar
fugindo de mim, agradeço, e volto a respirar.sabe-se lá o que as fruteiras recolhidas somam à destruição da natureza, mas é preciso colher para se alimentar.
então se eu simplesmente esquecer de regar minhas feridas, todos os meus frutos nunca irão sarar?
para onde irão todas as minhas cores, meus sabores e minha ansiedade em fugir além do que posso alcançar?
temo por muito tempo insistir à dançar e me esquecer de que ainda há tempo para me salvar.
mas não quero.
não quero deixar de aproveitar,
a bossa que lota meu peito vazio de tanto pesar, que pedregulha meu teto como brincadeira de criança, fazendo-me acordar.
direto no sonho que nunca percebo, quero para sempre neste embalo estar. eu sou o que vivo, por isso quero me salvar. mas então encaro para fora da janela, névoas de mim voando com a brisa gelada ao encontro de não sei bem o quê. admiro a coragem dessas partes que querem para lá se aventurar. mas entre meu caos tão meu, aquieto o peito que também dança, e descanso.
descanso pelo tempo que eu precisar.
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O fim da minha eterna adolescência
PoesíaO fim da minha eterna adolescência é, simplesmente, uma coletânea de muitas vivências de mim. Descobrir-se é sair de si. Como diz Saramago, é preciso sair da ilha para ver a ilha. Essa sou eu fora da ilha. E meus relatos desde então.