8. C Ó P I A • F I E L

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Passei a manhã no estábulo mexendo nas prateleiras e apetrechos esquecidos, em busca do broche da mamãe

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Passei a manhã no estábulo mexendo nas prateleiras e apetrechos esquecidos, em busca do broche da mamãe.

Era quase hora do almoço quando, por fim, o encontrei, embrulhado em um tecido velho, dentro de um compartimento escondido na caixa de ferramentas do pai — exatamente como vovó suspeitava. Tive que reprimir um grito de euforia quando deslizei o tecido sujo e a peça me encarou: reluzente, luxuosa, magnífica.

Era ainda mais deslumbrante do que eu imaginava: o corpo de um tubarão lindamente entalhado no metal, com olhos vermelhos de rubis. Eu sorria enquanto examinava minuciosamente o objeto, perscrutando cada detalhe, virando-o de um lado para outro.

Atrás do adorno havia um nome gravado em letras caprichadas: Azzyr.

Az-zyr. Repeti as sílabas lentamente, experimentando o som, saboreando o modo como se ajustavam à língua. Az-zyr.

O que significava? O que tinha a ver com mamãe? Comigo?

Azzyr. Bonito. Elegante. Misterioso.

Ouvi o pai se aproximar com Cristallo e agilizei a organização do lugar.

Prendi o broche na parte interna do colete, de modo que ficasse imperceptível. Apalpei o coque para conferir se cada fio estava devidamente preso, guardei as tralhas em seus lugares, correndo contra o tempo, enxugando o suor da testa com a costa da mão.

O pai me encontrou transpirando, esbaforida, ofegante e com as bochechas mais rosadas do que de costume. Ele parou, segurando o cavalo pelas rédeas. Estreitou os olhos, como que para se assegurar de que eu não era uma aparição. Ficou pálido e sem reação por alguns segundos.

— O... o que faz aqui? — Inquiriu, assim que recuperou a voz e os sentidos.

Graças aos céus, à medida que guardei apressadamente os utensílios, tive tempo de pensar no que dizer a ele.

— Esperava por você, pai. Aproveitei para arrumar esse lugar. Estava uma bagunça. — A segurança em minha voz me surpreendeu.

— Não gosto que mexa nas minhas coisas. Não quero encontrá-la aqui novamente — ordenou. — E o que quer comigo, afinal? — Parecia desconfiado enquanto levava Cristallo para a baia. O homem não conseguiu disfarçar a curiosidade e a expectativa em seu tom, embora quisesse soar indiferente.

A rigidez dos movimentos e seu comportamento engessado não me enganavam. O pai estava mais nervoso do que deixava transparecer. Minha presença o inquietava.

— Bem — pigarreei —, sei que com a partida de Fenris nosso orçamento encolheu, mas acredito que o senhor devia chamar o médico para ver a vovó.

Ele se ocupava em retirar os acessórios de Cristallo e alimentá-lo. Fazia tudo para não ter que me encarar.

— Ora, menina, sua vó é uma mulher velha. Vez ou outra cairá doente. Não se preocupe com ela. Vá aprontar o almoço e cuidar de Camomila.

Em Algum Lugar nas MontanhasOnde histórias criam vida. Descubra agora