14. O • B E I J O • D E • D O H A

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Os dias que se seguiram foram péssimos. Ser banhada, penteada e ganhar um vestido novo a cada amanhecer não diminuía a dor opressiva em meu peito. No momento, o motivo da minha angustia não era o fato de eu ter perdido a identidade, o sobrenome e o propósito de vida e sim não ter um lugar de pertencimento.

Nunca fui verdadeiramente uma Darquim.

Embora tivesse sido bem acolhida por meus irmãos, jamais recebi a aceitação do pai.

No que dizia respeito a vovó, ela apenas me tolerava. E de modo algum eu seria uma legítima DiBalfour, nem por minha vontade, nem por vontade deles.

Fiur não me suportava, o rei deixou claro que me reconhecer como filha era apenas uma estratégia para salvar o reino de um iminente conflito — apenas negócios, e Sacssa "adoraria" saber do meu amor platônico por seu noivo.

Sem contar que eu não conhecia a família de mamãe, não sabia nada sobre eles.

Eu era parte Darquim. Parte DiBalfour. Parte desconhecida.

Fragmentada. Dividida. Rejeitada por duas famílias e desconhecida por uma terceira.

A lenha acabou depressa com o misterioso sumiço de Quiff, sem ter quem a repusesse. Eu torcia para que ele tivesse viajado para Venfal, em busca de notícias dos meus irmãos.

Madame Agnes providenciou mais cobertores, nos quais eu passava o dia enrolada, sem ânimo para deixar o quarto frio, evitando as pessoas como se fossem uma pestilência.

Por mais dificuldades que eu tivesse na cabana, jamais se abateu sobre mim um peso tão insuportável na alma. Eu pensava o tempo todo em Camomila, Teilon, Fenris e até no Pai. Se não conseguisse mantê-los longe das ameaças do rei Lazz, estaria, para sempre, sujeita aos caprichos dele, temendo pela segurança da minha família.

Era fim de tarde quando recebi a visita de uma mulher misteriosa. Era baixa e mal-encarada.

Baixa demais para parecer tão inflexível. As pessoas baixinhas que eu conhecia não se levavam muito a sério. Contudo, sua altivez, de alguma forma, se refletia na postura, dando a impressão de que ela era mais alta.

O cabelo crespo fora preso num coque rigoroso. Usava o típico vestido cinza de tecido pesado, bem comum em Gade e arredores. Ela, de fato, não tinha um aspecto amigável.

— Loup Darquim — disse a mulher com sua voz controladora e firme —, que você continue sendo íntegra e que sua bondade prevaleça.

Ela fez uma saudação rápida e discreta.

— Fui enviada como sua preceptora. Meu nome é Sunan.

— Preceptora? — Perguntei, apertando mais os cobertores ao redor do corpo.

— A beleza atraí, mas é preciso mais do que isso para enlaçar um nobre. Compostura, jovialidade, inteligência, boa educação, disciplina e boa conduta — enumerou Sunan —, é disso que você precisa.

Em Algum Lugar nas MontanhasOnde histórias criam vida. Descubra agora