13. R E V E L A Ç Õ E S

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Não consegui dormir naquela noite, mesmo o fogo da lareira aquecendo o quarto frio e mesmo o corpo precisando de descanso

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Não consegui dormir naquela noite, mesmo o fogo da lareira aquecendo o quarto frio e mesmo o corpo precisando de descanso.

Os pensamentos inquietantes afligiam meu espírito, fazendo eu girar de um lado para o outro na cama.

Como eu podia ser meia-irmã de Fiur? Teria mamãe tido um caso com o rei? Impossível. O pai jamais toleraria uma coisa dessas. Por mais que a amasse, ele mataria Blenda se ela o traísse.

Como a mãe de Fiur — provavelmente a rainha de Maliffer — conhecia mamãe? Não era vergonhoso para uma rainha ter as traições do marido expostas? Como ela permitia isso? Bem, talvez ela nada pudesse fazer a respeito.

O mais perturbador, porém, era minha iminente perda de identidade. Eu odiava ser uma Darquim, é claro. Não suportava o olhar de menosprezo das pessoas por eu pertencer a essa família, mas pelo menos sabia quem eu era, sabia o que esperavam de mim. Tinha nascido para fazer o nome da família ser respeitado.

Ser filha de Hans também não me enchia de orgulho, no entanto, a maior motivação da minha vida era conseguir a aceitação dele. E agora? Minha vida inteira era uma fralde? Irreal?

Nada podia ser pior do que a incerteza. Não saber quem você é, perder todo o sentido de sua existência.

Sem um propósito o ser humano apenas vagueia pela vida. Para se ter energia é necessário ter os olhos fixos em algum objetivo.

Qualquer garota de quinze anos adoraria se descobrir parte da família real, obviamente. Muitas, se não todas, fantasiavam deixar a vida miserável para trás, cheia de problemas familiares e ir morar num palácio, cercada de riqueza e luxo, mas as coisas não eram tão simples assim. Aprendi, da pior maneira, que boas coisas só aconteciam depois de muito suor e lágrimas. Eu pagaria um preço alto por isso.

Inesperadamente, tudo o que eu queria era estar na cabana com Mila e Teilon, ansiosa e temerosa com o iminente retorno do pai, com saudade e rancor de Fenris, lutando pela sobrevivência.

De manhã, madame Agnes entrou no quarto trazendo um séquito de criadas, disse que o tal tratamento de beleza se iniciaria. As garotas me despiram e banharam. Esfregaram meu cabelo com algum tipo de loção perfumada. Massagearam-me com óleos de bálsamo e mirra. Trançaram meus cabelos com flores e me vestiram com um lindo vestido lilás esvoaçante. Combinei-o com um dos lenços de Quiff para esconder a cicatriz recente no pescoço.

Perdi o fôlego ao ver meu reflexo no grande espelho. Pela primeira vez compreendi os elogios que recebia sobre minha aparência. Nenhuma cantiga ou poesia existente eram dignas de mim, e isso nem era arrogância, era a verdade.

Não cansava de olhar para aquela menina esguia, porém já apresentando as inconfundíveis curvas femininas. Não havia qualquer defeito, nenhum. Nada precisava ser melhorado. Pele alva com a textura de pêssego, lábios rosados, olhos castanhos avelã e cabelos macios do mesmo tom.

Em Algum Lugar nas MontanhasOnde histórias criam vida. Descubra agora