Capítulo 2

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"Que gostoso, amor. Adorei saber disso. Na próxima, me chama para eu te ajudar?"

Respondo a mensagem de texto que minha esposa, Sofi, mandou para me contar que está planejando fazer um jantar só para nós dois esta noite. Ela está amando esta temporada no Brasil: tem mais tempo para a família, descobriu um novo círculo de amizades e tem adorado a culinária do país. Quando renovamos nossos votos de casamento, lá em 2019, firmamos um pacto de colocar nosso bem estar como casal em primeiro lugar diante de toda e qualquer escolha profissional ou pessoal que eu fosse tomar dali em diante.

E assim tem sido até hoje. Mesmo esta temporada no Brasil faz parte desse plano e acho que estamos nos saindo muito bem. Aquela noite, aliás, da festa da nossa renovação de votos, foi bem intensa. Em muitos sentidos. Será que devo falar sobre isso? Algumas lembranças não devem ser remexidas, se não sabemos ao certo como lidar com elas.

Antes de devolver o celular para o armário e voltar para o treino, gasto meus últimos momentos de pausa para ver o link que meu agente me mandou mais cedo. É o vídeo de um youtuber brasileiro reagindo à transmissão do meu mais recente jogo pelo Grêmio. Eles me amam, aqui no Brasil. É uma delícia receber tanto carinho.

O vídeo é engraçadíssimo, uma euforia absurda do narrador só porque marquei três gols no mesmo jogo. No entanto, em meio aos risos, um ponto me chamou a atenção e me deixou levemente incomodado. Em dado momento, o tal youtuber comenta sobre a minha permanência no Grêmio para a próxima temporada. Em contraponto à ideia de que o torcedor do Grêmio me tem como um Deus e daria todo o amor do mundo para mim se eu ficasse, e que por isso eu deveria ficar, o youtuber diz que eu não quero amor, quero dinheiro.

Uau, essa doeu. E não sei dizer se é exatamente a verdade.

Você quer que eu te fale a verdade sobre escolher entre amor ou dinheiro? É até cruel pensar nesses termos, porque não tem nada a ver com isso. Não é este o ponto. Mas vamos falar em amor, para começar. Eu amava jogar pelo Barcelona, por exemplo. Amava estar em um trio de ataque lendário, que fez história e elevou o futebol a um patamar que até hoje não foi igualado. Amava estar no país que escolhi, no time que sempre quis, ganhado muito mais do que um dia imaginei e sendo reverenciado tanto quanto eu sonhava desde garoto.

Amava ser o amante do cara mais incrível, talentoso e genial do mundo. Amava o amor que este cara sentia por mim. Amava estar com ele, ser seu par, ser a razão do seu sorriso e com um simples olhar lhe deixar de joelhos pedindo por sexo. Essas são lembranças que...

Ok, vou contar então sobre aquela noite da festa da renovação de votos. Não tem jeito, preciso que você entenda meu ponto. Porque por mais que amasse esse cara e tudo que tínhamos, eu precisei tomar uma decisão, fazer uma escolha. Sentia o peso da idade chegando e me parecia errado viver aquele caso, que dado a vida que vivíamos, nunca seria mais do que um caso. Após pensar muito, cheguei a conclusão de que deveria focar no que era certo em minha vida, para além do que era o meu desejo puro e simples. Foi quando firmei meu pacto com Sofi. Para isso, precisei abrir mão desse amor, do maior amor que já vivi.

Eu amava o Messi. Não me peça para elaborar mais do que isso, caso contrário vou acabar tendo que admitir que ainda o amo. Eu amo o Messi. Pronto. No entanto, em 2019, nossa relação tinha chegado em um ponto insustentável que a transformou de uma aventura quente em um grande drama de novela.

Eu sempre fui apaixonado pelo Messi. Desde que o conheci e ele me trouxe para perto dele, no que tornamos melhores amigos. Não era amizade o que eu queria, mas você sabe como o Messi é lerdo. Levou anos para perceber. E, enquanto não percebia, vivia perdido em outras paixões, sempre encantado por este jogador ou aquele.

Pra ter você | Livro 06 | Messi & SuárezOnde histórias criam vida. Descubra agora