Capítulo 9

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Levei tanto tempo para escolher a roupa que Antonella brigou comigo e quase desistiu de ir na festa. O pior é que nem estava pensando em mim, estava pensando somente em como Suárez deve ir. Queria ficar à altura dele. Tenho certeza de que ele estará lindo, isso é certo. Mas se ele estiver muito lindo eu já sei que vê-lo vai me fazer muito mal.

Por fim, escolho um terno preto, nada demais. Minha cabeça está em outro lugar. Estou pensando sobre isso, sobre como me faz mal tê-lo tão perto. E como esse "mal" é tudo o que quero. Acho que gosto de ser magoado. Eu não ando muito bem. Desde que ele chegou ao clube, estou nervoso, avoado, perdido em pensamentos. Acho que subestimei a força que a presença dele ainda tem na minha vida. Ele me deixa perdido, ainda não que não faça nada para isso. E me deixa ainda mais perdido quando faz.

Abri mão de muita coisa para estar no Inter Miami. Perdi muita coisa. Voltar a ver Suárez diariamente me faz pensar se ele está entre essas perdas, e me questiono se sua volta é um sinal de que posso recuperá-lo. Acho arriscado demais me deixar levar por esse tipo de pensamento. Por isso pedi ajuda.

O lugar onde a festa acontece é bonito, mas não me diz nada. Um restaurante enorme e chique. Não me importo. É verdade que Beckham é bom em dar festas e mais uma vez ele faz algo grandioso. Para mim, no entanto, é só mais um compromisso profissional. Se pudesse, nem estaria aqui.

Quando me sento à mesa, tenho o cuidado de ficar entre Antonella e meu outro convidado. É lógico que eu trouxe mais de um convidado, eu pedi ajuda, como disse. Antonella sorri para mim, e logo sua atenção é desviada por alguma amiga que passa e para ali para conversar. Eu me viro para meu outro convidado. Ele está tão feliz por estar ali comigo que não consegue se conter, sorri de orelha a orelha.

— Juro que vou ser útil.

— Eu sei que você vai ser útil, De Paul.

— Por isso você me escolheu.

— Foi um convite casual, não é nada demais.

— Não, Messi. Você me escolheu. E eu vou fazer você se orgulhar disso.

A questão com o Rodrigo De Paul é que ele tem algum parafuso solto, o que se reflete nessa devoção dele por mim. Ele é meu colega na seleção argentina e temos uma amizade muito boa, de longa data. Ele me adora, faz tudo por mim. É um bom amigo. Chamei ele para vir comigo neste jantar porque acho que me ajudaria a não ficar correndo atrás do Suárez a noite toda. Foi isso que pedi a Rodrigo: não me deixe ficar por aí me humilhando pelo Luís.

Mas Rodrigo, sendo Rodrigo, tem mais de mil outras ideias em mente. Me perturbou a semana toda falando em planos de ação para me ajudar a evitar Suárez na festa. Me mandou fotos da roupa que escolheu para usar hoje. Me mandou um artigo da ESPN latina falando sobre como a seleção argentina se beneficia com eu e ele jogando como dupla, e como isso acontece também em nossa vida pessoal, como podemos ser ainda mais amigos. Basta eu querer.

Não sei se quero.

Como todos os meus planos, este me parece um pouco mais complexto de dar certo, agora que está sendo colocado em prática. De Paul está lindo. Usa um terno risca de giz que parece antiquado, mas nele fica ousado. Ele é um garoto ousado. E bonito, que gosta de aprontar. Eu deveria ter chamado um amigo mais calmo, menos caótico. Mas restam poucos amigos que não estraguei a amizade beijando, então Rodrigo vai ter que servir. Ele arruma o cabelo, nervoso, e aperta meu joelho por debaixo da mesa. Seu toque me deixa arrepiado, assim do nada. Os olhos de Rodrigo brilham, ele se diverte com meu desconcerto,  e se inclina para falar em meu ouvido, sua barba roçando minha orelha: Atenção, o show vai começar.

Pra ter você | Livro 06 | Messi & SuárezOnde histórias criam vida. Descubra agora