Pra ter você | Livro 06 | Messi & Suárez

Capítulo 10

Precisei de um tempo para me entender. Todas as coisas lindas que sonhei para mim têm um preço e acho que hoje sou maduro o suficiente para entender que é um preço que estou disposto a pagar.

Essa linda festa e suas homenagens, o astronômico salário que recebo e a chance de dividir minhas conquistas em campo com o amor da minha vida. A noção de que não existe perfeição nem mesmo na pessoa que mais amamos. Eu conheço Messi. Seus desvios, seus medos e sua hesitação: tudo isso são pequenos obstáculos que estou disposto a superar. Mais do que isso, são obstáculos que estou disposto a amar. Pois amo Messi, e por ele faço tudo.

Como sei que ele faria por mim, mas sou generoso o suficiente para entender que, nesse caso, o nosso amor é algo que precisa de muitas validações para que ele entenda que pode acontecer. E que dessa vez é pra valer.

Entro no escritório sabendo o que me espera. É lógico. Ou você acha que sou tão inocente assim? Mas Messi não tem ideia de quantas voltas o mundo dá enquanto ele ainda anda em círculos. Por isso, me olha apavorado, colocando a camisa por dentro da calça e fechando apressado o zíper da calça e os botões da camisa. De costas para a porta, Rodrigo não se vira, está encarando Messi, procurando acalma-lo com o olhar. Para ele, Messi é mais importante do que eu.

Para mim também. Busco o olhar de Messi e acho que ele se espanta ao me encarar e perceber que não estou bravo. Não estou furioso, não estou em busca de briga. Acho que aprendi com Messi que alguns erros são mais fáceis de perdoar se você deixa de vê-los como erros, pra começo de conversa. Se você aprende a tirar proveito deles. A gostar deles.

Parado atrás de Rodrigo, apoio o queixo em seu ombro e sinto seu perfume bom, ainda que um pouco picante, quando falo:

— Sempre fui apaixonado pelo Messi, sabia, Rodrigo? Sou até hoje. Vai passar um milhão de anos e eu ainda vou dizer: este cara é o amor da minha vida.

— Acho que ele ama você também. Da mesma forma, com a mesma intensidade.

— Será? E o que está acontecendo aqui, então?

— Só uma distração. Uma brincadeira.

— Só uma brincadeira. Entendi. Posso brincar também?

Rodrigo ri,  inesperadamente nervoso, mas não me impede quando o abraço pela cintura, por trás, aconchegando seu corpo junto ao meu, ainda com o queixo em seu ombro. Messi não diz palavra, em momento algum, nem mesmo quando beijo e mordo o pescoço de Rodrigo, nem mesmo quando faço Rodrigo ficar de frente para mim e beijo sua boca.

Beijar De Paul, na frente de Messi, me deixa eletrizado. Acho que não posso dizer que não significa nada. Ele é quente e me traz para perto. Seu cheiro é delicioso. Seu gosto também, uma mistura de charutos, uísque e chiclete de menta. Minhas mãos descem e aperto sua bunda com força. Acho que estou gostando um pouco demais disso e me perco um pouco. Mas são segundos. Logo me afasto e, ainda tendo as mãos de Rodrigo em minha cintura, me volto para Messi:

— Não quer vir, amor? Ou essa é uma brincadeira que só você pode brincar?

Messi vem com tudo e se coloca entre nós dois, e a princípio acho que vai me dar um soco, mas o que ele faz é me beijar. Acho que existe alguma redenção neste beijo, alguma sinalização de trégua, quase um agradecimento. Só acho, porque não tenho como saber com Rodrigo se colocando entre nós e transformando o nosso beijo em um beijo triplo.

Não tenho a menor dúvida de que não é a primeira vez que Rodrigo faz isso. Ele sabe muito bem como dar atenção a cada um de nós, vamos dizer assim. Meu Deus. É difícil manter o foco. Com muito esforço, consigo afastar De Paul do nosso beijo e continuo de onde parei com Messi.

De repente, ouvimos uma batida na porta. Olhamos um para o outro e começamos a rir, os três. Mando os dois ficarem quietos. Rodrigo me rouba mais um beijo e mordo seus lábios para que ele pare, mas ele não para. Já está abrindo a calça, Messi prestes a gritar para que ele pare, e novamente batem à porta. Em seguida, ouvimos uma tosse constrangida e uma voz feminina que, com muita delicadeza, avisa que a festa está acabando e precisamos desocupar a sala. Temos cinco minutos.

Rodrigo insiste que ainda dá tempo, e tenho vontade de rir. Mando ele calar a boca mais uma vez. Ele pede um último beijo, para ninguém em especial, acho que pra quem estiver a fim, e Messi está, pois tenho que ver os dois se beijarem demoradamente na minha frente antes dele finalmente sair da sala e deixar eu e Messi a sós.

Só nós dois, sabemos que temos poucos minutos até que a moça venha nos chamar novamente, dessa vez em definitivo. Estamos os dois nos ajeitando, às pressas, um choque de realidade de repente tomando conta de tudo.

— O que foi isso?

— Não gostou, Leo? Atrapalhei seu momento com o garoto?

— Estou falando do que você disse. Sobre eu ser o amor da sua vida. Sobre você ser apaixonado por mim até hoje. Isso é verdade?

— Não te parece verdade?

— Você só me tratou mal desde que chegou ao Miami.

— Isso não é totalmente verdade, mas ainda que fosse: o que queria que eu fizesse? Eu não sabia se você ainda me queria.

— Foi você quem terminou comigo!

— Isso já faz mais de quatro anos, Leo. Supera, caralho. Eu errei! Não devia ter terminado. Caralho, eu errei! Você errou tanto comigo e não pensa duas vezes em me atacar quando é o contrário.

— Nunca pensei que...

— Me diga a verdade. Atrapalhei você com o Rodrigo? Vocês estão tendo algo? Porque se for o caso, por mais que me doa, vou respeitar.

— Não temos nada, eu já não disse? Somos amigos, foi uma besteira.

— Eu sei. Apenas uma brincadeira.

— Você não parecia estar achando ruim...

— Estou tentando alcançar você de todas as formas que posso.

— Você não precisa disso. Eu já sou seu.

— É?

— Nunca deixei de ser. Só que, Luis...

— O quê?

Mais batidas na porta. Messi me lança um olhar cheio de significado, abre a porta e se vai.

Não sei se agi certo. Fiz tudo o que pude. Conto até dez, ajeito meu cabelo, todo bagunçado dos beijos de Rodrigo e de Leo, e saio dali também, indo na direção contrária da de Messi pelos corredores mal iluminados do restaurante.