Capítulo 1

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Esqueça tudo. As temporadas ruins, os acordos financeiros obtusos, as amizades deixadas pelo caminho, os erros nos cálculos de rota, os casinhos de uma temporada só. Esqueça aquele time que um dia foi seu lar, as escolhas que você fez que causaram todas as rupturas pelas quais passou.

Esqueça tudo. Apague quem você era e reescreva outra trajetória. Outra narrativa, outras cores. A cor rosa te cai tão bem! Vivendo agora em uma cidade tão seca quanto são áridos os seus pensamentos, abrace a mudança e seja grato por ela.

Eu digo para a imprensa que nunca estive tão feliz. Eu marco gols com uma facilidade que surpreende até a mim. Sinto que tudo o que eu digo é verdade, mas eu não digo toda a verdade quando digo o que sinto.

Porque se o fizesse, estaria arruinando essa redoma de segurança que construí aqui em Miami. Uma redoma tão frágil. Estaria assumindo que falta algo. E aí teria que admitir também que sei muito bem o que é esse algo que falta.

É tarde da noite, estou sozinho em casa. Antonella saiu em mais uma noitada com Posh e as garotas. Ela está amando essa vida, eu fico feliz por ela. Os meninos estão de férias em um acampamento pelas próximas semanas.

Estou tão encantado com esse momento só para mim quanto apavorado com as possibilidades que ocasiões assim me trazem. Porque já sei que caminho que vou tomar. É sempre o mesmo. A minha saudade é muito previsível, a força com que ela me arrebata sempre me causa espanto. Deixo meu uísque na mesinha do lado da cama. As luzes estão todas apagadas. Deito na cama. Fecho os olhos.

Imediatamente aquela lembrança envolve meu cérebro, meu coração. Vem correndo me dominar por completo, o dia inteiro esteve represada, esperando por esse momento para poder vagar livre pelo meu pensamento.

Sempre a mesma lembrança. Lambo a palma da mão muito devagar, então começo a me tocar.

Vou pra cima de Suárez, tirando a taça de sua mão e beijando sua boca grossa, doce, macia e tão minha que o único erro aqui foi o tempo que passamos longe um do outro.

Ele aceita meu beijo e faz mais, me ergue com seus braços, minhas pernas envolvendo seu quadril, como faz quando comemoramos um gol. Com a sutil diferença de que agora estamos nos beijando. E assim saímos dali, com ele me levando pelo colo desse jeito, aos beijos.

Vamos tropeçando em móveis, quase caindo, gargalhando, até que encontramos um quarto, imagino que seja o quarto dele. Luis me joga na cama sem cuidado, diante de mim tira a camiseta e então a calça. Fica só de cueca, apertando o pau por cima do tecido, me encarando assim.

Nossa primeira vez, só eu e ele. Mil anos atrás. Tivemos muitas depois dessa, mas de alguma forma, é sempre a essa vez que recorro quando me permito pensar em Suárez. Essa é a minha lembrança favorita, que eu guardo em meu coração como um artefato precioso e dourado, que uso só quando preciso.

Ultimamente tenho precisado muito. Dou um tempo. Prolongo aquela cena, Suárez me olhando antes de me comer. Respiro fundo, impaciente, retomo a lembrança e volto a me tocar, agora com mais força.

Tiro a roupa apressadamente, ele apenas me observa, ainda em pé na frente da cama, se tocando por cima da cueca.

- É sério o que você diz, goat? - A voz dele treme, lhe traindo - É sério que só quer a mim?

"É muito sério", eu digo, indo em sua direção pela cama, chegando até a beirada e alcançando sua cintura. "Eu amo você", digo sem medo, pois dizer isso já não o repele mais. Ele acredita em mim, finalmente. Suspira baixinho quando repito que o amo e abaixo sua cueca, colocando seu pau duro na minha boca.

- Era isso o que você queria, não era? - Suárez me pergunta em um sussurro malvado.

Não tenho porquê negar, respondo que sim, com a boca cheia. Ele acaricia meu rosto e puxa meu cabelo, carinhoso, enquanto lambo seu pau da base até a cabeça, indo e voltando. Me demoro tanto quanto posso, eu amo tanto o seu gosto. Quando ele mete fundo na minha garganta, lembro que existem outras possibilidades ainda melhores para nós dois.

- Por favor, vem... - Nem sei o que estou pedindo aqui, suplicando, na verdade. Mas Suárez sabe, sem que eu precise dizer mais nada.

Agora vem a minha parte favorita. Me ajeito na cama e vou mais devagar, para não me precipitar e terminar antes. Meu jeito favorito de sofrer é prolongar essa lembrança até ela se tornar fisicamente dolorosa. Torço os dedos dos pés, agoniado. Espero. Recomeço com sofreguidão.

Agora.

- Calma, você tá muito apressado. Seja bonzinho e te dou tudo o que você quer - Ele ri, debochando de mim. Meu rosto queima de vergonha e desejo, Luis segura meu maxilar em um gesto rude, tira o pau da minha boca e me empurra para a cama, me beijando por todo o corpo.

- Agora é só eu e você, tá bem? - Ele sussurra chegando ao meu ouvido, me enclausurando em um abraço de urso contra o colchão ao soltar todo o peso do seu corpo sobre o meu.

Agora.

Respondo com um beijo, esfregando meu quadril no dele. Não imaginei que seria tão bom tê-lo só pra mim, seu corpo forte e sólido, seus olhos negros que se fecham quando ele me beija. Os meus olhos se fecham também.

Quero morrer ou chorar, essa lembrança é tão gostosa. E me machuca tanto.

Agora.

Me viro sobre ele e sento em seu quadril, ele me ergue pela cintura e me penetra de uma vez só. Seco, direto, como ele é em tudo na vida. O que eu já sei. Cavalgo por cima dele, deixo que me toque enquanto me come, deixo que meta fundo, sem dó, deixo que faça o que quiser de mim. Me entrego porque agora eu sei que ele é tudo o que eu quero. É só o que eu quero.

É só o que eu quero.

É só o que eu quero.

É só o que eu quero.

Agora.

Um choque de prazer sacode meu corpo e me tira o ar. Um segundo. Tão pouco e ao mesmo tempo, muito. Muito, muito. Insuportável de tanto. Meus quadris e minha mão estão sujos. Me viro de lado na cama, arfando, cuidando para não fazer mais bagunça. Tão bom. Tenho vontade de chorar, é verdade a sensação de esvaziamento que vem logo em seguida. E como é cruel estar sozinho quando ela chega.

Não vou chorar, esta foi uma escolha que fiz.

Uma escolha da qual me arrependo.

Uma escolha que não posso mudar.

Consigo esquecer tudo, só não consigo esquecer isso: se hoje não tenho mais Suárez, é por que eu assim o quis. Eu deixei ele ir embora, não lutei por ele o suficiente. E a culpa é toda minha. Mas entre essas quatro paredes, esta é uma conclusão que não me ataca, porque é tão pragmática e cômoda. Perdi Suárez e não há nada que eu possa fazer a respeito disso.

Não há nada que eu posso fazer e isso nunca vai mudar. Nossos caminhos nunca mais vão se cruzar. Que bom. Assim posso me reinventar e criar minha própria narrativa. Que bom, esse amor e esse desejo não mais me aprisionam. Que bom.

Tento dormir. Mas se é tão bom assim, por que essa saudade ainda me persegue? E o que faço com ela? Não sei. Vai ser assim pra sempre? Tantos anos se passaram e ainda... Não sei, caralho. Prendo a mão suja entre as pernas, com raiva.

Tento me acalmar. Como todos os outros sentimentos que tenho em relação a Suárez, este também deve passar, contanto que eu consiga me manter longe dele como tenho feito nos últimos anos.

Guardo a lembrança de volta onde ela deve ficar, no lugar mais fundo do meu coração. Prometo nunca mais usá-la, essa foi a última vez, eu juro. Foi só saudade demais e uísque demais e solidão demais.

Foi só uma distração qualquer. Não me atinge, não de verdade.

Não há motivo para se preocupar. É passado.

Que bom.

Pra ter você | Livro 06 | Messi & SuárezOnde histórias criam vida. Descubra agora