Capítulo 7

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Qual é o plano de Suárez? Me enlouquecer? Qual é a intenção de Suárez? Acabar com o pouco de paz que me resta? Tudo nesse salão soa a desespero: o discurso emocionado de Beckham, o riso frouxo de Suárez, a histeria da platéia. Ou pode ser eu, com um atraso de reação que me faz ser o último a levantar da cadeira e aplaudir, lívido, o anúncio da contratação do meu ex-namorado pelo único clube que jamais imaginaria que ele viria a jogar: o meu.

Suárez está lindo. Jeans, barba feita e uma camiseta branca sem estampa que é perfeita para seu gesto mais esperado nesta amanhã: vestir a camisa do Inter Miami por cima e ser soterrado pelos flashes dos fotógrafos. O que ele faz, meio atrapalhado, e assim que está vestido com a camiseta de seu novo time, o nosso time, procura meu olhar. Ele fica lindo de rosa. Eu não posso pensar em todas essas coisas. Eu me proíbo. Suárez fica perdido ao ver que não retribuo seu olhar. Insiste, procura pelo meu olhar mais uma vez em instantes e eu me esquivo, incapaz de encará-lo de volta. Não vou fazer mais do que já fiz, quase chorando em seus braços segundos atrás, na frente de todos. Eu preciso ter alguma compostura, pelo amor de Deus.

E fica pior. Em algum ponto daquele momento interminável com todos nós no palco, Becks acha por bem chamar os outros meninos que eram do Barcelona para o palco. Jordi Alba, Sergio Busquets, Luis e eu nos postamos no diminuto espaço, enquanto Beckham devaneia no microfone sobre a "coincidência" do acaso de ter tantos colegas de time reunidos novamente em um novo contexto, em um novo desafio.

Incapaz de me conter, novamente falho e abraço Suárez mais uma vez. E fica pior! Me demoro mais do que o recomendado no abraço a Suárez. Choro mesmo, emocionado. É avassalador o quanto sou patético. A imprensa, por sua vez, adora. Os flashes me cegam momentaneamente. Não tenho tempo de dizer nada, e nem Luis, porque a coletiva finalmente acaba e ele, tão logo sai dos meus braços, é levado para uma outra sala, provavelmente para mais entrevistas e declarações.

Só volto a ver Suárez em nosso primeiro treino do ano, muitas horas mais tarde naquele mesmo dia. Como não poderia deixar de ser, nos colocam para treinar em dupla e os fotógrafos do clube estão lá, gerando mais material para as redes sociais do Inter Miami. Minhas tentativas de falar algo são um suplício para Suárez e para mim, sou sempre cortado por alguém que nos interrompe e nos manda fazer outra coisa. Afinal, é um treino.

Três dias se passam, e então temos nosso primeiro jogo. Muita pompa e circunstância, muita cena para a imprensa e, mais uma vez, mal podemos nos falar. Começo a me irritar por dois motivos que se misturam. Me irrito porque aparentemente nunca vou conseguir ter um momento de paz para falar com Suárez, e me irrito porque aparentemente, de um dia para o outro, passei a viver em função dele. É como se todos os anos que passamos longe tivessem sido varridos para debaixo do tapete e tivessemos voltado para o mesmo exato ponto que nos afastou, tempos atrás. Tenho medo de estar entrando de novo naquele vórtice de loucura que era a nossa relação, e não sei se existe outro jeito de existirmos juntos se não for assim: sempre obcecados um pelo outro.

O jogo é mediano, na medida em que tudo funciona apenas bem. Ganhamos, uma vitória tímida que é resultado de um time que está apenas aquecendo para um ano inteiro de batalhas. Ao fim da partida, no vestiário, é a primeira vez que finalmente me vejo tendo uma oportunidade de falar com Suárez. Como esta é a minha sorte, só estamos nós dois aqui e dou de cara com ele saindo da ducha, vestindo apenas uma toalha enrolada na cintura. Não sei como aquela toalha não cai. E como pode ser uma toalha tão branca e felpuda. É uma ótima toalha. Estou perdido nesses pensamentos muito lógicos quando o uruguaio decide iniciar a conversa.

— Meu rosto está aqui em cima, Messi.

— Desculpe... Meu Deus. Achei que nunca conseguiria ficar a sós com você e poder te perguntar: o que veio fazer aqui?

— Aqui? Tomar banho.

— Não seja bobo, não vê como estou nervoso com tudo isso?

— Com tudo isso o quê?

— Suárez, o que veio fazer no Inter Miami? Você disse que não vinha.

— Você realmente não me quer por perto, não é? Caralho... Você já foi mais educado, um dia.

Ele se senta e veste a cueca por debaixo da toalha. Joga a toalha para o lado e me olha, contrariado. Eu ainda não me arrumei para ir embora e me sinto feio e fedorento ao lado dele, que cheira a sabonete, hidratante e uma quantidade absurda de erros que eu gostaria de cometer, mas não posso.

É absurdo o quanto ele é gostoso assim, sem camisa, só de cueca. Vou me matar essa noite, sem falta. Me sento ao seu lado.

— Desculpe, Lucho. Não quis ser rude. O que quis dizer é que não entendo o motivo de ter vindo. Achei que estava bravo comigo.

— Eu te disse que a proposta era boa. E, de qualquer forma, eu já ia sair do Grêmio. Nem tudo é sobre você, Messi.

— Começo a pensar que nada é...

— Olha só quem está sendo bobo agora...

A mão dele vai até a minha nuca, em um aperto firme como ele costumava fazer antigamente. Outros tempos. Ficamos nos encarando, e talvez ele me beije, o que pode ser a minha ruína. Só depende dele. Ele tira a mão da minha nuca.

— Fique tranquilo, não vim para atrapalhar você. De nenhuma forma. Não viu como me mantive distante desde que cheguei?

— Foi de propósito?

— Não quis tomar seu espaço, sua reação na coletiva foi tão estranha... Entenda que estou aqui agora, e quero ter a melhor convivência possível com você. Só vai funcionar se for assim. O que você quer? Que eu fique longe? Que eu fique perto? Me diga, é só você dizer e eu faço.

— Lucho... Por favor, Luchito. Não sei o que te dizer. Tenho medo do que eu quero. Você sabe que é impossível pra mim ignorar a sua presença.

— Mesmo? Pelo o que vi por aí, tinha entendido que tinha outras distrações, outros amiguinhos, que não se importaria comigo.

— Do que está falando?

— Nada. Fique tranquilo, ok? Não vou te incomodar. Você deixou bem claro que o que tivemos ficou no passado. Eu vim pelo dinheiro.

— Que merda de conversa é essa...

Ele se levanta, me encara uma última vez. Sua mão faz um carinho em meu rosto, mas mesmo esse jeito suave é interrompido quando ele desliza a mão e segura meu queixo com firmeza, sem gentileza alguma, me forçando a encará-lo.

— Estou negociando comigo mesmo tudo o que posso ceder para estar com você. E é irônico, porque você nem parece me querer. Por quê eu faço isso? Me explica.

— Eu nunca disse que não quero você...

— Ah, que espertinho. O gênio do "falar sem falar". Você fica tão lindo mentindo, amor. Por isso consegue tudo o que quer, especialmente de mim.

Ele solta meu queixo e dá dois passos para trás, como que para me ver por inteiro.

— Luis, existe algo que eu não sei? Por que você está tão reticente assim comigo?

— Só estou tentando manter o foco. Falando nisso, Messi...

— O quê?

— Meu rosto está aqui em cima.

Ele gargalha, rapidamente termina de se vestir e me deixa ali sozinho, com muito o que pensar.

Pra ter você | Livro 06 | Messi & SuárezOnde histórias criam vida. Descubra agora