Capítulo 8

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Foda-se essa história de "dar um espaço". A quem estou querendo enganar? O que ganho querendo me fazer de difícil? Todo plano que eu bolo fracassa pelo motivo de eu ser a pessoa mais burra que já pisou na face da Terra. Já notaram isso? Estou completamente perdido. Messi domina meus pensamentos o tempo todo. Foi burrice achar que seria diferente, mas se não fosse assim, não seria eu. Busco seu olhar e sua presença a todo momento, se estamos treinando ou jogando. Vir para o Inter Miami foi a maior idiotice que já fiz.

E não me arrependo.

Não me arrependo, porque mesmo que seja só para poder olhar para Messi, já valeu a pena. Nesta primeira semana no clube, tentei não forçar a barra. Estou tentando. Sei que não vai ser fácil, se é que será possível, ter algum tipo de normalidade em nossa relação. Se vamos ser amigos ou apenas tolerar um ao outro. Ainda assim, não sou de todo bobo. Eu percebo os olhares de Messi para mim, eu vejo que ele também me busca por onde estou.

Quando decido falar com ele pela primeira vez  justo quando estou saindo do banho, vestindo apenas uma toalha enrolada na cintura, também não é por acaso. Faço de propósito para provocá-lo, e é uma graça ver ele todo sem jeito. Será que lembra de mim? Das nossas noites juntos, das escapas durante os treinos, de todas as vezes que eu pegava o carro de madrugada para vê-lo?

A questão é que, tirando as lembranças, não existe nada que nos sustente. Tirando seus olhares gulosos em minha direção, e os seus silêncios, não existe nada que me dê indícios que eu poderia tentar novamente.

Eu deveria? Bom, eu vim até aqui, não é mesmo?

No fim do nosso primeiro jogo juntos pelo Inter Miami, finalmente conversamos rapidamente no vestiário. Uma conversa que carrega mais significados pelo o que não é dito do que pelo o que sai de nossas bocas. E, mais uma vez, fico com aquilo na cabeça. Eu vim até aqui, e eu devo ter um motivo para isso, ainda que me negasse a admitir a princípio.

No dia seguinte, mais um treino. Aos poucos vou entrando na rotina, acho que com o decorrer dos dias vai ser ainda mais tranquilo. Minha adaptação tem sido ótima, fui recebido muito bem pelo time, são todos muito cordiais e dispostos a colaborar. É um bom time, afinal. Beckham não mentiu.

Treinando, no entanto, me deixo levar pela ideia de incendiar essa paz que começa a se consolidar. Porque entendi que não vim até aqui em busca de paz. Desde aquele telefonema, eu soube que não era paz o que eu estava procurando ao decidir deixar Messi voltar para a minha vida. É por isso que, hoje, quando me colocam para duplar com ele, tenho uma intenção formada em minha mente.

O exercício consiste em correr e parar bruscamente. Me coloco por atrás de Messi e seguro sua cintura a cada pausa, em uma delas digo em seu ouvido que senti sua falta. Ele se vira, me olha confuso. E então, sorri. Acha que estou brincando.

Em outro momento, coloco meu braço por cima de seus ombros enquanto o treinador fala conosco. Messi corresponde, me abraçando pela cintura. Cochico em seu ouvido que o adoro. Ele sorri para mim, seus olhos brilhantes. Eu o amo tanto. Perdidamente.

Acho que estou no caminho certo, pois durante todo o treino seguimos nesse ritmo. Sempre nos olhando, buscando contato físico, rindo um para o outro. Na internet, fotos do treino são divulgadas e os comentários felizes pela nossa volta (nos gramados) me mostram que não estou sendo tão emocionado assim. Eu tenho razão. Acho que existe algo, que ainda pode haver algo.

Mais uma vez, é apenas no vestiário que algo finalmente acontece. Me demoro de propósito, espero até que todos tenham ido embora depois do treino. Coincidentemente ou não, Messi também, até que ficamos só nós dois nos largos bancos entre os armários. Assim como no dia anterior.

Pra ter você | Livro 06 | Messi & SuárezOnde histórias criam vida. Descubra agora