Capítulo 5

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Foi idiotice falar daquela forma ao telefone com Suárez. Me exaltei. Mas também... Ele me ligar de madrugada para falar de dinheiro, para se certificar de que não vou incomodá-lo no Inter Miami? Francamente, o que ele esperava?

É um choque atender um telefonema de madrugada e o assunto ser tão mundano, quase mesquinho. Eu me senti ofendido, é claro, era madrugada e eu estava pensando nele. Esperava um pouco mais. Esperava que falasse de nós, por que não? Por isso também a frustração foi tão grande.

E então, o jogo do Uruguai contra a Argentina. Tudo errado. E ainda perdemos, mas antes ainda deu tudo muito errado. Eu fui todo afobado para falar com Suárez, me atrapalhei todo, De Paul surgiu do nada e se intrometeu no nosso momento... Sério. Acho que não é para ser. A confusão quase no fim do jogo, o Ugarte falando aquelas atrocidades... Patético. Eu olhava para o banco de reservas do Uruguai e Suárez estava olhando para o chão, decepcionado.

Eu acho mesmo que não tem como dar certo. Tenho que aceitar que este tempo passou, os anos se passaram, não existe mais nada a ser construído nesta terra revirada.

Ainda temos mais alguns dias jogando em países pelo mundo por conta das eliminatórias da Copa 2026. Tão repentino quanto se iniciou, meu contato com Suárez mais uma vez se encerra. Não nos falamos mais depois do jogo no Estádio Centenário. Ele não procura a mim e nem eu a ele.

As semanas passam. Festas de fim de ano, férias, descanso com a família. A ideia de ter Suárez novamente é um fantasma que quase deixa de me assombrar em meio a tantos compromissos. Quase. Porque ainda existem as noites solitárias, as profundas memórias fáceis de acessar tão rápido quanto meus olhos se fecham.

Entendo que tudo isso é passado. Tudo o que preciso esquecer, eu sei. Estou cansado de saber.

Quando o novo ano começa, me sinto disposto a tentar novamente. Inícios de ano são sempre sobre isso, afinal. Chegando ao clube para a reapresentação do time, sinto uma vibração diferente no ar. É claro, é começo de temporada, novos atletas serão anunciados. Sei de algumas negociações e estou ansioso para saber quanto do que foi especulado será concretizado. Sei que existe um esforço enorme da parte da diretoria para tornar o Inter Miami tão competitivo quanto nunca se viu antes em sua curta história.

Estou organizando meu armário e cumprimentando um ou outro colega que passa, quando Beckham vem até mim. Para o patrão estar aqui hoje, deve ser um dia especial mesmo.

— Messi, como foi de final de ano?

— Tudo ótimo, obrigado. E sua família, como estão todos?

— Todos ótimos. Você recebeu...

Beckham tem um ar ansioso hoje que não combina muito com ele. Me olha cheio de expectativa, como uma criança que mal pode esperar para abrir seus presentes de natal. Só que o natal já passou, certo?

— Sim, Becks, recebi todos os potes de mel que me mandou. Foram muitos, viu, não precisa tanto. Eu agradeço, mas realmente não precisa.

— Que bom que gostou!

— Você é um excelente apicultor.

— Acho que eu sou mesmo.

— Bom, então...

Tento encerrar a conversa, mas ele chega mais perto, colocando um das mãos no meu ombro e falando baixinho em meu ouvido, em um tom conspiratório que me parece despropositado.

— Messi, quero tanto ver você feliz aqui no Inter Miami. Faço o que for preciso para isso. Já andou por aí pelo clube, já encontrou todos?

— Ah, quase todos, eu acho.

— Não viu... Não viu ele?

— Ele quem? Becks, que cara é essa? Você tá estranho.

— Nada, não é nada.

— Beckham...

Ele sorri seu sorriso mais charmoso, o que é impossível de lidar ou de tentar continuar argumentando. Mais uma vez, aperta firme a mão no meu ombro, e então vai embora.

Sem entender nada, termino de arrumar meu armário e me encaminho para o salão de imprensa, onde todos os jogadores, os novos e os antigos, devem se reunir com nosso técnico para uma preleção inaugural de temporada.

Vai ser um bom ano, eu sinto. Um ano bom e tranquilo.

Pra ter você | Livro 06 | Messi & SuárezOnde histórias criam vida. Descubra agora