Capítulo 3

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— Alô? Suárez? É você?

— Oi, Leo. Desculpa o horário. Acordei você?

— Não, eu estava... Estava lavando as mãos.

— Ah. Ok, eu acho.

— Aconteceu algo?

— Faz tempo, não é?

— Muito tempo, tempo demais. Levei um susto quando vi seu nome na tela.

— Desculpe, precisava falar algo com você e fui um pouco impulsivo ligando assim do nada.

— Está tudo bem? Como está aí no Brasil?

— Tudo ótimo. Tudo indo muito bem no time, as crianças estão bem, Sofi também...

— Não falou de você.

— De mim? Ah, é isso, tudo bem no trabalho e com a família, então estou bem também. Tudo em harmonia.

— Trabalho, família, casamento... Tudo perfeito. Não te falta nada, então.

— Aparentemente nada.

— Vi suas fotos no Instagram, uma conquista atrás da outra. Parabéns.

— Obrigado. E você, está feliz?

— Estou bem. O novo clube é bom para mim, tem sido divertido.

— Só isso?

— O que mais espera que eu diga?

— Acho que nem eu sei...

— Não estou mais com o francês, se é isso que quer saber.

— Eu e minha curiosidade...

— Não estou nem com Griez, nem com mais ninguém.

Nem com mais ninguém. Que enfático.

— Você gostou de saber?

— Sempre gosto de saber de você.

— Bobo.

— Mas não foi para saber disso que liguei.

— Não? Então me diga.

— Becks te falou algo?

— Não. O que ele teria para me falar?

— Ele me fez uma proposta.

— Nem brinca.

— É sério.

— Para de rir, Luís. É sério?

— Sim. Ele quer que eu vá para o Inter Miami na próxima temporada.

— Ah.

— Essa é a sua reação?

— Minha reação verdadeira seria censurada mesmo nesse horário.

— O que é isso, Messi... Não começa.

— E o que você respondeu?

— Ainda não respondi. Estou pensando.

— Analisando prós e contras? O que está pensando tanto?

— Financeiramente e profissionalmente é uma proposta muito interessante. Eu digo, eu estou feliz aqui no Brasil, mas jogar no Inter Miami pode ser algo incrível para minha carreira. Não tenho muitas temporadas mais para jogar, você sabe como está o meu joelho, então pode ser uma boa. Encerrar em alto estilo, sabe? O dinheiro é ótimo, é uma proposta irresistível.

— O que está te segurando de dizer sim, então?

— Messi...

— O quê?

— Você sabe muito bem.

— Eu sei o quê? É a minha presença no time que te impede de aceitar? Não quer voltar a conviver comigo?

— ...

— Bobo. Sei o meu lugar, Luís. Você deixou bem claro naquela noite, não? Você é um homem focado na sua família e no seu trabalho, não há mais espaço para mim. Não é isso?

— Você tem raiva de mim, não é?

— Longe disso. Apenas sei do meu lugar, como disse.

— Gordinho, por favor... Estou tentando conversar com você. Não seja tão cabeça dura, por favor.

— O que quer que eu te diga, amor? Eu te amava tanto, e você me deixou. Se passaram quatro anos, você tem seus objetivos e está focado neles. Não sou uma ameaça diante de um homem tão determinado quanto você. Não entendo porque está em dúvida quanto a assinar o contrato.

— Você tem raiva de mim.

— Chame isso como quiser.

— Sabe que fui honesto com você desde o começo. Naquela noite, quando terminamos, fui sincero sobre os meus motivos. Não foi por falta de amor, acho que foi amor até demais. A gente estava se consumindo, Messi. Aquilo ia acabar em tragédia se um dos dois não colocasse um ponto final.

— É cruel demais terminar uma história como a que tivemos apenas por medo.

— Você não pode me acusar disso.

— Não estou te acusando de nada, estou apenas mostrando o meu ponto de vista, o que você não quis saber quando terminou comigo, porque não foi um acordo entre nós dois, foi uma decisão sua que você apenas me comunicou. Não quis saber o meu lado. Estou dizendo agora. Você terminou comigo ainda que nós dois nos amássemos, e você lembra que antes de ter feito essa promessa para sua esposa, tinha me feito outra?

— Não acho que...

— Você tinha prometido para mim, Luís. Que íamos jogar juntos até o fim, que encerraríamos nossa carreira juntos. Isso independe de estarmos transando ou não, isso não era sobre sexo. Era sobre amizade, sobre lealdade. Mas você terminou comigo e foi embora.

— Não fui embora porque eu quis, Messi...

— Não importa. Não dá para escolher um caminho oposto do que estava seguindo até então e ficar surpreso se ele te leva para onde você não queria.

— Quer saber? Pode ficar tranquilo. Não vou aceitar a proposta do Beckham.

— Não aceite, ou aceite. Pra mim, tanto faz.

— Não sabia que tinha tanto ódio de mim. Não faça isso, amor. Não faz bem sentir isso.

— Ah, não se preocupe comigo. Eu sentir ódio de você não seria a pior coisa que poderia me acontecer, Luís.

— O que seria a pior coisa que poderia te acontecer, então?

— Ainda amar você, mesmo passado todos esses anos.

— Não diga coisas que...

— E eu ainda amo. Patético, não é? Ainda amo você e me ressinto da sua falta. Ainda sofro feito um imbecil porque você me deixou. Ainda fecho os olhos e lembro do seu gosto. Mas tanto faz. Como sabemos, o que sinto é indiferente para as suas decisões. Quem tem que conviver com esses sentimentos sou eu. Então, aceite a proposta e venha terminar sua carreira em grande estilo. Ganhe rios de dinheiro, crie a sua narrativa. Como se eu não existisse. Tanto faz.

— Não vou aceitar a proposta. Acabei de decidir.

— Ótimo. Melhor ainda.

— Boa noite, Messi.

— Boa noite, Suárez.

Pra ter você | Livro 06 | Messi & SuárezOnde histórias criam vida. Descubra agora