Capítulo 14

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Jihyo encarava nervosa a janela de seu escritório, vendo todos os alunos passarem conversando animadamente. Só havia uma pessoa que ela queria ver, mas parece que era a única.

Fazia exatas três semanas que Tzuyu não comparecia ao trabalho, não estava em casa e não atendia suas ligações. A última vez que se falaram foi um tanto tensa, com Tzuyu cortando todo tipo de pergunta que Jihyo fazia e dizendo vagamente que tiraria um tempo para ela. Mesmo sem entender, preocupada, e com vontade de socar a terapeuta, Jihyo lhe deu espaço e tempo, mas estava nervosa com todo o mistério que Tzuyu havia colocado sobre si.

Jihyo sabia que sua amiga não era gentil. Tzuyu podia agir como uma criança as vezes, mas era durona e intimidadora. Muitas vezes, não era uma pessoa boa e não lidava muito bem com não ter o que ela quer. Sendo filha única, Jihyo entendia perfeitamente. Ela só queria proteger a única amiga que nunca saiu do seu lado ou pediu algo em troca da sua amizade, mas achava que tinha cometido alguns erros por conta disso.

Suspirou, balançando a cabeça e tentando se focar em seu trabalho, que também estava um inferno. Sana ainda tentava conseguir informações de Tzuyu, muitos pais iam na escola dia e noite tentando comprar a aprovação de seus filhos e uma certa morena de olhos observadores estava capturando sua atenção mais do que devia.

— Com licença senhora Park.

Jihyo suspirou, assentindo desgostosa quando Beomgyu entrou na sua sala. O tímido homem sorriu nervoso e juntou as mãos na frente do corpo. Tinha pavor absurdo de Jihyo, mesmo ele e ela sabendo que o marido alto e musculoso de Beomgyu estaria ali em menos de um segundo para defender o pobre homem caso algo ocorresse.

— Diga.

— Queria saber como vão ficar os horários agora que a senhora Chou retornou.

Jihyo imediatamente levantou a cabeça, metade confusa e metade assustada. Sua mente piscava em alerta absoluto para aquela informação.

— Como assim?

— A senhora não viu? — Ele perguntou confuso. — Eu não devia ter falado?

— Não! Era para falar! Onde está Tzuyu

— Estava indo para a sala do segundo ano.

Sana.

O coração de Jihyo disparou em seu peito e ela levantou de sua cadeira rápida como um raio e saiu correndo. Os corredores estavam meio vazios e era difícil correr em um Scarpin preto de ponta fina, mas Jihyo fazia milagres.

Não foi difícil reconhecer a figura alta e vestida de preto que caminhava tranquilamente pelo correcor. Os cabelos longos e negros de Tzuyu caíam por suas costas como uma cachoeira, a pasta escura era segurada com firmeza e seu andar era firme, confiante. Jihyogritou, fazendo com que a tailandesa parasse e se virasse.

Diferente do que achou, Tzuyu não esboçou nenhuma reação ao ver a amiga descabelada e ofegante correndo atrás de si. Ela a olhou por cima da franja com frieza e virou totalmente o corpo, esperando que uma Jihyo incrédula recuperasse o fôlego.

— O que caralhos significa isso!?

— O que parece?

Jihyo fechou os olhos, passando a mão nos fios castanhos com força.

— Tzuyu! Você não atendeu minhas ligações, desapareceu da face da Terra e simplesmente aparece aqui hoje querendo dar aula!?

— Sim.

Jihyo ficou olhando para ela assustada. Havia alguma coisa mudada em Tzuyu, aquela não era sua melhor amiga. Pelo menos, não a manteiga derretida que deixou em casa três semanas atrás.

— Tzu, o que aconteceu na terapia? — Tzuyunão respondeu. — Ela te fez algo? Quer denunciar? Posso te dar mais dias de folga se-

— Nada do que não deveria ter acontecido, não se preocupe. Deseja algo mais ou posso colocar em dia as matérias que minha turma perdeu?

Jihyo deu um passo para trás, os olhos um tanto marejados. Tzuyu nunca tinha sido tão... fria e dura com ela.

— Tzu, você sabe que eu sou a última pessoa do mundo que julga você. Eu sempre te acolhi e quero continuar acolhendo. Por favor, me diz o que aquela mulher te fez acreditar.

— Ela me fez enxergar a loucura das minhas ações, só isso. — Tzuyu trocou o peso de uma perna para a outra. — Era o que você devia ter feito como minha amiga. Foi loucura o que fizemos.

— Eu melhor do que ninguém sei que estou errada! — Jihyo se defendeu, ofendida. — Mas eu só queria proteger você! Sabe que nunca fui capaz de aceitar que você seja derrotada.

— E por isso erramos duas vezes. Não existe coerência nos meus sentimentos e estou disposta a tirá-los para nunca mais voltar.

— Você se ouve!? — Jihyo chiou, incrédula. — tzuyu, por favor-

— Chega Jihyo, você sabe que estou certa.

— O que eu sei é que você está cometendo um erro! Quantas vezes você se apaixonou na vida? Em quantas você tinha esse brilho no olhar?

Tzuyu ficou em silêncio.

— É exatamente isso! Eu sei que existe o receio da idade e que você se acha uma predadora, não posso tirar isso de você. Mas você não vai tirar esse sentimento porque quer!

— Eu preciso. — Ela falou firme. — Você não vai, e não pode me impedir.

— Só me deixe provar que você pode ser correspondida!

Tzuyu lhe olhou por um segundo antes de desviar o olhar e Jihyo viu, naquele mísero segundo, que sua amiga ainda estava ali.

— Kiwi, por favor. Ela pode sair e viver as próprias experiências, vocês podem se encontrar depois, mas sei que pelo seu olhar, você não vai deixar de amá-la, e ela não vai odiar você.

— Você não sabe. — Ela falou baixinho.

— Eu sei sim. — Ela balançou a cabeça. — Quantas vezes eu errei com você?

Tzuyu lhe olhou pensativa. Jihyo encarou ansiosa aquele brilho no olhar retornando aos poucos. Ela ia conseguir.

— Senhora Chou?

Sana a encarou assustada, surpresa e confusa. Usava o uniforme da escola que Lisa odiava, aquela saia curta. Os cabelos estavam soltos e ela se aproximava cautelosa, um tanto temerosa.

— O que está fazendo aqui? — Jihyo perguntou nervosa. — Ande, volte para sua sala e-

— Retorne imediatamente para a sala, senhorita Minatozaki, ou começará o semestre me devendo mais pontos do que os que tem.

Jihyo virou-se, mas já era tarde demais. A feição de Tzuyu estava dura novamente, os olhos totalmente apagados. Ela não esboçou reação com a presença de Sana. Pelo contrário, a olhou de cima a baixo com frieza e ergueu a cabeça. O que havia restado de sua amiga havia ido embora novamente.


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