Capítulo 17

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Tzuyu respirou fundo e saiu de seu carro com um desgosto mais do que evidente na face. Ela olhou com olhos fulminantes para duas vizinhas fofoqueiras que espionavam porque uma professora, que mais parecia um carrasco do limbo ou desenho juvenil, estava na casa dos Minatozaki' s, uma família respeitada e que se orgulhava da educação e postura das filhas. Boa coisa não devia ser.

Uma erguida de sobrancelhas foi o suficiente para que ambas as senhoras desistissem, por agora, de espionar uma possível fofoca quentíssima para movimentar o bairro. Nunca tinham nada o que falar daquela família, não queriam perder a oportunidade. Mas pensando melhor, era melhor perder a oportunidade do que os poucos fios de cabelos verdadeiros que restavam. A mulher não parecia estar de brincadeira.

Depois de se certificar de que as duas velhas feias foram enviadas de volta para o inferno que saíram, ela se permitiu observar a grande residência dos Minatozaki's. Diferente da maioria das casas do bairro, aquela tinha o aspecto mais japonês, com jardim  e tudo. Provavelmente se devia ao fato de que Sana era japonesa, e ela não se mostrava muito fã do país que viviam. Tzuyu não podia culpá-la por isso. Ninguém em sã consciência seria fã daquele país.

Respirou fundo derrotada e caminhou cautelosa até a frente da casa. A porta escura tinha o desenho de uma flor, uma tulipa branca, e aquilo a lembrou vagamente de quando viu Sana pela primeira vez e achou que fosse exatamente isso, uma tulipa branca. Mas se repreendeu antes que deixasse seus pensamentos irem longe demais. Aquilo era errado e arriscado, precisava melhorar. Reuniu coragem após ver que as velhas não haviam voltado e tocou a campanhia dourada.

Ouviu um "já vai" abafado pela porta e esperou. Enquanto isso, reparou no jardim bem cuidado e na grama real, uma raridade naquele lugar, um pouco destruída. Possivelmente, trabalho de Kame- San, a tartaruga da ruiva. Lisa levantou os olhos assim que a porta se abriu.

Quase teve um infarto ali mesmo. Sana  sorriu sem graça, toda suja de farinha e com os cabelos presos em um rabo de cavalo alto. Usava uma regata verde escura e calça jeans preta. Nos pés, pantufas de esquilo. Tzuyu achou que a velhice precoce estava cobrando seu preço pelas batidas incessantes do coração idiota que habitava em seu peito. A menina pigarreou, tímida.

— Boa tarde, senhora Chou. Perdoe meu estado e por favor, entre.

Tzuyu esperava que não tivesse sido óbvia, por isso entrou com a postura intimidadora que sabia lhe pertencer e observou o local. O interior era aconchegante, com um hall redondo e uma escada que levava ao andar de cima. Havia uma porta que Tzuyu supôs ser o armário de casacos e sapatos. Haviam quadros na parede de Sana e sua família, e Tzuyu não precisava de uma lupa para saber qual das duas meninas era a versão mini de Sana.

— A senhora quer colocar o casaco no armário? Temos bast-

— Estou bem. — Falou seca.

Sana se surpreendeu um pouco, mas assentiu e mordeu os lábios.

— Queira me acompanhar até a cozinha, por gentileza.

— Não tão rápido, Sana.

As duas viraram na velocidade da luz para ver um homem, o senhor Minatozaki, descer as escadas com uma feição séria. Tzuyu ergueu as sobrancelhas para ele, que vacilou um pouco, mas logo voltou ao normal. Antes mesmo dele abrir a boca, Sana já parecia estar morrendo de vergonha.

— Senhorita-

— Senhora. — Ela corrigiu com a voz dura.

— S-senhora. — Ele limpou a garganta. — Digo, senhora. Senhora Chou, Akira Minatozaki, pai da Sana. Peço desculpas já, minha esposa Myu lida melhor com isso, mas ela teve que sair com a irmã mais velha de Sana.

— Mina. — Falou séria. Ele se surpreendeu, mas assentiu.

— Isso, Mina. Bem, eu queria pedir para que tente ensinar minha filha a voltar com as boas notas. Ela nunca teve problemas nas matérias que a senhora leciona, não entendo o porquê disso agora.

Tzuyu controlou o impulso de responder. Não daria certo.

— Dessa parte cuido eu, senhor Minatozaki. O senhor pode voltar aos seus afazeres.

Akira não se orgulhava do medo que o olhar da professora lhe causava, mas a mulher era intimidadora demais. Ele não culpava Sana por se distrair, mas sorriu amarelo e deu um tapinha no ombro da filha.

— Faça tudo que a senhora Chou disser e não tire notas baixas, ou vai se ver comigo mocinha. — A frase foi dita em tom de brincadeira, mas Tzuyu fechou a cara e não gostou de como ele ameaçou Sana.

— Papai. — A menina falou envergonhada. — Não tenho mais 5 anos.

— Você sempre vai ter 5 anos para mim. Vou trabalhar, se cuide.

Ele deu um beijo na testa da menina e saiu após pegar uma pasta no armário junto com um casaco. Sana se virou, ainda envergonhada, e indiciou a cozinha.

— A senhora quer cookies? Acabei de fazer. — Timidamente, colocou uma bandeja cheia deles na mesa. — Desculpe pela minha aparência e-

— Sejamos diretas, Minatozaki. — Ela, apesar de surpresa, queria acabar logo com isso. — Diga-me porque estou aqui.

— Como? — Perguntou confusa.

— A senhorita queria ser lecionada de verdade, porque não conseguia ficar sem uma base extra. Mas acabou, e se quer mesmo jogar esse jogo, então tudo bem.

— Se a senhora acha que estou ameaçada, se enganou muito. — Aquilo surpreendeu ambas. — Não pedi pela minha "base extra", a senhora me ensinou assim e se quer tirá-la, agradeço. Mas aja como uma professora primeiro e cumpra o que a senhora Jihyo prometeu.

Ela lhes serviu dois copos com leite e se sentou a mesa. Olhou nos olhos da professora e viu que ela a estudava minuciosamente.

— Ok então. — Falou calma, e sorriu diabólica. — Que os jogos comecem, Ruivinha.

— Mal posso esperar, senhorita Chou.

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