O lado vazio do sofá - 10

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2 anos e 6 meses antes.

Você já parou pra pensar como sua vida teria sido completamente diferente se você não tivesse feito tal coisa? Se você não tivesse feito amizade com a menina da casa ao lado, ou até mesmo ter ido patinar com os seus pais ao invés de ter ido para uma festa que todos os seus amigos foram? Tudo poderia estar completando diferente agora.

Eu pensava nisso todos os dias. Eu pensava se eu tivesse agido mais rápido, se eu não fosse tão inocente ao ponto de imaginar que alguém chegaria a tempo de nós ajudar. Mas não, ninguém chegou, agora só me restava as lembranças dos seus gritos de dor e agonia.

— Você se lembra de como começou? — Fui trazida de volta dos meus pensamentos com uma lanterna em meus olhos, olhei para o homem de jaleco branco e o encarei, ainda estava confusa e ele pareceu entender e saiu.

— Só lembro do som dos trovões, o resto é tudo muito bagunçado.

— Acho melhor deixar ela descansar... Você também precisa descansar um pouco, eu fico com ela. — Margot falou, tentei focar minha visão mas foi em vão, tudo estava em desfoque e um lado do meu ouvido era somente zumbido.

— Vou dormir com você essa noite amor, pode descansar, eu vou estar bem aqui se você precisar...— Ela se deitou ao meu lado e eu apoiei minha cabeça em seu ombro.

Depois de uma dose de morfina e conversa jogada fora com Margot, o travesseiro e a cama do hospital parecia fofinho e sem perceber adormeci. Pensei que teria uma noite tranquila, depois de cinco noites mal dormidas pelas queimaduras e pelos pesadelos...

O ar parecia rarefeito, pouco se mexia e já perdia o fôlego. Quente, muito quente, parecia que a cada segundo estava chegando cada vez mais perto do núcleo da terra. Em certo ponto, o calor foi tamanho que senti minhas roupas serem queimadas. Desesperada me debatia de um lado para o outro tentando apagar o fogo que me consumia, tentava gritar, mas nada saia.

Acordei com Margot me balançando e dizendo para me acalmar e que agora estava tudo bem, mas ainda sentia as feridas latejando, ainda conseguia ver a pele escurecendo conforme o fogo espalhava pelo meu corpo, minha pele ardendo cada vez mais.

Tudo não passava de um sonho, ou melhor, de uma lembrança. Uma lembrança que ficaria marcada no meu corpo para sempre, mas isso parecia de menos no momento, eu realmente não conseguia tirar os rangido do assoalho, o barulho estrondoso que a pilastra de madeira fez quando foi consumida pelo fogo ardente.

Um mês depois da saída do hospital

Já havia se passado dois meses desde do incêndio, mas só depois de quatro semanas eu tinha conseguido manter a consciência por tempo suficiente para conseguir conversar normalmente com alguém. Os policiais já não precisavam do meu depoimento porque já conseguiram concluir a causa; problema na fiação e o apagão que ocorreu naquela madrugada iniciou tudo.

Depois de um mês no hospital, consegui a alta, meu pai e Margot não saíram do meu lado. Ficamos na casa do lago, em um geral era agradável e a atmosfera do lugar fez os "pesadelos" diminuírem consideravelmente.

— Você quer ajuda com o curativo? — Margot perguntou e me deu um beijo rápido nos lábios, sorri mas neguei com a cabeça. — Por quê? Lembra que o médico disse que era melhor ter uma ajuda do que tentar fazer sozinha e fazer errado.

— Você sabe o porquê

— E você sabe que eu não vejo o menor problema nisso, pra mim você não mudou nada amor, você continua a mesma. — Se sentou no meu colo e entrelaçou seus braços em meu pescoço. — Você continua sendo a minha gostosa de sorriso meigo e gentil.

Cruel Summer - Kendall x You Onde histórias criam vida. Descubra agora