Querida Amy Winehouse,

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-- De certa forma, você parecia saída dos anos 60, como Janis e Jim, ou dos anos 90, como Kurt; sua audácia era de outra época. Quando seu primeiro álbum foi lançado, você ainda tinha um ar inocente, de uma garota bonita que dizia se achar feia nas entrevistas. Mas quando seu segundo álbum saiu, você tinha inventado uma personagem. Subia ao palco de vestido, bebendo, com o penteado enorme e delineador à Cleópatra; cantava com uma voz que emanava do seu corpo magro. Você usava roupas como se fossem uma armadura, mas, nas músicas, se abria totalmente. Estava disposta a se expor sem se importar com o que as pessoas pensavam. Eu gostaria de ser assim.

-- Você sempre foi ousada, mesmo quando criança. Foi expulsa do curso de teatro em Londres quando tinha dezesseis anos por fazer um piercing no nariz e porque não "se esforçava". Normani me contou isso. Ela também não se esforça, mesmo que os professores sempre digam que é muito inteligente.

-- Hoje, em vez de esquecer o uniforme da educação física, Normani sugeriu simplesmente cabular a aula. Ela disse que Dinah cabularia a dela também e que a mãe de Dinah ficaria no trabalho até tarde, então podíamos comprar alguma bebida e tomar na casa dela. Questionei um pouco se devíamos beber de dia, mas liguei para meu pai mesmo assim.

— Vou para a casa da Dinah estudar depois da aula, então vou chegar um pouco mais tarde, tudo bem?

— Tudo bem — ele disse. E então fez uma pausa. — Estou orgulhoso de você, Camila. Não é fácil passar pelo que passou, mas aí está você, vivendo a vida.

-- Ele parecia sincero ao falar, e era mais do que havia dito em muito tempo. Meu estômago pesou com a culpa. Eu me perguntei o que ele pensaria se soubesse o que realmente íamos fazer.

— Engoli em seco.

— Obrigada, pai — disse. E desliguei o mais rápido possível.

-- A caminho da loja, Normani cantou "Valerie", porque, entre as que você canta, é a preferida de Dinah. Normani disse que você tinha o melhor estilo de todos, Dinah disse que você tinha tatuagens de pin-ups, e Normani disse que você teve um caso com algumas, mas acrescentou:

— Amy não era lésbica. Não sem um pouco de bebida.— E então riu.

-- Eu me perguntei se era o que Normani achava de si mesma.

--Quando chegamos ao mercado, a tempestade grudava as folhas na calçada. O melhor jeito, Normani explicou, é ficar parada do lado de fora da loja, fazendo pose. Quando um cara passa, você olha para ele daquele jeito. Então você dá o dinheiro a ele e, quando voltar e perguntar o que você quer fazer, é só pegar a garrafa e correr. É muita adrenalina. Dinah disse que Normani é quem faz isso melhor, e que os caras sempre aparecem quando ela olha. Mas Normani me fez tentar. No fim, apareceu um sujeito com rabo de cavalo e calça jeans com XTC escrito nela. Parecia um roqueiro de vinte anos atrás. Preparei meu olhar, e ele me notou e deu oi. O segredo é fazer parecer que ele vai ganhar algo em troca do favor. Foi o que Normani disse. Fiquei nervosa, mas tentei não demonstrar.

-- Então, quando estávamos paradas do lado de fora esperando ele voltar, vi Olivia, uma amiga da minha antiga escola. Ah, não, pensei. Meu coração disparou. Ela estava de mãos dadas com um jogador de futebol bonito, que vestia uniforme do Sandia. O cabelo dela estava perfeito, penteado para trás com uma faixa, a saia curta na medida, meia-calça combinando e galochas. Eu me perguntei o que ela estava fazendo ali. Olivia não é do tipo que mata aula. Então me dei conta de que, àquela hora, as aulas já tinham acabado. Tentei virar para ela não me ver, mas era tarde demais. Os olhos de Olivia pousaram em mim e congelaram.

— Oi — murmurei.

Ela olhou para o garoto com quem estava, e eu me perguntei se ficava constrangida de falar comigo.

Cartas de amor aos mortos (Camren) -  Ava DellairaOnde histórias criam vida. Descubra agora