Querida Janis Joplin,

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   Acabei de voltar da minha primeira escapada noturna. A janela estava
emperrada, mas consegui abrir. Para minha sorte, é daquele tipo basculante pelo qual é fácil passar. Dá para ouvir a tia tay roncando um pouco, então está tudo bem. Não tinha nenhuma festa hoje, por isso fomos para o Garcia’s Drive-In, que fica aberto a noite toda. Pedi uma soda, Harry pediu dez taquitos, eles fumaram maconha no carro e Louis colocou sua música para a gente ouvir. Foi a primeira vez que vi alguém fumar maconha e também a primeira que te ouvi cantar.

   Sua voz parecia um sussurro, tomando conta de mim
lentamente. E Louis cantou junto, com os olhos fechados e as luzes do
neon entrecortadas pela janela refletidas no rosto. Fiquei preocupada que ele ou Harry fossem me oferecer o baseado, porque não saberia o que fazer. Prestei atenção em como eles fumavam, para fazer igual, caso precisasse. Mas quando Harry se inclinou para o banco de trás, Louis tirou o baseado da mão dele e disse:

-- Não vamos corrompê-la.

Harry retrucou:

-- O quê? Faz parte da educação dela, né, amor? Louis deu um tapa no ombro dele e disse:

-- Vamos ficar só na parte musical.
Harry olhou para mim, deu de ombros e comentou:

— Desculpe, docinho. Não posso contrariar a patrão.

   Mas devo ter ficado chapada só com a fumaça no carro. Pela maneira
como você e Louis cantaram “Summertime”, parecia que eu estava totalmente imersa na música. Não havia mais nada em volta. Você me fez sentir o que é o verão de verdade. Sob o brilho do sol, você sabia que havia uma camada quente e obscura. A música era como uma despedida, e também dava para sentir isso. Agora é outono. Setembro está quase no fim. E então aconteceu o seguinte: perguntei a eles, tentando soar bem casual, se conheciam Lauren. Desde que esbarramos um no outro no corredor naquele
dia, fiquei esperando acontecer de novo, mas ainda não rolou. Ela acenou para mim durante o almoço outro dia, quando me pegou olhando. Achei que louis  e harry pudessem saber alguma coisa sobre ele. Fingi que não estava perguntando com muito interesse. Mas é claro que fiquei vermelha e deixei escapar uma risada, e eles imediatamente perceberam. Harry começou a cantar:

“Docinho está apaixonada!”.

   Louis contou que Lauren foi transferida porque foi expulsa da antiga escola. Disse que ela não fala sobre isso, então ninguém sabe ao certo o que aconteceu. Disse também que ela anda com os maconheiros, mas não fuma nem cigarro.

-- Ela é legal, de verdade -- ele continuou. -- Bem legal. Todo mundo
acha.

Harry decidiu que devíamos ir até a casa dela, para eu ver. Procurou o
sobrenome de Lauren (Jauregui) no celular de Louis e a encontrou. Louis
disse que seria meio estranho, mas harry riu e garantiu que seria
divertido. Secretamente, eu estava muito empolgada para ir até lá.
Estávamos longe da escola, em um bairro onde as casas são menores e
feitas de tijolo ou com telhado de latão. A maioria dos jardins era
bagunçada, havia girassóis com caules emaranhados, peças de carros
velhos e tocos de árvore. Mas, na casa de Lauren, tudo parecia perfeito. O
telhado de latão era mais brilhante que os outros, como se alguém o tivesse polido. E havia fileiras e mais fileiras de calêndulas no jardim, em dois grandes canteiros. Havia um capacho de boas-vindas e uma guirlanda na porta, além de duas abóboras do mesmo tamanho, uma de cada lado, ainda que fosse cedo para o Halloween. Vi que havia alguém do lado fora. Uma mulher de roupão, regando as flores com um regador verde-claro. Eram
duas da manhã. Quando estávamos indo embora, vi outra pessoa abrir a
porta e, quando olhei para trás, achei que era Lauren.

Beijos, Camila.

/TL

Cartas de amor aos mortos (Camren) -  Ava DellairaOnde histórias criam vida. Descubra agora