Seattle- WA, julho de 1988
- E aí Liza? Como está se sentindo sabendo que amanhã Ted volta para casa?
- Ah, Zana, eu nem sei o que pensar! Eu só sei que esse negócio de vício é uma luta constante e o Ted vai chegar limpo, mas nunca se sabe por quanto tempo vai ficar assim. Ainda mais agora que está sem emprego e sem banda! Não sei como ele vai estar.
- Bom, eu sei como isso funciona. Desde que estou namorando o Andy essa é a terceira vez que ele se interna. Ele até aguenta por um tempo, mas depois começa tudo de novo.
- Isso é horrível demais, amiga! O pior é que o meio em que eles vivem rola isso direto. Como vai ser para eles resistirem? Começam com a bebida, cigarro, maconha e quando vão ver, estão fazendo tudo de novo.
- O Ted se internou como uma prova de amor por você! Largou a banda que era o que ele mais gostava de fazer, parou com a vida dele para se internar. Não pensa em dar uma chance para ele?
- Eu não posso desprezá-lo e ainda gosto dele, não vou negar. Só estou ressabiada depois de tudo. Voltar a confiar vai ser o mais difícil. Vou ver como ele está primeiro e vou deixar o tempo decidir por nós.
- Bom, eu escutei o Stone dizendo que os caras do Green River não encontraram um novo vocalista e contam com a volta do Ted. Isso pode deixar ele contente e tendo a banda e você de volta talvez faça bem para ele.
- Eu não sei se queria ele de volta na banda, Zana! Eu acho que preferiria que ele tivesse um emprego comum e voltasse para faculdade. Eu não estou muito animada, sabia? Não sei o que esperar. Achei melhor não criar expectativa.
- Vai buscá-lo amanhã na clínica?
- Não! Vou esperar ele aparecer! E você? O Andy também deve voltar por esses dias, não é?
- Vou buscá-lo semana que vem em Bainbridge. Estou ansiosa e ele disse que quando voltar vamos marcar o casamento.
- Você o ama de verdade, não é?
- Sim, Liza. Tenho certeza de que o Andy e eu nascemos um para o outro. Todos da minha família o adoram e torcem para gente ficar junto.
- Que bom! Ter o apoio de uma família deve ser muito bom mesmo!
- Você se sente sozinha por isso amiga?
- Abandonada seria o termo correto. Meus pais se mudaram para Miami e vivem viajando. Nunca estou nos planos deles. E minha irmã Lauren por ser aeromoça mal pára em casa. Ficou de chegar essa semana, mas não é costume dela cumprir o que promete.
- Sente falta deles, não é?
- Eu não sei bem o que eu sinto mais, Zana. Fico pensando que deve ser tão legal ter uma família com a casa cheia com pessoas que esperam ansiosamente para que você volte para casa depois de um dia estressante de trabalho. Um abraço de um filho ou de uma mãe são sempre tão importantes. - a moça diz cabisbaixa e Zana chega a conclusão que o namoro de Liza com Ted é apenas uma forma de suprir uma carência. Por se sentir muito solitária a garota por mais que tente não criar expectativas a respeito do noivo, tem ainda esperanças de que ele mude de opinião quanto a ter um lar e uma família.
No dia seguinte....
- Como assim a Liza não está, Nancy? Eu disse que chegaria hoje! - Ted saiu da clínica e chegou a casa da noiva, mas foi recebida pela empregada Nancy que lhe decepciona ao dizer que a garota não está em casa.
- Ela foi buscar Lauren no aeroporto. Ela chegou hoje do Canadá.
- A tal irmã aeromoça? Entendi! Bom, posso levar minha mala para o quarto da minha noiva? Eu estou louco para tomar um banho e trocar de roupa. A viagem foi chata de Gig Harbor até aqui, ainda mais com esse calor.
- Errr...a Liza não me avisou que você viria para ...
- Morar aqui??? Como não? Eu disse a ela que assim que saísse da clínica eu a procuraria para nos casarmos. Ela sabe que não tenho mais a casa em que eu morava sozinho, para onde mais eu iria? Com licença, o quarto dela é no andar de cima no final do corredor a esquerda, certo?
- Err... sim, mas... - Nancy não consegue terminar sua fala e Ted a deixa falando sozinha indo em direção ao primeiro andar da casa instalando-se no quarto de Liza.
- Espero que nossa casa ainda esteja do mesmo jeito. Você não mudou nada né Liz?
- Não, Lauren, ainda está do jeito que nossos pais deixaram e o seu quarto é o mais intacto.
- Hahaha, adoro te irritar com isso. E as novidades? Há quantas andam o seu namoro com o Ted Maguire?
- Simplesmente, não anda! Ele está desde o começo do ano em uma clínica de recuperação para dependentes químicos, inclusive sai hoje.
- Mas, vocês não estavam noivos??? Bem que eu achei estranho que não te vi usando a aliança.
- Estamos em uma situação indefinida, na verdade. Eu estou esperando ele voltar para gente conversar direitinho e...bom, eu tenho que dar um tempo e ver como ele vai se comportar daqui para frente.
- Mas, você gosta dele ainda, não gosta?
- Gosto! Eu gosto e sinto falta dele, mas ... o problema é confiança. É tão difícil você amar uma pessoa e não confiar nela plenamente depois de tantas decepções.
- E quanto a essas decepções....existiu traição? Quero dizer, você alguma vez soube dele com outra garota?
- Não, isso nunca! Eu acho que de tudo, isso é a única coisa que ele não faria... Pelo menos, é o que eu penso sobre tudo isso!
San Diego - CA, julho de 1988
- O que está lendo aí, Eddie? - Bruce, o guitarrista da Bad Radio questiona o rapaz que após o ensaio ficou concentrado em uma notícia do jornal.
- Impressionante! Estou lendo uma matéria do Texas. Um jovem de 15 anos tirou a própria vida atirando contra a cabeça em plena sala de aula, na frente de todos os colegas.
- Caralho, fiquei sabendo disso aí. Por que será que ele fez isso?
- Aqui diz que os colegas testemunharam que ele era um rapaz muito tímido e quieto, sem muitos amigos. Nem conheciam a voz dele. E a diretora disse que ele era filho de pais separados e constantemente tinha problemas com ele. Parece que a mãe nem comparecia as reuniões de pais e mestres.
- O cara era solitário, sem amigos e se sentia rejeitado pelos pais. Putz! Não aguentou e deu cabo da própria vida. Mas, por que será que ele escolheu fazer isso assim?
- Acho que quis chamar a atenção para ele ao menos uma vez. Como se dissesse "para vocês saberem que eu existi um dia e se lembrarem de mim para sempre."
- Isso é muito triste... e deprimente! - diz enquanto amassa uma bituca de cigarro.
- Aqui também diz que alguns colegas relataram que vez por outra ele era ridicularizado pelos populares do colégio. Caramba!
- Ficou impressionado mesmo, hein?
- Não, é que me lembrei de algo que aconteceu um tempo atrás quando eu era um babaca e fiquei zoando um ex colega de escola porque ele era gordo. Teve um dia que ele reagiu me dando um soco e me disse o quanto eu era escroto. Me arrependi tanto daquilo e nunca mais agi daquela maneira. Ele ainda reagiu me agredindo, mas e esse....Jeremy Richardson...olha o que ele fez, que tragédia!
- Se ele queria ser lembrado, vai ser.... - Bruce conclui. - Isso merece uma música.
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State of love and trust - amor e confiança
FanficEncontrar forças para aceitar o amor em tempos difíceis, poder confiar em si mesmo e nas suas próprias decisões e afastar as dificuldades impostas quando surge o amor verdadeiro eram alguns dos enfrentamentos dos jovens rebeldes dos anos 90. Mas, o...