X.| Despedida

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Dia de partida, dia triste. Dia em que a saudade domina, a melancolia persiste.

De mala de viagem ao lado, a rapariga estrangeira preparava-se para apanhar o avião que a levaria de volta ao Luxemburgo. Tinha sido uma estadia enriquecedora, do ponto de vista cultural e pessoal. Um país que quase não ocupava espaço nenhum no mapa, ali perdido num canto da Europa, tão rico e tão diverso. De gentes amigáveis, onde a cidade, a praia e o campo se encontravam, culminando numa multiplicidade de ambientes, tantos que parecia que Emma visitara umas quantas dezenas de nações.

Paraíso à beira-mar plantado, Ocidental Praia Lusitana, Portugal. Um Portugal, embora visitado em novembro de 2023, transportara a turista através do tempo, pelos caminhos de uma História antiga, já cantada há quase um milénio. A pluralidade da sua cultura, tão sui generis, para sempre na memória da jovem ficaria guardada. E de Matilde, Cristina e Francisco, nunca se esqueceria. A hospitalidade com que a receberam, como se fosse uma prima bem-vinda há muito distante, a alegria e a boa disposição que se vivia naquela família. Amizade já construída, no ano seguinte seria a vez da portuguesa conhecer a terra-natal de Emma, como ditava o programa de intercâmbio.

- Vem cá! - Exclamou Matilde, convidando a amiga a dar-lhe um abraço apertado de despedida.

O miúdo olhava de lado, enojado. Porque é que as raparigas tinham sempre de ser tão carinhosas? Abraços? Beijinhos? Já não lhe bastava os que as tias, no Natal, lhe davam! Mesmo assim, não deixou de fazer um cumprimento com as mãos com a turista.

- Gostei de te conhecer, Emma. - Disse a mãe dos dois adolescentes, numa melancólica fala solene.

- Também gostei de vos conhecer. - Retorquiu a luso-luxemburguesa. - Agradeço a vossa amabilidade. Nunca me esquecerei desta viagem!

Viagem. Tal como há uma chegada, há sempre uma partida. No entanto, a jovem não regressava à sua terra da mesma forma que de lá saíra: vinha mais completa, mais conhecedora de outras realidades. Sapiência que só o contacto entre culturas fornecia. Poucos dias passara no país ibérico: mas esses escassos dias, de tão ricos que foram, transformaram-se em muitos. Era óbvio que não tivera tempo suficiente para absorver tudo o que havia em Portugal. Gostaria de ter ficado mais uns tempos com aquela família, naquele território. Mas estava na hora de partir. Compreendia, agora, o significado daquela palavra intraduzível, típica da língua portuguesa: saudade.

Emma dirigiu-se para a porta de embarque, olhando para trás. Portugal, 2023. Primeira visita ao estrangeiro, viagem de uma vida.

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Monte, 2023

Portugal, 2023Onde histórias criam vida. Descubra agora