Capítulo 3: NA-64

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O fim da reunião marcou o início de diversos procedimentos que cada integrante da equipe precisava fazer. Por isso, assim que saíram da sala de reunião, foram interceptados pelos seus superiores e se dividiram, cada um seguindo o seu. 689 seguiu a Capitã 43.

Com sua indicação, fez o processo de cauterização de sua roupa, e se reabasteceu na cápsula vital. Em sua cabine pessoal, olhou por alguns instantes o espaço que até aquele ponto de sua vida, foi o único que sempre conheceu.

— Creio que você não vai sentir falta daqui, 689. — A Capitã 43 disse na soleira da porta.

— Não, eu acho que não.

Mas era mentira, ele sentiria falta daquele pequeno cubículo onde morava desde a sua concepção, só não sabia disso ainda. Bom, seja como for, depois de todos os preparativos pessoais e checkups de sua saúde, 689 encontrou-se novamente com sua equipe e foram levados até seu novo veículo.

Subiram para o hangar 4, onde na garagem haviam dois veículos pousados no lado de fora da Corporação. Um deles era elegante, completamente negro e com um design limpo, tinha luzes laterais azuis e uma bela fileira de armas de proteção. O outro, parecia uma caixa de metal, com um olho na frente e uma trombeta na bunda.

Os quatro, que agora andavam juntos guiados pelas indicações de suas A.I. auxiliares, ficaram observando tão atentamente os veículos que não perceberam um supervisor se aproximando.

— Olá, sou Supervisor 470 de naves do sub setor. Fui indicado que em sua equipe todos possuem licença para pilotar. Se isto está correto, me mostrem suas licenças.

Eles estenderam as mãos direita e viraram o pulso para cima, que logo emitiu uma luz formando um holograma da licença.

— Certo. Então, me acompanhem para o veículo destinado a vocês, a NA - 64.

Se dirigindo à frente deles, usou seu cartão de aceso para abrir uma imensa porta que dava para o lado de fora da Corporação.


Scanner: Gravidade 0

Ativando estabilizadores de mov. do traje 689


689 estava pela primeira vez naquela imensidão do espaço, onde a escuridão o cercava. Seu traje passou a parecer mais pesado, pois criava uma certa sucção na sola das botas para que ele não saísse voando sem destino pelo espaço.

No início, 689, 672 e 690 tiveram dificuldades de se movimentar, e pareciam mais rígidos em seus movimentos. Mas depois, se acostumaram, ou talvez, não deram mais importância àquilo, principalmente ao perceberem que se aproximavam de seu primeiro veículo.

Os três chegaram perto da porta de entrada da nave negra e aguardaram.

— O que estão fazendo aí? — Gritou 421 que estava junto do supervisor e perto da nave que lembrava um caixote.

A voz dele, quando em alto tom, parecia mais robotizada.

— A nave! — Disse 690, sem saber ao certo como explicar o que queria dizer.

— A nave não é essa daí, venham logo! — Respondeu 421.

E quando viram que o supervisor abria a porta de entrada para o caixote velho, perceberam que aquela rústica construção era seu veículo. Rapidamente foram para o lugar certo, mas ao entrarem levaram um susto.

A NA - 64 era pequena demais para eles, parecendo apenas um corredor estreito e enferrujado, onde no fim havia o painel de controle (que incrivelmente ainda funcionava mesmo parecendo antigo). No corredor, disposto como jogo de tretris, havia dois beliches para os 4 dormirem, um computador de bordo e uma mesa.

— O que é isso? — Havia incredulidade no tom de 672.

— A espaçonave que vocês irão conduzir nos primeiros meses. Creio que estava claro no contrato que no começo, os recursos serão reduzidos. — "Ah, sim, o contrato que eu não li inteiro..." — Mas a NA-64 está em ótimas condições, foi revisada recentemente.

Os três olharam o espaço ainda em silêncio.

— Bom, então nos mostre onde podemos pegar nossa primeira missão. — Disse 421 que não parecia nada abalado com a situação em que estavam.

O supervisor foi então, explicando cada parte da nave, não que ela fosse muito grande para ter muito o que explicar, e mostrou o painel central onde poderiam comprar itens, e pegar missões.

— Então é isso. Como esse é um modelo mais antigo, vocês terão que descansar nessas estruturas aqui — apontou os beliches — e plugar o câmbio de energia diretamente em vocês. Quando deitados vão encontrar o câmbio na parede ao lado.

Houve uma pausa em sua fala, talvez esperasse algumas dúvidas, mas todos, exceto 421, tinham acabado de terem suas esperanças esmagadas e por isso, nada poderiam dizer. 689 sentiu algo se quebrando dentro de si, uma sensação que não podia explicar, mas a via também em seus colegas.

— Certo, creio que qualquer dúvida vocês podem contatar a Corporação, estamos sempre à disposição. Agora, se me permitem, vou me retirar para que possam decolar.

Este saiu da nave deixando apenas o grupo. A situação não era como 689 esperava, e ele pensou por alguns segundos em abandonar o navio, mas a ideia de voltar ao maçante treino o fez encarar a realidade.

421 ficou passando a mão sob o local do capacete que seria seu queixo, até resolver dizer algo.

— Então vamos ver o que temos aqui. — Olhava no computador central as missões ranque 1 disponíveis. — Parece que temos aqui uma viagem para Assurance. Quota 130. Só precisamos coletar itens, e vendê-los até atingir a Quota. Teremos 3 dias, e esse planeta eu já fui, é bem tranquilo, sabe, poucas adversidades.

690 sentou-se na cama de um beliche olhando o chão. Os outros dois nada disseram.

— Ora, vamos pessoal! Animem-se! Não vamos ficar com essa nave para sempre, é só até termos dinheiro suficiente para mudar para outra. Então que tal começarmos logo?

689 percebeu que 421 queria amenizar a situação, e resolveu que essa poderia ser a melhor opção, ganhar dinheiro para terem melhores condições. O problema não era a nave ser pequena, e sim o fato de que não possuía os recursos mais básicos, como uma cápsula vital para carregar os corpos celes, ou uma cabine de reparos para membros danificados.

"Bom... teremos que nos virar com o que temos, pelo menos por enquanto."

E assim, decidido a se juntar ao bonde da positividade 689 disse:

— Certo, é isso mesmo. Vamos começar o quanto antes, o que pode dar errado, não é?

690 e 672 ainda pareciam desanimados, mas ainda assim, concordaram com um aceno de cabeça. Concordaram pois não havia outra opção, era pegar ou largar. Um deles foi até a porta da NA-64 e a fechou, emitindo um alto rangido.

421 escreveu as coordenadas e levantou o câmbio de decolagem. A nave não tinha acentos, mas isso não era necessário pois viajava por buracos de minhoca no espaço, não tendo solavanco algum. A falta de qualquer tribulação durante a viagem, e a ausência de janelas dava a impressão de que não tinham nem sequer se movido.

Em questão de minutos, estavam na órbita de Assurance. 689 colocou a mão no câmbio e fez o pouso. Instantes depois a porta se abriu sem aviso algum, e só assim, perceberam que ela funcionava com um dispositivo hidráulico, tendo uma contagem regressiva de 100 segundos quando estava pousada. Se olharam e logo entenderam que caso fossem perseguidos por alguma forma de vida daquele lugar, teriam 100 segundos de segurança antes da porta se abrir automaticamente.

689 engoliu seco. Não sabia se aquele planeta tinha formas de vida evoluídas ou não. Teve vontade de perguntar à 421, mas não conseguiu dizer nada, pois estava mudo com o que via. 

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