Capítulo 9: confiança e amizade

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O negro acinzentado do céu, deixava a cor laranja dos trajes que usavam, ainda mais gritante, e os fazia parecerem laranjas ambulantes. Um oficial desconhecido, usando uma vestimenta amarelo néon, fiscalizava a NA-64 por dentro e fora. observando tudo e fazendo um checklist. 689 se apressou e parou, enfileirado ao lado dos colegas.

Com o olhar rápido, leu os números em suas roupas. Lá estavam: 421, 672 e um terceiro, celes 700. Ao ler o último número, sentiu-se desapontado.

A fiscalização demorou pouco, até porque as condições daquela nave não eram as melhores, e caso admitissem isso, a Corporação teria mais prejuízos. Bom, como a chance de sobrevivência nas missões daqueles celes eram baixas, a empresa designou uma nave que se fosse perdida, não causaria tanto prejuízo.

Portanto, fazer vista grossa era a solução. Ninguém da Corporação se importava realmente se alguns celes sumissem no espaço, ou explodissem por alguma falha mecânica. Celes são feitos para serem descartáveis.

Por isso, terminada a rápida fiscalização, a equipe entrou e se acomodou da melhor forma que pode, naquela lata de ervilha gigante que fedia a metal enferrujado. O ruído da ignição deu a partida, e eles decolaram entre sacolejos e guinadas. Navegavam novamente pelo desconhecido.

Por alguns minutos, ficaram a ouvir o som do monitor antiquado batendo na mesa devido ao tremor da nave.

Sem que nada fosse dito, os quatro sentaram-se frente a frente, dois em cada beliche, esperando que algo fosse dito. Havia uma distância entre todos os membros e o celes 700, que foi deixado mais de lado, tal como um corpo infectado. Três membros tinham certeza de quem eram, de que estavam com seus colegas da missão anterior. 

Mas o celes 700 era um intruso, alguém novo, que poderia vazar a dissonância no comportamento geral dos outros.

Ele poderia ser um dedo duro, faria com que todos ali perdessem suas memórias, ou fossem descartados caso percebesse que todos tinham erros em seus sistemas.

Todos os três pensavam em silêncio em uma forma de coexistir com aquele sem deixar que falhas em seus sistemas fossem descobertas. Mas o problema não era só isso, pois também tinha a saudade daquele membro, que apesar de ser o mais inconsequente, era o que mais se fazia presente com suas bobeiras. 

690 fazia muita falta.

- Eu coloquei para nossa rota Assurance novamente. - 421 tomou iniciativa.

Suas mãos tremiam debaixo das espessas luvas. Alan se lembrou dos últimos dias de seus amigos da equipe anterior.

- Certo celes 421. Creio que conseguiremos atingir a meta. Poderia me informar qual o valor atual? - Perguntou o 700.

- Atualmente a quota é F$200.

- Bom, e quanto ao saldo?

- Nosso saldo infelizmente está negativo. Temos um débito de F$1200.

- O que?! - Celes 700 se levantou indignado.

- Sim, por conta dos reparos que fizemos. - 421 também se levantou ficando frente a frente com o outro.

689 e 672 apenas assistiam sem saber o que aquela situação poderia gerar.

- E que reparos foram feitos?! Essa nave ainda parece uma lata de lixo voadora!

- Olha, eu entendo que seja difícil compreender, mas tivemos que reparar nossos membros... isso até é uma questão que me faz pensar o que você está fazendo aqui? Nós reparamos celes 690, então porque você está aqui?! - 421 esticou-se mais, procurando não parecer intimidado.

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