Capítulo 5: segundo dia

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 O silêncio penetrava em cada canto da nave naquela noite. No início do dia, haviam 4 celes ali, agora restavam apenas 3. O fato de que aquela fora a primeira missão, e que era considerada fácil e de baixo ranque, deixou 689 preocupado com os seus próximos dias, já que um dia havia causado uma baixa.

Culpou seu eu do passado que não havia lido o contrato por completo antes de assiná-lo.

— Certo, então eu vou me plugar agora. — Avisou 421 cortando o silêncio.

— Como assim?! E eu? E a minha perna?! — Gritou 672 apontando para o ferimento.

— Ah, verdade, verdade, tinha esquecido disso. — Se aproximou do companheiro no chão e colocou a mão em seu ombro. — Infelizmente vamos ter que amputar.

— O QUE?!

— Hahahahah! O desespero dele! — Riu 421 olhando para 689, mas este estava sério.

— Vocês estão muito tensos! Tentem relaxar! Ainda temos mais alguns dias para fechar a quota, e vai dar tudo certo. — Reafirmou 421 pegando um kit de primeiros socorros em uma das comportas da nave.

— Vai dar tudo certo? Você é louco?! 690 morreu! 672 tá ferido e você diz que vai ficar tudo bem?! — Gritou 689 nervoso.

421 olhou para ele sem nada dizer, mas abria e fechava sua mão, provavelmente contendo a energia que ali surgia, bem como a vontade de dar-lhe um murro. Depois foi até o ferido, rasgou sua calça e começou a tratar o ferimento. 672 gemeu de dor quando a gaze limpa tocou o corte perto do osso exposto.

— Você sabe o que tá fazendo? Sabe fazer isso à moda antiga? — 698 olhava de canto de olho o processo sentindo seu estômago protestar na visão do sangue.

— Eu sei, eu sei! No treinamento eles ensinavam muito mais coisa do que vocês podem imaginar! Hoje em dia vocês não vivem sem uma cabine vital... bom, 672 se prepare que agora eu vou aplicar a morfina, para arrumar o osso e colocar uma tala.

— Ele vai ficar de tala? Quão primitivo é isso?! — Exclamou 689 indignado.

— Você tem uma sugestão melhor?

— Não temos nenhum spray reconstrutor? — Perguntou já procurando pelos compartimentos da nave, o comum spray que cicatriza instantaneamente qualquer ferimento, reconstituindo até os ossos.

— Não... vamos ter que bater o quota dessa missão e conseguir um pouco de dinheiro para comprar.

A morfina penetrou a pele, saindo pela agulha.

— Sério cara? Não acredito que foi 690 que morreu, ele era o mais legal. — Reclamou 672 enquanto via o líquido entrar em seu corpo.

— Como assim ele é o mais legal?! EU sou o mais legal, olha só, quem mais poderia te remendar senão eu? — Falou 421 e logo depois ouviu um som de CLAC do osso sendo colocado no lugar certo.

— Me poupe, você só pensa na missão. — Retrucou 689 irritado.

— Mas é pra isso que estamos aqui! — Soltou um suspiro que ao ser transmitido pelo capacete, pareceu um som mecânico. — E pensar que não recuperamos o corpo de 690...

— Como assim recuperar o corpo?

— Quando alguém morre, é melhor trazer o corpo de volta pra nave para não termos baixas no salário final. — Explicou 421.

— Vamos perder dinheiro por não ter pego o corpo dele? — 672, agora sem dor, se focou no assunto.

— Perder dinheiro?! O 690 morreu e você só pensa em dinheiro?! — Gritou 689 sem poder aceitar o que ouvia.

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