Capítulo 8: reparação

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— 1, 2 testando.

Uma imensa luz forte era apontada em sua face cegando-o. Podia sentir seu calor na pele. O eco da voz robótica repercutia o ambiente completamente branco. A sala não possuía separação entre a parede, o teto ou o solo, sendo impossível discernir seu tamanho ou altura. 

Se não fosse pela cadeira abaixo de si, sentiria que estava flutuando. Nas pernas, braços e tronco, grossas tiras o prendiam. Estava imóvel, obrigatoriamente imóvel. Haviam outros na sala, o som do eco de seus passos iam e vinham ao seu lado, mas sua face também estava presa, olhando diretamente para a luz que o cegava. Seus olhos ardiam e lacrimejavam.

— 1, 2, testando. — Repetiu a voz. A única que falava diretamente com ele. 

Esta vinha de fora, e era transmitida por um alto falante na ponta do cômodo. 

— 1, 2… testando… certo. Corpo Celestial 689, se apresente. 

— Celes 689 senhor. Modelo 3 da disposição beta, de fluxo normal. 

— Certo. 

Houve um clique no auto falante seguido de silêncio da voz. Ao seu redor, outros andavam olhando-o de diferentes ângulos. Sentia suas presenças. De repente, uma sensação estranha veio de seu braço. Alguém o perfurava com uma agulha. Dedos gelados pressionavam um catéter que entrava lentamente sob a pele. 

— Celes 689 estamos coletando algumas amostras para verificarmos sua composição geral. — A voz do alto falante disse, e logo depois outra picada no outro braço veio. 

— Sim senhor. 

— Agora nós vamos começar um teste, será algo simples, você só precisa dizer exatamente o que lhe vem à cabeça.

Sentiu que ao redor, alguns se aproximavam. Seu coração começou a pular no peito. 

— Sim senhor. Mas quero informar que estou sem meu traje senhor, não tenho minhas ferramentas básicas comigo. 

— Não se preocupe Celes 689, o que eu vou te perguntar é muito simples. Certo?

“Lembre-se de responder como a programação dita, lembre-se da programação! Nada de palavras estranhas ou gracinhas! Você é só mais um! É fácil, é só não pensar muito!” 689 se concentrou mais, procurando não transparecer seu nervosismo. 

Sabia que aquele teste poderia definir como seus dias continuariam. Caso não passasse, o que seria dele? Não tinha certeza, nunca tinha feito teste como aquele, desnudo que qualquer traje ou roupa e amarrado à uma cadeira. Nem mesmo podia ver com quem estava falando, e não se lembrava de como havia chego ali. 

 Mas sabia que o que era testado era sua mente, estavam à procura de falhas ali. Caso houvesse, o procedimento ele conhecia bem, perda de memória e possível descarte. Tais possibilidades o apavoravam. Queria continuar existindo, mesmo que não conseguisse colocar sua vontade de viver em palavras, ainda assim, queria continuar.

No entanto, em sua situação, onde nem se lembrava como havia chego ali, via-se atado. Tudo o que recordava-se era que estava andando em um longo corredor depois de se separar de 421, e então sentiu uma dor forte em seu pescoço, e sua visão escureceu. Quando acordou estava ali, amarrado, nu e cercado de outros.

— Vamos começar. Pergunta 1: quem é você? 

“O que? Porque essa pergunta?”

— Sou celes 689 senhor. 

— Certo… pergunta 2: em que ano estamos? E quanto anos você tem?

— Estamos no ano 1067 depois da invasão, e tenho 4 anos desde de minha inicialização. 

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