Eye for an eye

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Os dedos calejados de Baelon, acostumados ao peso de uma espada, agora se moviam com uma ternura surpreendente enquanto ele acariciava os cabelos finos e prateados da menina. Naerys era tão pequena, tão frágil em seus braços. Ela estava cansada, os olhos pesados de sono, mas se recusava a dormir

—Você sabe...— ele começou, a voz baixa e suave como um sussurro — você se parece tanto com sua mãe, meu pequeno amor.

Os olhos dele, profundos e ainda marcados pela dor - ou pelo sono, fixaram-se no rosto quase adormecido da bebê. Naerys tinha as mesmas feições suaves de Alyssa, o mesmo arco dos lábios, o mesmo queixo, o mesmo sorriso.

—Assim como ela— ele continuou, — você tem o coração gentil dela... e aquele sorriso pequeno e doce que fazia o mundo inteiro parecer menos cruel, mesmo que você seja meio desdentada, sabe? Você ainda é bem banguela. — Baelon riu baixinho.

Ele respirou fundo, sentindo o peso das lembranças se acumular sobre seus ombros e nas bolsas abaixo dos olhos. Alyssa. A simples menção do nome dela fazia sua garganta apertar, mas ele persistia, sabendo que, se não a mantivesse viva através das palavras, a memória dela poderia desaparecer como o vapor em uma manhã fria.

—Sua mãe era doce, acredite ou não—ele disse, — mas também era valente. A mulher mais valente que já conheci. O tipo de coragem que não se encontra em espadas ou armaduras, mas aqui— ele tocou de leve o peito da filha com um dedo — no coração.

O príncipe da Primavera continuou a caminhar, o movimento lento e ritmado, quase como se dançasse uma dança silenciosa nos corredores. A luz das tochas vacilava nas paredes, mas não os deixava no breu.

A pequena Nys começou a se entregar ao sono aos poucos.

—Quando soubemos que você estava a caminho, foi uma alegria, assim como foi com seus irmãos. Aí você nasceu, e você veio uma menina — ele murmurou, a voz quase falhando — Sua mãe chorou. Chorou de felicidade. Nós sempre quisemos uma menina, sabe? Sempre quisemos alguém como você. Os Sete sabem como oramos.

Ele parou, os olhos brilhando à luz trêmula, e deixou escapar um suspiro entrecortado.
—Ela disse... ela disse que você seria a criança mais bonita de toda Westeros. E ela estava certa.

Os dedinhos de Naerys, pequenos como pétalas de flor, agarraram-se à gola do gibão de couro de Baelon, e ele sentiu o peso do sono finalmente vencê-la. Sua respiração se tornou lenta, estável, e ele a apertou um pouco mais contra si, como se temesse que ela pudesse escapar de seus braços, como Alyssa havia escapado.

— Ela teria sido tão orgulhosa de você— ele sussurrou, enquanto lágrimas silenciosas ardiam em seus olhos. — Minha doce, doce menina.

O quarto da princesa era pequeno, mas acolhedor, de frente para o de Baelon e, assim como dos irmãos e da prima, dela e somente dela, com tapeçarias delicadas nas paredes, tapeçarias escolhidas a dedo: o dragão prateado, Meraxes, estava estampado na parede atrás do berço da menina; próxima do trocador, havia uma tapeçaria de Dreamfyre e Asaprata. Uma lareira ardia suavemente, enchendo o espaço com um calor tranquilo, acima dela, havia a tapeçaria de Vhagar e Meleys, com Caraxes ao fundo. Baelon atravessou a sala com passos cuidadosos, inclinando-se para colocar Naerys em seu berço de madeira esculpida.

—Sonhe com dragões, nuha atrokisara — ele disse, baixinho, enquanto puxava um cobertor bordado com o brasão Targaryen sobre o corpinho adormecido dela.

Ele ficou parado por um momento, observando a paz no rosto da filha, tão parecida com Alyssa que seu coração parecia prestes a partir novamente. Então, com um último suspiro, virou-se e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si. A dor ainda estava lá, como uma sombra que nunca o abandonava, mas, por uma breve e preciosa noite, ele sentiu-se em paz.

Antes Maegor do que Aenys Onde histórias criam vida. Descubra agora