In Flames

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A fortaleza da Casa Tully, em Correio, não era nada tão espetacular. Não para a princesa Viserra.

Chegava a ser rude de tão patética, na opinião da princesa.

Um castelo de três lados, rodeado de rios por dois deles, com muralhas de pedra de areia, se erguendo altas sobre as águas, junto da fortaleza em seu interior. A oeste, o terceiro lado ficava defronte a um grande fosso artificial, que, em tempos de guerra, as comportas seriam abertas e o fosse seria preenchido, resultando em Correrrio se tornando uma ilha. As ondas eram tímidas agora, suaves, pois de barulhento já tinha o banquete atrás daquelas muralhas claras.

Nobres e cavaleiros de todas as Terras Fluviais, as Terras Ocidentais, as Terras da Coroa e Terras da tempestade estavam reunidos para um banquete oferecido pelo velho Lorde Edmure Tully, pai do não tão jovem Lorde Grover Tully.

Barris de vinho eram abertos, e pratos de peixe fresco, pão quente e frutas maduras enchiam as mesas. Lorde Edmure, vendo o final de sua vida próximo, decidiu que uma festança - uma última, se os deuses tinham pressa - não faria mal.

A comida não era ruim. Não era mesmo. Embora a comida dos cozinheiros da Fortaleza Vermelha fosse deveras melhor.

Dentre todos os pontos ruins daquele banquete cheio de homens velhos, barrigudos e calvos, haviam ali seus pontos positivos.

Baelon.

O príncipe da Primavera, ao contrário de sua juventude, quando sua risada era alta e sua farra quase indomável, não destacava-se entre os convidados. Este papel estava com o príncipe Aemon, seu irmão mais velho, quem, ao lado de seu pai, o Rei Jaehaerys, compartilhavam da presença do velho Lorde e sua família em uma conversa amena e cheia de risos. No entanto, a atenção de Baelon não estava nos lordes ou no banquete, mas em sua filha mais nova, Naerys - sua Nyssie.

Sentada em seu colo, a pequena de dois anos estava vestida em um vestido de linho azul-claro, bordado com peixinhos prateados em homenagem aos anfitriões, ela mexia em um pedaço de pão macio, parecendo mais interessada em despedaçá-lo do que em comê-lo.

-Nyssie, o pão é para comer, não para espalhar por todo o salão!- Baelon disse com uma risada contida, tentando evitar que os farelos caíssem no chão.

Naerys levantou os olhos grandes, liláses e brilhantes para o pai, sua expressão confusa e divertida ao mesmo tempo. Em um movimento que só a filha de Alyssa poderia fazer, ela atirou um pedacinho na direção dele, rindo enquanto Baelon fingia surpresa.

-Você ousa desafiar um príncipe, pequena?- ele perguntou com um tom dramático, puxando-a para mais perto e enchendo seu rosto de beijinhos. Ela gargalhou, um som tão puro que parecia iluminar o salão inteiro, mas, principalmente, o coração de Baelon.

Seus filhos eram os únicos que podiam trazer luz aos seus olhos agora. E Nys, sua Nyssie, era a mais brilhante delas.

Enquanto isso, do outro lado do salão patéticamente cheio, a princesa Viserra observava a cena com uma expressão de desgosto - e inveja. Sentada em um banco estofado de madeira entalhada, com as costas eretas e o olhar fixo, a jovem estava deslumbrante em um vestido carmesim com bordados dourados de dragões esguios, serpentinos como Caraxes. Seu cabelo, preso em um coque elaborado com tranças e rubis, brilhava à luz das tochas, mas nenhum desses esforços parecia ter efeito sobre Baelon.

-É insuportável!- ela murmurou para si mesma, com o cálice de vinho apertado em sua mão - Ele mal levanta os olhos daquela... daquela menina burra e porca.

Lorde Grover Tully, que estava próximo, ouviu o comentário e ergueu uma sobrancelha. Com seus cabelos ruivos levemente grisalhos e um rosto marcado pelo tempo, ele torceu os lábios finos:
- Sua sobrinha é encantadora, princesa. E o príncipe Baelon parece ser um pai dedicado. Não é uma qualidade admirável?

Antes Maegor do que Aenys Onde histórias criam vida. Descubra agora