Capítulo 20

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Não soube quanto tempo ficou parada com os olhos focados naquela carta, lendo e relendo inúmeras vezes, mas a dor das palavras lidas ainda persistia. Só queria acordar daquele pesadelo, mas as lágrimas e as fungadas que dava mostrava o quão real aquilo era.

Olhou para lua e fechou os olhos, mentalizando seus olhos, seus sorriso e o som da sua voz, se lembrou de cada momento vivido ao lado dela, cada pedacinho de Enid veio a tona com a indução das lembranças.

A presença de uma mão repousando na própria atraiu atenção, fazia tempo que não via Thing, o fiel amigo estava igual a todos os integrantes da família, desolado. A mão permaneceu sobre a minha, dando ao seu modo um conforto.

A aproximação da mãe foi percebida, era raro ela pisar nos terrenos do cemitério, principalmente se estivesse trajada com um robe de cetim. A mulher de cabelos negros tão parecidos com os meus se sentou no chão, o som dos grilos mostrava o quão mórbido era a sinfonia da noite.

— Hoje eu entendo a dimensão do amor entre a senhora e meu pai — Morticia lhe encarou — Porque eu sinto o mesmo por ela, e tá doendo muito, mãe.

Fitou a matriarca, a mais velha estava com os olhos marejados, estava pela primeira vez desabafando e falando sobre sentimentos com ela.

— Enid conseguiu me mudar, ela abriu meus olhos para algo bonito e que eu nunca imaginei ter, que foi a capacidade de amar outra pessoa — Fungou e baixou o olhar para a carta — Mas agora nada disso importa.

— Wednesday, quando amamos alguém, estamos nos permitindo abrir o coração para decepções, dor e angustia — Notou sua compaixão pela intonação que suas palavras carregavam — E quando perdemos um amor, dói... Mas isso não significa que não vai passar, o tempo vai se encarregar de te dar consolo, querida.

— Eu não acho que vá...

— Pode demorar, Wednesday, mas não é para sempre... As lembranças jamais vão embora, a saudade fica, mas a dor diminui com o tempo.

....

Quando dois dias se passaram, a fixa de que a ausência seria permanente começou a cair. A casa era regada dia e noite pelo silêncio, a alegria que exalava das crianças havia desaparecido.

Às vezes o silêncio só era quebrado pelos choramingos de Brutus, que olhava para a porta na esperança de que Enid fosse passar por ela, todos os dias encontrava o cachorro deitado com os olhos fixos na entrada. Ele não queria comer, brincar, nada lhe chamava atenção, tudo o que ele fazia era esperar.

Williams se isolou como tinha imaginado, ele ficava no quarto quieto, lendo um livro ou desenhando. Estava ficando preocupada, pois o menino simplesmente não queria falar, fazia exatos dois dias que não escutava a voz dele.

O café da manhã era regado de olhares em direção a Emma, infelizmente sua semelhança física com Enid trazia um pouco de incômodo. Não conseguia ficar no mesmo ambiente que a cunhada, e quando a mesma tentava falar algo, simplesmente fugia e não conseguia encará-lá.

O som da campainha assustou a todos na mesa do café, resolveu ir ao encontro dos novos visitantes, arrastou a cadeira causando um enorme barulho. Os olhares me seguiram até que eu sumisse da vista de todos.

Estávamos no aguardo por respostas, e ao abrir a porta e dar de cara com Eugene e Cheryl, viu que elas haviam chegado. O olhar foi em direção à ruiva, que tinha grandes olheiras, diria que a mesma, assim como eu, tinha perdido alguns quilos.

Eugene trocou um olhar com Cheryl, um olhar que só os dois seriam capazes de entender. Percebeu Otinger incomodado com algo, mas ele tratou de expulsar qualquer coisa que estivesse na sua cabeça para começar a falar.

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