Capítulo 43

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"A angústia é uma sensação complexa que afeta todos de uma maneira diferente. É junto dela está os amigos, ansiedade e medo. É estranho estar cercado de pessoas e mesmo assim está se sentindo a deriva, já fez diversas vezes a comparação com os oceanos, mas a verdade é que depois da galaxia, ele era o inexplorado mais intenso.

Talassofobia, este é o nome para quem tem medo dos oceanos, chegou a conclusão de que adorava as sensações de conforto que ele trazia, o som das ondas batendo na costa, ao mesmo tempo, em que o sol ou a lua refletia sobre as águas. Mas com revigoramento, vinha o receio.

Olhar para aquela imensidão azul sem fim, onde nenhum ser humano jamais conseguiu explorar as profundezas, era sinistro. Podemos colocar o próprio eu como uma profundeza jamais explorada por completo, porque por mais que existam navegadores capazes e ambiciosos para querer nos explorar, somos traiçoeiros e misteriosos o suficiente para não deixar, assim como o mar é em esconder seus verdadeiros segredos.

Como podemos entender a amplitude do que nos carrega? Era esse o questionamento que sempre fazia quando estava angustiada, se controlar, sim, talvez possamos nos controlar para tentar ao menos pensar em como parar as brigas internas que nos cerca. Mas posso contar um segredo, isso nunca funciona.

E sabe por que não funciona? Porque nossa mente é ansiosa o suficiente para não nos deixar pensar em uma solução viável de melhoramento. A ansiedade nos cega e nos levas a lugares onde não temos o controle, é a correnteza do mar, e nadar contra ela é o mesmo que morrer.

Então, apenas deixamos a correnteza levar até que, por fim, nós mesmos nos cansamos e afundamos em definitivo. Porque é assim que ficamos em meio a uma crise, com venda nos olhos, cansamos de lutar contra o fervilhar interno que é os sentimentos."

Tirou os olhos do caderno e olhou para a paisagem na janela, aquelas palavras vieram na mente e tinha começado a escrever.

A lua nos seguia no carro, como um quadro nos segue no museu, a diferença era que não tinha medo da lua. Williams e Chloe estavam entretidos em um jogo de cartas no banco de trás, o filho adorava pôquer, um jogo bem maduro para sua idade, mas quem poderia impedir o belo desempenho que seu cérebro tinha para deixar os adultos no chinelo? Ele era um Addams e tinha a sagacidade de um, Wednesday se orgulhava daquilo.

Quem o ensinou a jogar tinha sido Pugsley, assim como o cunhado também ensinou Chloe. Jogavam às vezes valendo balas ou figurinhas. Mas naquele momento só estavam contando o placar e jogando para passar o tempo até a chegada na casa dos avós. O resultado era um a um, empatados.

Olhou novamente para o caderno e leu o que escreveu, a caneta estava apoiada entre os dedos em busca de mais coisas para expressar com sua tinta.

" O que dizer a uma mente ansiosa? Como fazer com que uma mente ansiosa pare de ser ansiosa?"

Escreveu aquelas duas perguntas e batucou a caneta no papel, duas perguntas que ainda não ia conseguir responder, não quando a própria mente precisava parar para conseguir elaborar uma mera conclusão para aquilo. Por mais que ela fosse inexistente.

— Conheço esse olhar — Wednesday me tirou dos devaneios, ela estava com os olhos atentos na estrada, mas desviou rapidamente na minha direção.

— Que olhar?

— Esse olhar perspicaz — Julgou que ela também estava com um olhar perspicaz — Você usa muito ele antes de grandes coisas surgirem. Foi assim com Clínica, com o livro e com os casos que ajudou o Clark a resolver.

Chloe esboçou um sorriso para o que ouvia, ela concordava com os dizeres de Wednesday, mas não ia se envolver no assunto.

— Eu estou com o olhar normal, Wed.

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