Capítulo 1

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- Juan... anda garoto, acorda. - A voz do treinador Blake chama enquanto me balança e puxa o cobertor. - Eu sei que não está mais dormindo, então trate de levantar e tomar um banho. Tô te esperando na sala.

Aperto os olhos ao ouvir a porta se fechar e logo me viro em sua direção, a minha cabeça dói como se alguém tivesse passado a noite gritando no pé do meu ouvido e o meu corpo inteiro parece ter sido pisoteado.
Saio da cama me arrastando lentamente até o banheiro, meu reflexo no espelho descreve bem a desordem que andava a minha cabeça nas últimas semanas e imagino que o treinador esteja aqui por causa do meu desempenho vergonhoso nos treinos.

Sabe quando sua cabeça pensa em milhares de coisas ao mesmo tempo e elas não chegam a lugar algum? Quando seu corpo se cansa desses pensamentos e pesa como se você tivesse corrido uma maratona?
É exatamente assim que eu me sinto e sendo honesto só não larguei o basquete ainda porque eu prometi a alguém muito importante que faria isso por ela, mas é duro sair de casa todos os dias e ir a um lugar onde todos parecem te odiar e querer ver o seu fracasso.

Eu tomo um banho rápido e visto uma calça de moletom qualquer, saio do quarto pronto pra ouvir todo o sermão do mundo, mas encontro o treinador de costas enquanto dançava e cozinhava alguma coisa, não me contenho e rio da cena.

- Bumbum bonito, Blake. - Brinco e ele me olha feio.

- Sem gracinha hoje. - Pede sem paciência colocando mais uma panqueca na pilha e me entregando. - Sorte sua que ontem eu estava em paz e resolvi a sua bagunça, porque senão você estaria detido e com toda certeza, fora do meu time.

- Se eu perguntar o que rolou pega mal ? - Questiono sinceramente.

- Levando em consideração o seu estado, não. - Assume cruzando os braços e me olhando firme. - O Gabe me ligou às 03:00 da manhã dizendo que você estava descontrolado no bar e não queria ouvir ninguém. Eu corri pra lá encontrei você e o filho do prefeito trocando socos.

Ahh, agora a dor de cabeça e as dores no corpo faziam sentido.

- Merda, eu não lembro de nada. - Sussurro apoiando os cotovelos na bancada e tampando o rosto.

- Claro que não você tava completamente drogado, garoto. - O treinador grita e eu sinto a decepção em sua voz. - Me diz, a quanto tempo tá fazendo isso?

- Relaxa, eu não tô viciado nem nada do tipo. - Explico.

- Perguntei a quanto tempo, Juan. - Ele insiste e eu abaixo o olhar.

- Foi depois do jogo contra a York.

- Cara, isso foi há dois meses. - Blake enfatiza chocado. - Esquece, eu não vou ficar aqui te dando uma aula sobre quão mau isso pode fazer, porque você não é mais criança. - O homem se afasta alguns passos pensativo e logo retorna. - Só quero deixar uma coisa clara, ou você para ou eu mesmo faço questão de encontrar outro ala-armador pra equipe.

Me vendo nessa situação parece que sou só um jovem inconsequente e irresponsável que não pensa no futuro, mas na verdade, o meu maior medo é o futuro. Claro que eu tenho sonhos, só que pensar neles me deixa ansioso e a saída que eu encontrei pra não pensar demais foi essa.
O treinador estava pegando pesado, sabia que o time era a coisa mais importante pra mim e eu faria de tudo pra continuar, independente do que fosse me custar.

- Tá. - Concordo ainda sem olhar pra ele.

- Sabe que eu gosto muito de você, não sabe? Por isso insisto em te ver dando o seu máximo. - Diz me puxando pra um abraço. - Você tem potencial, só precisa colocar a cabeça no lugar, cara.

- Eu sei, mas é difícil. - Assumo o abraçando apertado.

- Para de tentar preencher seu vazio com essas porcarias, isso só vai piorar tudo. - Blake diz sem rodeios.

- Vou parar, só preciso de um tempo longe de tudo pra pensar. - Digo recordando do clima horrível que está no time, apenas entrando em quadra dá pra notar o conflito entre Tyler e eu.

- Não, Juan, eu não vou te deixar sozinho enquanto estiver assim.- Ele alerta. - Você tá abalado e se tiver a chance de usar isso de novo, vai usar. Eu não sou burro, se liga rapaz.

O mais velho me afasta pela cabeça enquanto ri mínimo e ali, naquele momento eu percebi que o treinador Blake de fato era a única pessoa que se preocupava comigo desde que a minha avó morreu.

Daquele dia em diante a minha vida começou a progredir lentamente. Fiquei na casa do treinador por uma semana, ele e sua esposa foram gentis, conversavam comigo como se fôssemos grandes amigos e de certa forma nos tornamos. Com o tempo eu parei completamente de usar qualquer entorpecente e diminuí a bebida, o meu rendimento nos treinos voltou a melhorar junto com o meu psicológico.

Mas a pressão ainda era grande e muitas coisas estavam acontecendo, o jornal da universidade estava na nossa cola para saber alguma polêmica do time; faltavam quatro meses para começar o campeonato estadual, o que fazia todos no campus magicamente começarem a gostar de basquete; e principalmente, um novo semestre estava começando.

Curado Pelo Amor | Romance Cristão  [ Revisado ]Onde histórias criam vida. Descubra agora