Capítulo 36

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- Preparados? Joguem limpo e boa sorte. - O juiz diz alto e apita o jogo.

Eu tento me aproximar da bola marcando o jogador à minha frente, ele ri e se move tentando me desconcentrar, mas quando o rapaz toma impulso eu faço o mesmo e consigo impedir que ele passe a bola. Aproveitando a sobra, um jogador do meu time alcança a bola e parte em direção do garrafão, ele consegue marcar os dois pontos e todos o parabenizam.

- Tá afim de fazer no estilo da Toronto? - Tyler pergunta baixinho.

- Claro, fica ligado que eu direciono. - Aviso passando por ele

- Mas eu sou o capitão. - Resmunga.

- Não aqui, ma boy. - Provoco correndo para o lance.

Por descuido o arremesso de alguém passa baixo demais e eu consigo alcançar, com toda a minha força eu corro de volta à cesta e passo a bola pro mexicano, que faz três pontos.

Durante o primeiro e segundo quarto a minha equipe se entende, nós aprendemos a usar as
habilidades de cada um e agora as jogadas estavam muito mais fáceis de finalizar.

- Juan aproveita a direita. - Uma voz avisa e eu percebo a abertura perfeita.

Esses foram os últimos três pontos antes do juiz apitar e pedir as trocas de equipe.

- Caramba, não vão deixar a gente respirar? - Gabe questiona ofegante ao parar do meu lado.

- Aqui é assim amigo, aguenta firme. - Comento trocando de posição.

Na nova formação foi mais difícil me adaptar, os jogadores eram muito ativos e o meu corpo começava a dar sinais de cansaço.

- Maria, vai no Tyler. - O ruivo aponta.

De frente um para o outro, nós rimos e eu abro os braços sem a menor vontade de deixá-lo seguir, o mais alto passa a bola entre as pernas e quando pretendia lançar, eu consigo dar um tapa na bola.
Gargalho da cara dele e corro a tempo de arremessar e fazer uma cesta perfeita.

- Boa cara. - Gabe assume me chamando pra um toca aqui.

- Boa Juanito. - Tyler murmura me empurrando de leve.

- Vamos lá, não é pra amolecer, não.- Provoco vendo eles rirem.

A diferença de pontos mudava toda hora. Era irritante, mas provava que realmente os jogadores daqui tinham condições de participar da Liga. Tyler consegue fazer uma de suas enterradas e Gabriel marca pontos importantes, da lateral da quadra Blake assistia calado e comemorava minimamente nossas ações.

O jogo terminou com a equipe de Tyler vencedora, nós o cumprimentamos sem ligar pra derrota e apenas conversamos sobre o que aconteceu, diferente dos outros jogadores.

- Foi irado ! Você parece muito maior jogando, cara. - O ruivo comenta pra Tyler bebendo água.

- Verdade, assistir de longe é outra coisa. - Assumo devolvendo o colete para o cesto.

Blake nos chama e avisa sobre a análise física que iria começar, a consulta era com alguns médicos e preparadores. Na sala, eles mediram minha altura, analisaram o físico, a força, a mobilidade e mais um monte de coisas.
Saindo dali, um funcionário me levou até outra sala que estava repleta de repórteres, sem escolha, eu me sento atrás da mesa e me apresento.

- Olá a todos, eu sou Juan Maria. Tenho vinte e três anos e atualmente jogo pela Universidade de Toronto. - Aviso sorrindo sem mostrar os dentes.

- Juan... - Um rapaz se levanta. - O que te levou a jogar basquete?

- Vai parecer ridículo, mas eu era o mais alto da turma. - Digo e todos riem. - No começo eu só participava por isso, mas hoje eu tenho noção que se não fosse por isso e pela insistência da minha Vó, eu não estaria aqui.

Confesso apertando os dedos embaixo da mesa e esperando alguma reação negativa, mas não encontro.

- Porque quer jogar na NBA? - Alguém questiona.

- Sinto que preciso avançar mais um passo. -- Assumo. - Eu sou infinitamente grato pelo que aprendi na Toronto, mas sei que na Liga as minhas habilidades podem ser aprimoradas e lá é onde eu mereço estar.

Respondo e suspiro pesado, não imaginei que seria tão difícil.

- Sobre a matéria que saiu durante a sua participação no Estadual, você não se pronunciou e nem negou as acusações. Como pretende lidar com isso? - Eu escuto em silêncio e peço ajuda a Deus para responder.

- Bom, eu não respondi antes porque a minha atenção estava completamente focada no Campeonato. - Começo devagar. - Sobre o que disseram, partes são verdade e outras, não. Qualquer um que conviveu comigo durante o ano passado sabe que tive problemas, mas aquelas ações não representam nada do que sou hoje.

Digo encarando o repórter nos olhos.
Aquele assunto me doía, era horrível encarar quem eu era antes de Deus, mas se eu estou aqui pra falar do passado é porque passou e eu sobrevivi.

- Eu não posso negar de onde saí, mas posso mostrar o caminho que estou fazendo e aonde quero chegar. - Explico apoiando as mãos na mesa.

- Você não tem medo que isso cause má impressão na mídia e nas equipes? - Ele insiste.

- Claro que tenho, mas não sou exemplo de nada. Eu sou tão falho quanto qualquer um aqui nessa sala. - Confesso. - O que posso dizer pra quem decidir confiar em mim é que eu estou dando o meu melhor, estou lutando e sei que tem um Cara melhor que eu lá em cima cuidando de tudo. Ele é o verdadeiro exemplo.

Finalizo me sentindo orgulhoso, parece que tirei um nó da garganta e pouco me importa se a resposta foi "adequada".
O resto da entrevista foi mais leve, os assuntos voltaram a ser unicamente sobre esporte e fez com que eu me acalmasse.

Horas depois, quando todos haviam terminado, Gabe nos avisa que Blake está chegando e acompanhado.

- Com licença rapazes. - O treinador pede ao se aproximar. - Esse é Leandrinho Barbosa, representante da equipe técnica do Golden State Warriors. - Blake apresenta e nós nos entreolhamos em choque.

- Eh... prazer, Juan Maria. - Digo estendendo a mão para um cumprimento.

- Prazer, ouvi muitas coisas boas sobre você. - Ele diz e percebo que seu sotaque é parecido com o de Samy.

- Eu sou o Gabe. - Avisa sem formalidades.

- Vi seus vídeos, você é rápido rapaz. - Leandro diz sorrindo.

- Tyler, Tyler Cruz. - O mais alto diz com a voz rouca e eu contenho o riso.

- O cara das enterradas. - Ele brinca descontraído. - Muito bom conhecer vocês, eu estava ansioso para vê-los jogando.

- E o que achou? - Blake questiona.

- Bom, muito bom. - O anúncio nos alegra. - E não vou mentir, nós temos interesse em levá-los pra San Francisco.

- Não brinca. - Gabriel murmura e logo cobre a boca.

- É verdade, a diretoria está cuidando das formalidades enquanto eu e o resto da comissão ficamos responsáveis pelos acordos antes do sorteio. - Leandrinho explica com as mãos nos bolsos. - Vocês saberão das nossas escolhas com certeza dias antes da cerimônia, até lá mantenham-se treinando.

- Claro. - Tyler diz num soluço.

- Pode deixar, obrigado. - Agradeço tentando não tremer.

- Muito obrigado, meu amigo, até mais. - Blake se despede com calma e pede silêncio até que estejamos dentro do elevador. - ISSO, CONSEGUIMOS!

O treinador grita se juntando a nós em uma comemoração. Quando a porta se abre, nós corremos pelo corredor alucinados e rimos sem nos preocupar com o barulho. Aquilo parecia um sonho, ainda mais depois da derrota tão próxima à final do Estadual.

"Mas quem sabe sejam apenas os planos de Deus se cumprindo."

Penso sorrindo aliviado.

Curado Pelo Amor | Romance Cristão  [ Revisado ]Onde histórias criam vida. Descubra agora