Capítulo 11

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- Não mano, eu já vou embora! - Peço empurrando o copo de whisky pra longe.

- Ah vai, a última Gabe. - Um colega de curso pede, mas eu não consigo reconhecê-lo.

- Tá, a última. - Aviso e viro completamente o copo sentindo a queimação tomar conta da minha garganta. - Tchau galera, valeu ai.

Cumprimento a todos antes de sair rindo em direção ao carro. Hoje foi uma daquelas festas que eu só participei pra não ficar em casa entediado e pensando bem, nas últimas semanas isso aconteceu muito.
Mas pra sair era sempre uma confusão e quando eu finalmente chegava nos lugares a sensação de vazio me tomava, como se nada do que me divertia antes conseguisse me satisfazer agora.

- Mas que droga. - Resmungo batendo contra o volante.

Não tinha explicação para tudo isso. O Gabe de sempre, alegre, brincalhão e que levanta o time estava sem forças, quase que 100% sugado por alguma coisa.

Ligo o rádio com pressa tentando controlar os pensamentos, porque como se não bastasse a dor de cabeça e a visão embaçada, só o que me faltava era entrar em crise existencial.
Quando identifico o som, automaticamente minhas sobrancelhas se erguem em surpresa. A música daquele cantor estava tocando, aquele que o Juan tem escutado muito e me obrigado a fazer o mesmo.

Confesso que cheguei a segui-lo no Spotify e pesquisar sobre ele. A história do Lecrae é interessante e inspiradora, mas de verdade, acho que isso de ser da Igreja não é pra mim.

🎶

"You can still find a way, find a way, find a way, find a way
Find your way back home
When you feel too far gone
He can still find you"

🎶 *1

- Até parece... - Murmuro sozinho encarando a via sem movimento. - Do jeito que eu tô, Ele mesmo me empurra pro inferno.

Ainda mal humorado, viro a esquina e alguns metros a frente vejo a entrada da Universidade.

🎶
"He can still find you"

🎶 *2

A música repete e no segundo que eu me viro para desligar o rádio, uma luz branca clareia todo o meu campo de visão e com medo eu uso os braços para proteger o rosto.

- Não brinque com o meu nome, filho. Volte para casa. - Uma voz forte fala bem atrás de mim.

- Hãn... - Eu tento falar mas não encontro forças.

A luz se distancia aos poucos e após piscar milhares de vezes, percebo que parei o carro a milímetros do poste. Caso o freio não funcionasse, o acidente seria feio e sabe-se lá o que teria acontecido comigo.

- Mas que...

Fico um tempo parado sentindo a adrenalina se espalhar pelo meu corpo e tentando assimilar o que tinha acontecido. Tudo era muito confuso, eu não sabia de onde a voz tinha vindo, mas ela tinha sido clara e me fez tremer.
O meu peito aperta e a respiração que já estava pesada fica pior. Uma angústia me tomar por inteiro, o carro agora parece apertado, minúsculo e me espremendo cada vez mais.

Eu saio dali correndo e largando tudo pra trás, a minha mente estava paralisada e repetindo aquela frase a cada segundo.

"Não brinque com o meu nome, filho. Volte para casa."

Minhas pernas tremem quando finalmente chego no corredor de casa e com pressa abri a porta em busca do único que pode me ajudar agora.

- Juan, Juan você tá aí? - Grito com a voz rouca.

- Oi... Gabe? - Ele sai do quarto com uma cara de sono. - O que aconteceu, cara ?

- Acho que ele falou comigo, falou mesmo, mano. - Confesso sentindo algumas lágrimas rolarem.

- Ele quem Gabriel, o Blake? - O rapaz perguntou ainda confuso, e eu tomo coragem pra dizer.

- Deus!

Juan fica em silêncio e percebe que eu estou abalado, com calma ele se aproxima e me chama para um abraço. Cansado, o aperto com força e deixo tudo o que sinto ir embora com um choro sincero.
Há anos não me permitia fazer isso, eu guardava todos os meus sentimentos pra mim e usava a bebida como uma pílula da alegria, mas ela não me ajudou por muito tempo e agora eu só queria um abraço desses.

- Tá tudo certo, irmão. Eu tô aqui. - O Maria diz e eu só consigo chorar mais.

Aos poucos eu consigo me acalmar e contar a ele o que aconteceu, o rapaz me explicou que Deus realmente pode falar conosco assim e foi legal ouvir sobre as experiências dele.

- Porque Ele me quer? Eu não tava nem ai pra Ele. - Questiono cheio de incertezas.

- Cara, você nunca vai entender o porquê, mas às vezes Deus enxerga coisas que a gente não vê. Talvez você estivesse precisando de ajuda, ou então Ele quisesse fazer alguma coisa através de você.

- Talvez. - Sussurro. - Mas eu não sirvo pra Ele, só faço besteira e magoo os outros.

- Gabriel, me escuta. - Juan pede e eu me sento no braço do sofá. - Deus não te quer porque precisa, Ele pode muito bem realizar tudo sozinho, mas se "O Cara" te chamou, eu não negaria. - Diz me acertando em cheio.

- Como eu vou fazer isso? - Pergunto sentindo minhas emoções se acalmarem.

- Você, mais do que ninguém, sabe como eu estava ano passado. Ele também me chamou e demorei pra entender como agir, mas eu não parei de tentar. Só vai com calma e não desiste, irmão. - Diz me chamando para um bate aqui.

Faço o que Juan diz e respiro fundo tentando me acalmar, aos poucos nós conversamos e o meu medo parece diminuir. Ainda é difícil de assimilar tudo, seja por conta do álcool que ingeri mais cedo ou por causa dos pecados antigos, mas sei que a minha transformação começou hoje e Deus foi misericordioso comigo.

Curado Pelo Amor | Romance Cristão  [ Revisado ]Onde histórias criam vida. Descubra agora