Capítulo 01 - Aurora

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Para os diretores da SpiderWeb, criar um condomínio de luxo onde seus principais funcionários morem enquanto trabalham em home office parecia uma forma inovadora de conferir liberdade a seus trabalhadores mais valiosos e mesmo assim mantê-los em conjunto. Assim, criaram o Condomínio Jardim do Éden. Um conjunto habitacional com terrenos fartos, um paisagismo exuberante, isolados dos centros urbanos, mas com alguns equipamentos, como quadras esportivas, salões de festas e vários outros para seus moradores não sentirem falta das cidades. As casas, previamente projetadas, eram luxuosas e já vinham com oficinas para seus programadores permanecerem trabalhando, além de piscina, sauna, garagem para dois carros e um belo jardim. Além de tudo, as casas são automatizadas com todas as funções controladas a partir de uma inteligência artificial, desenvolvida pela própria SpiderWeb, é claro.

A proposta, incomum para a maioria dos trabalhadores, teve pouca adesão. Uma das poucas moradoras era Aurora. Morena de lábios carnudos, era um prodígio em unir as áreas de inteligência artificial e robótica. Ela desenvolveu o sistema operacional cada vez mais usado no mundo e o mesmo que controla as casas naquele condomínio. Com vinte e sete anos ela desenvolveu uma inteligência artificial capaz de uma perfeita interação com humanos: o Hominum.

Aurora passa os dias em casa, trabalhando em seu novo projeto enquanto aproveita do luxo, resultado de seu trabalho genial. Naquele sábado ela decide aproveitar o calor na piscina, nos fundos da casa. Deitada de biquíni na espreguiçadeira, percebe uma luz amarela piscando próxima à porta.

— Eva, o que foi?

— Havia me solicitado para avisá-la quando Euclides estivesse por perto. Ele vem nesta direção, no momento.

Aurora se levanta apressada, envolvendo o corpo curvilíneo em uma canga. Entra pelo acesso dos fundos e corre até a frente de seu quintal. Sem cercas ou muros, avista um homem branco, vestindo um uniforme dos funcionários daquele condomínio.

— Boa tarde, dona Aurora, a senhora quer falar comigo?

— Não me chame de dona, você tem quase a minha idade. — responde Aurora, fingindo indignação.

Euclides ri, enquanto evita olhar as curvas da moradora. A leve transparência da canga entrega o corte do biquíni vermelho, assim como a silhueta sinuosa.

— Eu queria te contratar por fora para cuidar das plantas da minha casa. Sei que seu trabalho aqui é só sobre os jardins do condomínio. Será que consegue um tempo para cuidar das minhas plantas?

— Sim, senhora. São só algumas plantas, pelo que vejo, nem precisa pagar...

— Claro que precisa. Isso é por fora do seu trabalho. De novo, pare de me chamar de senhora.

Euclides exibe seu simpático sorriso mais uma vez

— Faz isso deliberadamente, não é?

— A senhora tenta ficar brava, mas só fica mais bonita.

O rosto de Aurora arde e ela se esforça para controlar o sorriso involuntário. Sem sucesso.

— Engraçadinho. Você pode vir algum dia cuidar das plantas?

— Posso, sim, na próxima semana volto aqui. E a senhora não precisa pagar não. É um presente meu.

— Que presente, Euclides. Precisarei do seu serviço várias vezes. Não pode fazer isso de graça.

— Então a primeira é uma amostra grátis. Se gostar eu te dou um valor.

A gentileza do jardineiro impedia Aurora de fechar seu sorriso, mas ela interrompeu a conversa e se despediu quando um carro veio rápido pela rua e entrou em sua garagem. Sem entender muito a mudança de humor repentino daquela mulher, Euclides permaneceu ali, olhando a moradora caminhar a passos apressados até o veículo, de onde saiu um homem, negro, com cabelo crespo na parte mais alta da cabeça e raspado nos lados. A camisa justa não escondia, os músculos daquele homem que abraçou Aurora e a beijou na boca. Euclides pôde ver o homem abrir os olhos durante o beijo e olhar para ele, enquanto apertava a bunda de Aurora, como se quisesse dar um recado a ele.

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