Cap 2

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POV MIA

Confesso que a princípio não estava muito satisfeita em ter que perder meus sábados junto da insuportável da Roberta e aturando crianças pirracentas. Mas me apaixonei naquelas criancinhas. A cada sorriso, cada beijo que eu ganhava aquecia meu coração. Minha vontade é de que todas fossem meu mais novo projeto. Estava decidida a comprar roupas e produtos pro cabelo de todas elas. Definitivamente foi a melhor coisa que fiz nos últimos meses. E bem, a Roberta nem me irritou tanto.

Terminou nosso horário de visita e o professor nos levou pra almoçar. Como sempre foi difícil entrar em um consenso de onde comeríamos. Lógico que a Roberta só quer comer porcarias. Por fim, o professor nos levou ao shopping onde tinham várias opções pra não ter briga.

Henrique: mas Roberta a Mia tem razão. Você se alimenta muito mal. Precisa diversificar sua alimentação além de frituras.

Mia: Ela tem o paladar infantil como a mentalidade dela, Prof.

Roberta: Olha quem fala? Tá aí pendurada nesse celular olhando a rede social das crianças, o tiktok! Deve tá aprendendo a próxima trend com dancinha ridícula. - gesticulou com desdém.

Mia: Nada disso! Estou editando um vídeo que fiz das crianças pra postar. - disse sorrindo esperando aprovação dos dois pela minha grande ideia.

Roberta: Tá vendo como ela só se preocupa em aparecer?! Vai usar a imagem das crianças pra viralizar no Tiktok "ela é toda boazinha, toda do bem... Chata pacas!" imitou o meme da Rita lee.

Mia: Desculpa, professor - abaixei a cabeça e não tive vontade de responder nada. No fundo acho que dessa vez ela tem razão. Eu não deveria postar algo tão íntimo assim.

Henrique: Mia, não acho que seja algo ruim - me olhou falando com carinho - Você postar pode incentivar outras pessoas a ajudarem essas crianças também. Isso é ser um verdadeiro influencer. Influenciar pra algo bom. Só tenta fazer os vídeos borrando os rostinhos das crianças. Tudo bem? - sorri e balancei a cabeça assentindo. - o importante é você não se esquecer que o mais valioso é ajudar as crianças, e não as visualizações.

Henrique: E você, Roberta, só assistir o filme da Barbie não será o suficiente. O almoço da semana que vem será escolhido pela Mia. - ela afundou a cabeça na mesa.

Mia: Que história é essa de filme da Barbie?

Henrique: A Roberta tá doida pra assistir esse filme. Seria um ótimo dever de casa, pras duas, você levá-la pra assistir. Vou comprar os ingressos e deixarei as duas no cinema. Mais tarde passarei pra buscá-las.

Mia: Mas eu já vi esse filme 3 vezes. - argumentei sem receber resposta. Roberta continuava de cabeça baixa na mesa. E eu sem entender nada!

...

POV ROBERTA

Voltando pro colégio, no carro do professor, até ele quebrar o silêncio.

Henrique: E aí, Roberta, me diz o que achou do filme? - respirei fundo e escolhi as palavras pra essa resposta.

Roberta: É difícil admitir, mas o filme é realmente bom. E me peguei com a frase "Eu quero fazer parte das pessoas que fazem sentido, não da coisa que é feita" na cabeça.

Henrique: Você gostou desse dia que tivemos? Estar com a gente fez sentido pra você?

Roberta: Fez, professor! Me senti sendo verdadeiramente útil e com um propósito. Eu vou ao colégio, estudo, porque é uma obrigação a cumprir que o velho decrépito me Impôs. Hoje me senti diferente. Aprendi mais em um dia com aquelas crianças do que no colégio.

Henrique: Fico feliz de você ter aprendido algo com as crianças... e com o filme da Barbie - sorriu tentando parecer sério.

Mia: Agora toda vez que ela me chamar de Barbie, vou tomar como um elogio - rimos os três.
...

POV ROBERTA
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Segunda-feira
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Contei pra Lupita e Josy como foi tudo. E as duas se empolgaram para irem, também, e ajudar. Eu amei, porque assim não teria que aturar a Barbie colegial sozinha.

Entramos na aula do professor Henrique e fomos direto falar com ele sobre a ideia delas ajudarem.

Henrique: eu fico feliz de vocês ficarem animadas e se colocarem a disposição pra ajudar. Mais pra frente posso levá-las também. Mas por enquanto, esse é um "castigo"- disse fazendo aspas com os dedos- que eu tenho que trabalhar só com Mia e Roberta. Se eu levar vocês duas, as minhas duas crianças teimosas não vão interagir entre elas. E o "castigo" perderá o sentido. Entendem?

Roberta: Olha, professor, eu sei que você quer a qualquer custo fazer com que a gente se dê bem. Mas assim, posso prometer não falar mais com ela, não dirigir mais a palavra pra não brigarmos. Mas amizade, não vai acontecer. Desista!

Henrique: De qualquer forma é algo que eu já combinei com seus pais. E vamos terminar essa missão.

Virei as costas batendo o pé e Lupita veio atrás.

Roberta: eu não aguento mais, lupita. Eu não tanko essa menina. Tudo nela me irrita... a voz, o jeito. Ela respirar me irrita!

Lupita: eita amiga. Assim vou começar a achar que esse ódio é amor.

Roberta: Pelo amor da santa que você é devota, Guadalupe! Juro que paro de falar com você  se você repetir isso de novo.

Lupita: Desculpa, amiga. Mas a Mia não é tão ruim assim. Você teve uma primeira impressão errada dela. A mim ela sempre tratou muito bem. Ela tem esse jeito patricinha, mas tem um coração muito bom.

Roberta: Eu sei, mas não consigo... E bem... você não é a primeira pessoa que fala isso.

Lupita: porque ela é realmente uma boa pessoa!

Roberta: Não só sobre isso! Mas sobre meu ódio ser amor. - ri de nervoso.

Lupita: ah eu iria shipar muito "Romia". Mas o elite way school não teria estruturas pra um casal desses! - Josy se junta a nossa conversa, em um dos corredores do colégio.

Josy: Que casal?

Lupita: Mia e Roberta. Não seriam um casalzão?

Josy: O Que? VOCÊ FICOU COM ELA? - a mais alta gritou com uma expressão que misturava indignação com surpresa.

Roberta: Fala baixo! - sussurei entre os dentes - Claro que não! É só a Lupita fanfiqueira vivendo no mundo da imaginação. Isso não tem a menor possibilidade de acontecer!

Josy: você quase me matou do coração. Já ia ligar pra sua mãe pra te internar num manicômio.

Roberta: já pode ligar. Acho que vou precisar quando terminar esse "castigo".

Fomos pra sala de aula...
E eu não prestei atenção em absolutamente nada! Meu caderno só tinha rabiscos com tentativas de "La Catrinas" e em todas coloquei uma estrelinha na testa.
Bem, eu não sei bem qual a minha sexualidade.
Já fiquei com meninos e também com meninas em festinhas, dos meus amigos do antigo colégio, mas foi mais de curtição do que qualquer outra coisa. Mas gostar, até então, só gostei do Diego, que se demonstrou um verdadeiro imbecil!

Só que a gente não manda no coração. Será que meu ódio pela Mia é na verdade interesse? Eu devo ter algum fetiche por bonequinhos de plásticos. Preciso conversar com a terapeuta ou com um psiquiatra. - enquanto pensava nisso, desenhei mais uma estrelinha na testa em uma das Catrinas.

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