𝘊𝘩𝘢𝘱𝘵𝘦𝘳 8

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Inglaterra, Londres - um ano atrás

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Inglaterra, Londres - um ano atrás

Samantha Adams

  Ele não apareceu mais.

  Minha ideia de trocar todas as portas e fechaduras do meu apartamento tinha dado certo até o momento. Não via mais a varanda aberta, não recebia mais bilhetes perturbadores e minha paz tinha voltado. A não ser pelo cachorro de Blake que latia toda manhã incansavelmente.

  O vadio do andar de cima continuava a espreita, sempre aparecendo no meu caminho, surgindo durante minhas caminhadas matinais e até mesmo aparecendo na porta da minha casa para reclamar do volume da minha TV. Meu ódio por ele crescia cada dia mais, a cada momento ele estava ali, do meu lado, com aquele olhar sombrio que carregava e o seu mau humor desgraçado. Quanto mais você deseja que algo suma da sua vida e não apareça, mais presente ela se faz.

  Tirando esse fato, tudo estava indo bem, voltei a trabalhar em home office e as vezes dava uma passadinha pelo escritório. Antoine, meu chefe, me alertou sobre um futuro lançamento importante da nova revista e que esperava muito de mim nessa temporada. Nem eu esperava tanto de mim, quem dirá ele.

  Mas antes das sete eu já estava em pé, havia feito meu alongamento matinal e depois tomado um café simples e rápido. A roupa para a caminhada já estava em cima da cama, e o relógio apitava para o início do exercício aeróbico. Parecia que até minhas energias e disposições estavam melhores. Pena que não duraram muito tempo.

  Eu saí do apartamento, fechando a porta com aquele barulho seco que parecia ecoar pelo corredor vazio, que era sempre mais silencioso que um funeral. Davis, o porteiro, estava sentado na recepção, como sempre com aquela expressão sonolenta e o jornal amassado nas mãos.

— Bom dia, Davis. — murmurei, apressada. Não estava com tempo para conversas casuais. Ele levantou os olhos dos papéis, sorriu com a mesma simpatia de sempre e balançou a cabeça em cumprimento.

  Na rua, o vento da manhã parecia mais cortante do que o habitual, mas o céu limpo dava um tom de calma à cidade. As árvores balançavam preguiçosamente e, por alguns segundos, me deixei perder no som do trânsito a minha volta. Sentia meu corpo leve, como se as coisas finalmente estivessem entrando nos eixos. Aquele ar fresco me fazia bem, limpava a cabeça das paranoias e dava um respiro entre os dias corridos que haviam passado.

  Comecei a caminhar pelo quarteirão, ouvindo o som abafado dos meus tênis contra o asfalto. Uma ou outra pessoa cruzava meu caminho, sempre com pressa, e eu apenas seguia o ritmo, tentando não pensar demais. Os trinta minutos passaram rápido, e logo eu já estava de volta nas entradas do edifício.

  Naquele tempo, eu seguia firme com minhas caminhadas. Me ajudavam a espairecer, não pensar demais e nem a enlouquecer e acabar sendo internada no CAPS por alucinações. Hoje em dia, claro, não caminho mais. Dá pra ver pela mudança de personalidade.

𝐌𝐑. 𝐌𝐀𝐒𝐊𝐄𝐃 | 𝙻𝚘𝚗𝚍𝚘𝚗Onde histórias criam vida. Descubra agora