capítulo 2

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"Quem se importa se mais uma luz se apagar, quando há um céu com milhões de estrelas a brilhar? Quem se importa se o tempo de alguém acabar, se somos apenas um momento? Apenas passageiros?

Eu me importo."

One more light, Linkin Park

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Entrar em meu quarto nunca foi tão difícil.

Encarar a minha bagunça particular com cada pedaço recheado de lembranças de Rebecca e eu, me causa náuseas. Sentar em minha cama me faz lembrar de quando passávamos nosso tempo assistindo filmes, jogando xadrez, lendo quadrinhos, nos beijando, transando, amando uma a outra ou até mesmo dormindo juntas. Ela gostava de me abraçar e ficar em silêncio com a cabeça em meu peito, ouvindo os batimentos acelerados do meu coração, que eram totalmente direcionados a ela.

Sentar em minha mesa faz com que eu lembre dos dias em que eu tentava estudar e ela usava a minha escova de cabelos para irritar-me.

E eu simplesmente amava.

Mas a escrivaninha também me faz lembrar das vezes em que ela me ajudava a estudar biologia, já que eu era péssima nessa matéria e ela era incrível. Eu tentava a todo custo prestar atenção na matéria, mas o que realmente tinha a minha atenção, era ela.

Sentar no chão me faz lembrar das vezes em que comprávamos quebra-cabeças em nível hardcore para montarmos juntas. Ás vezes, passávamos um, dois, até três dias tentando montar um, mas nunca desistíamos pois eramos um time. Tinhamos sempre uma a outra, e independentemente de tudo, nós nos ajudávamos. Uma era o suporte da outra.

Agora eu me pergunto se eu havia deixado de ser o seu suporte.

Olhar para a janela faz com que eu tenha mil e uma lembranças que me causam uma nostalgia imensa.

Lembro de quando sentávamos nela e ela cantava músicas para mim com a sua voz angelical. Seu sonho era ser cantora e musicista, e eu me sinto péssima por não ter feito o possível e impossível para fazer com que o tempo acelerasse para ela finalmente realizar seu sonho, por mais que seu trabalho árduo na faculdade e canal do YouTube - uma plataforma criada há alguns meses - já fossem o suficiente para que conseguisse certo sucesso sozinha. Ela tinha cerca de dez mil seguidores, e ela dizia ser o suficiente, pois apenas por saber que existiam pessoas que gostavam de escutar sua voz, o seu trabalho já estava sendo reconhecido.

Ao olhar para a janela, lembro de quando ela me segurava em seus braços e me lembrava que o céu continuava azul.

Ao pensar nisso agora, eu só quero achar uma máquina do tempo para voltar há dois dias atrás e dizer a ela que o céu não estaria azul para sempre. Que a partir do dia que ela se fosse, tudo iria perder suas devidas cores, sua beleza, felicidade, liberdade.

Que todos os pássaros e borboletas seriam presos numa pequena gaiola: que as ondas do mar deixariam de vir em ciclos para desaparecerem nas águas frias do oceano; que o sol se esconderia e deixaria de iluminar a lua; que os dias seriam mais escuros que as noites, e as noites mais escuras que a falta que ela faria; que dos desertos brotariam torrentes, que as florestas secariam, que o mundo viraria um cemitério de solidão e almas perdidas.

Lembro de quando ela parava pela noite em frente a janela e jogava uma pedra nela, por mais que meus pais dissessem que ela poderia vir em casa a qualquer horário. Quando eu levantava o vidro e enxergava o seu cabelo coberto pela touca da blusa de frio cair sobre sua testa enquanto você sorria com toda a sua arcada dental para mim, os óculos redondos destacando o formato grande de seus olhos, eu me apaixonava mais ainda, como na primeira vez em que te vi.

O céu ainda está azul // freenbecky Onde histórias criam vida. Descubra agora