capítulo 6

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"Gosto das cores, das flores, das estrelas, do verde das árvores, gosto de observar. A beleza da vida se esconde por ali, e por mais uma infinidade de lugares, basta saber, e principalmente, basta querer enxergar."

Clarice Lispector.


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Vida.

Uma palavra tão pequena, mas que é capaz de carregar tantos significados.

Duas silabas e dois pares de vogais e consoantes, que representam mais de dezoito bilhões de seres.

Para alguns, a vida é um ciclo com início e fim, onde ao decorrer dela temos que ser levados por um sonho para que ela passe a ter sentido. Para outros, os mais professos, ela é ajudar ao próximo sem esperar nada em troca, pois, talvez, assim suas almas serão libertas ao chegarem no juízo final.

Há quem diga também, que a vida é algo sem sentido, um ciclo perturbador que não vale de nada, pois, no fim, todos acabaremos no mesmo lugar: apodrecendo debaixo da terra.

Eu nunca tive realmente uma concepção sobre a vida, eu sempre a vivi sem questionar, pois eu só estava fazendo o mesmo que todos: aprendendo a sobreviver.

Então quando eu vi Rebecca pela primeira vez, foi isso o que enxerguei naquela criança de doze anos: uma sobrevivente.

Na época, eu não sabia nada sobre a vida, apenas passava as tardes observando a vizinhança através da janela do meu quarto, e foi quando eu vi que ela chegou em sua nova casa no carro da sua mãe com um caminhão de mudanças atrás, que eu entendi o porquê de cada pessoa ter concepções diferentes sobre a vida....

Porque umas acabam antes do tempo, por mais que os corpos ainda estejam em campo gravitacional.

Observei os seus olhos tristonhos e sem rumo encararem a casa nova, enquanto colocavam os móveis para dentro. Naquele momento, as primeiras coisas que passaram pela minha mente, foram: Quem é ela? Por que se mudou pra cá? Será que é uma sobrevivente? Talvez eu devesse dar as boas vindas.

Eu aguardei as coisas serem colocadas dentro da casa para que, assim, eu pudesse cumprimentá-lo. Perto das sete horas da noite, a mãe de Rebecca saiu de casa com um homem, mas a garota não foi junto, a mulher apenas beijou os cabelos dela e foi embora.

Rebecca permaneceu na porta encarando a figura do automóvel da mãe afastar-se, Até que ela entrou em casa quando o carro já não estava em seu campo de visão e fechou a porta atrás de si.

Não demorei muito para estar na frente da sua casa.

Eu tive que bater na porta algumas vezes para que ela me atendesse, e quando ela foi aberta, eu pude finalmente notar o quanto Rebecca era linda.

Ela era um pouco mais alta que eu, além de seus cabelos serem longos a ponto de tocarem perto da sua cintura. Seus olhos vermelhos me encararam sem humor, não demonstrando surpresa e nem receptividade.

Ela notou que eu a estava observando?

Antes que eu pudesse dizer algo, ela deu dois passos para trás e fechou a porta. Eu não entendi a sua reação no dia, e ao voltar pra casa, contei tudo para a minha mãe, principalmente que Rebecca estava chorando. Ela ficou preocupada, principalmente por Rebecca estar sozinha, então decidimos fazer um bolo e convidá-la para ir lá em casa. Ao voltar para sua casa, foi difícil convencê-la a ir conosco, até porque ela ao menos nos conhecia, mas minutos depois Rebecca já estava na minha cozinha, sentada na mesa comigo e os meus pais. A partir daquele momento, ela passou a ir lá em casa todos os dias.

O céu ainda está azul // freenbecky Onde histórias criam vida. Descubra agora