capítulo 11

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"Cedo ou tarde a gente vai se encontrar, tenho certeza, em uma bem melhor. Sei que quando eu canto você pode me escutar"- Cedo ou tarde por NX zero.

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A minha avó costumava dizer que um dia eu deixaria o mundo para trás, e por isso deveria viver uma vida que eu pudesse me lembrar.

Que eu devia aproveitar a minha juventude e todas as nuances dela, aprendendo lições através das lágrimas e criando forças por meio das quedas.

Mas eu nunca levei em conta o que ela me dizia.

Bom, pelo menos até ela me deixar.

Me lembro que foi em um lindo sábado no verão de dois mil e dois que eu me deparei em frente a uma lápide preenchida por flores e um epítáfio vazio, sem qualquer palavra que pudesse definir o que minha família e eu estávamos sentindo naquele momento. Ela era bastante querida, então muitas pessoas foram se despedir.

Para ser sincera, eu não sou religiosa. Nunca achei que seria necessário ir a um velório se despedir de um corpo que sequer tem vida. Para mim, a melhor despedida é estar ao lado da pessoa nas horas mais difíceis, demonstrando apoio nesses momentos.

Foi isso o que eu fiz com ela.

Foi isso o que fiz com Rebecca.

Quando ela partiu, um fragmento do meu ser se foi junto. Ela era uma das pessoas com mais luz que eu conheci em todos esses anos, e doeu perceber que eu não poderia mais ser capaz de abraçá-la e ouvi-la falar sobre os tempos onde ela era criança. Perceber que eu não poderia aprender as mil e uma receitas que ela tinha gravadas na mente em setenta anos de jornada.

Tudo isso foi jogado fora a partir do momento que o seu coração decidiu parar de bater.

Mas eu não fiquei triste. Como se já soubesse que isso aconteceria, ela sempre me preparou, dizendo que não queria nos ver chorando por ela no velório. Me recordo que, em um certo dia, numa conversa totalmente aleatória, ela disse que caso fossem cremá-la, era para fazermos isso com milho dentro, pois enquanto seu corpo fosse incinerado as pipocas estariam pulando lá dentro.

É claro que ficamos horrorizados com isso, rimos bastante naquele momento.

Mas, quando o seu caixão estava dentro do incinerador, apenas foi possível ouvir lágrimas e soluços.

É, A vida é algo tão estranho.

Por que a ganhamos se um dia ela acabará? Qual o sentido disso tudo?

Encontros e despedidas acontecem todos os dias. Enquanto alguns nascem, outros perdem o brilho da vida aos poucos.

Eu acredito veemente que, na verdade, a vida é um castigo. Não tenho uma explicação para a minha teoria, mas não há como ela ser um presente. Até as partes boas que acontecem nela se tornarão ruins por simplesmente desaparecerem ao decorrer dos séculos.

Um dia Freen Sarocha sequer será lembrada, e isso me entristece. Muito menos Rebecca.

Diferente da minha vó, quando becky se foi, eu realmente senti. Senti muito. Senti até eu desejar ir embora com ela, pois não houve despedida.

Foi questão de impulso, e se em um minuto ela existia, no próximo segundo ela não seria nada mais que um cadáver.

Mas, afinal de contas, eu senti porque eu sabia que ela queria continuar vivendo. A minha vó já havia vivido uma vida inteira e aproveitado cada segundo dela, ela já estava preparada, como disse preferencialmente para mim. Mas Rebecca não. Ela ainda tinha muito o que aprender, muito o que aproveitar, muito o que conhecer.

O céu ainda está azul // freenbecky Onde histórias criam vida. Descubra agora